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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, novembro 25, 2014

DIFERENÇAS ENTRE MILITONTOS E MILITANTES PRÓ-DILMA

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O militonto recebe as decisões da presidente da República e não admite qualquer crítica. Quem ousar fazê-lo, é aliado objetivo da direita.
O militante não vacila em apoiar o governo e DEFENDER a presidente, especialmente diante da escalada reacionária. Mas não abdica do direito e do dever de pensar com a própria cabeça, criticando o que lhe parece errado na estratégia adotada e concebendo essa atitude COMO indispensável na ação política.
O militonto tudo explica e justifica através de um pacote fechado e imutável: a correlação de forças no parlamento. Serve COMO uma espécie de álibi para defender o governo de qualquer crítica por adotar políticas conciliatórias, mesmo as que podem ser um tiro no pé.
O militante encara com seriedade a tal correlação de forças, mas com o objetivo de alterá-la a favor da esquerda. Sabe que negociações e composições são inevitáveis, necessárias, mas deseja forçá-las ao limite.
O militonto ficou acostumado a pensar correlação de forças apenas ou principalmente como uma questão institucional, parlamentar. A mobilização social e a luta de massas não entram de verdade em seu cálculos como hipótese para pressionar as instituições desde seu exterior.
O militante não descuida da governabilidade institucional. Mas aprendeu, nesses doze anos e várias crises, que também é imprescindível a construção de governabilidade social. Sabe, a propósito, que as maiorias parlamentares de orientação progressista somente foram formadas, na história do BRASIL, quando o povo organizado e mobilizado obrigou o Parlamento a dançar sua música.
O militonto costuma achar que divide a esquerda quem entra em desacordo com ações do governo. Não admite que, às vezes, pode ser o governo quem divida a esquerda com suas ações.
O militante quer a unidade da esquerda e das forças progressistas. Mas acha que a pedra angular desse processo vai além de apoiar ou não o governo: depende de um PROGRAMA unificador e de uma estratégia de coalizão do campo popular.
O militonto acha que o passado fornece crédito infinito, no PRESENTE e no futuro. Por tudo o que foi feito, e definitivamente não é pouco, o governo deveria ser defendido incondicionalmente e qualquer crítica seria descabida por princípio.
O militante reivindica os enormes avanços promovidos pelo governo e se mobiliza para defendê-los, mas não acha que o passado basta para garantir o PRESENTE e o futuro, que devem ser discutidos sempre com espírito crítico e aberto.
O militonto é superlativo e hiperbólico em relação aos líderes do governo e do partido. Sua frase estruturante: “eles sabem o que fazem…”
O militante respeita e admira os chefes históricos da esquerda, mas a VIDA já ensinou que também são passíveis de erros e confusões. Considera, portanto, que os instrumentos coletivos são mais qualificados que as clarividências individuais e esses só podem ser construídos pelo debate franco e desabrido de todos os temas.
O militonto é governista e acha que isso basta para RESOLVER todos os problemas.
O militante defende o governo contra a direita, mas busca ser um revolucionário, um lutador social, para quem governar é apenas PARTE, ainda que imprescindível, de um processo estratégico mais amplo, o da transformação do país.
*OperaMundi

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