O crime que vitimou 43 jovens no povoado de Iguala, estado de Guerrero, no México ocorreu há mais de um mês. No início, a estratégia do governo e da mídia foi a de vincular os jovens com o cartel de traficantes da região, conhecido pelo nome de “Guerreros Unidos”. A mobilização popular por justiça e punição dos assassinos, no entanto, comprovou as ligações do governo local com o narcotráfico e quando os policiais acusados de praticar os assassinatos foram presos, os cartel realizou ataques exigindo que fossem libertados.
O povo mexicano decidiu dar um basta às milícias, ao uso do narcotráfico para amedrontar a população e à violência oficial do Estado. Neste último mês, sedes de governos e prefeituras foram ocupados, grupos de autodefesas foram formados, marchas multitudinárias foram realizadas na capital do país e em outras importantes cidades e uma greve geral está sendo preparada para o início de Dezembro. Uma verdadeira corrente de solidariedade se fortalece em todo país exigindo que a morte dos jovens de Iguala não seja em vão.
Nem a distância geográfica, nem a falta de informações mais profundas por parte da grande mídia pode nos fazer pensar que estamos longe da realidade do México. É verdade que a televisão brasileira fez mais reportagens nesse período sobre eventuais problemas climáticos nos Estados Unidos do que sobre a tragédia que ocorre com nossos irmãos da América Latina. Mas a chacina que ocorreu em Belém na madrugada do dia 05 de novembro talvez nos faça atentar para a realidade.
Há relatos que dão conta de até 35 mortes nos bairros de Guamá, Terra Firme e Jurunas, periferia de Belém. Até agora, o governo do estado confirma apenas 10 mortes. Entre essas pessoas está um jovem de 16 anos – Eduardo Galucio Chaves – que voltava da escola. Uma pessoa com necessidades especiais foi alvejada com cinco tiros e morreu após se assustar com o barulho e correr, conforme denúncia de Francisco Batista da Comissão de Justiça e Paz.
A estratégia do governo e da mídia brasileira é similar a de seus pares mexicanos: vincular as mortes ao envolvimento com o tráfico. É muito óbvio, no entanto, encontrar os verdadeiros responsáveis uma vez que a chacina teve início como vingança após o assassinato de um cabo da Polícia Militar. A chacina foi abertamente organizada e propagandeada pelos policiais através de diferentes redes sociais mas, até hoje, ninguém foi preso.
Diferente do que ocorreu no México, a chacina de Belém não despertou a mobilização social contra o assassinato de inocentes. A revolta permanece surda e restrita aos lugares impactados pelas mortes.
O que a chacina de Belém talvez nos faça ver é que México e Brasil vivem situações muito parecidas. Em ambos países existe um forte poder econômico nas mãos do narcotráfico, este mesmo narcotráfico está profundamente ligado aos órgãos estatais através das milícias e grupos de extermínio, e os governos manejam com narcotráfico e milícia para impôr o medo à população. O povo do México percebeu que a luta social é a forma de dar um basta a essa situação. Quantas chacinas como a de Belém serão necessárias para que os brasileiros tomem a mesma decisão?
Jorge Batista, São Paulo*JornalAVerdade
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