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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, março 22, 2011

Obama vai pagar os pecados dos EUA?


Aqui, foi o próprio presidente Barack Obama quem levantou o assunto da ditadura militar, mas nenhum jornalista brasileiro ousou lembrar da ativa e decisiva participação do governo dos Estados Unidos da época no golpe contra João Goulart, um atentado contra a democracia brasileira que perdurou por mais de duas décadas.
Ao contrário, na imprensa brasileira Obama foi criticado exatamente por isto pelo colunista Merval Pereira, candidato à Academia Brasileira de Letras, em sua coluna desta terça-feira em O Globo:
“A insistência com que ele se referiu à superação da ditadura militar no Brasil pela ação de pessoas que, como a presidente Dilma Rousseff, resistiram em defesa da democracia, comparando a situação brasileira de 25 anos atrás com a atualidade dos países árabes que estão em crise política em luta por mais direitos, soou anacrônica e fora de próposito”.
Anacrônica e fora de propósito? Obama nem lembrou de dizer que, no Brasil, a longa ditadura militar foi apoiada alegremente por toda a nossa grande imprensa.
Pois, no Chile, apenas 24 horas depois do seu discurso no Teatro Municipal do Rio, que desagradou a Pereira, foi um jornalista quem questionou Obama sobre a responsabilidade dos Estados Unidos no golpe contra Salvador Allende, querendo saber se o seu governo estaria disposto a apoiar investigações judiciais sobre crimes praticados pela ditadura de Augusto Pinochet.
Na conferência de imprensa ao lado do presidente chileno Sebastián Piñera, em que os repórteres só podiam fazer três perguntas a cada um, o mesmo jornalista quis saber de Obama se estaria disposto a pedir desculpas pela participação dos EUA no golpe de 1973.
Obama respondeu que não é o caso de pedir desculpas, mas que estaria disposto a colaborar “com qualquer pedido feito pelo Chile”, segundo relato da correspondente Janaína Figueiredo, na mesma edição de O Globo. “É importante aprender nossa História, compreendê-la, mas não ficar presos na História”.
Por falar nisso, algum jornalista brasileiro poderia perguntar a Obama, antes do final da sua viagem, se estaria disposto a colaborar também com o nosso país na apuração dos crimes da ditadura militar, caso isso lhe seja solicitado, agora que estamos prestes a instalar a “Comissão da Verdade”.
Se tiver que pagar pelos pecados cometidos por sucessivos governos dos EUA, ao se tornar cúmplice de crimes praticados por dezenas de ditadores contra a democracia e a população civil de seus respectivos países, como aconteceu no Brasil dos militares e no Chile de Pinochet, aconteceu no Egito de Mubarak e está acontecendo hoje na Líbia de Kadafi, Barack Obama não fará outra coisa até o final do seu mandato.
Há ditaduras e ditaduras, claro, e por isso mesmo, em seu “Discurso às Américas”, proferido no Chile nesta segunda-feira, Obama se referiu à Cuba de Fidel Castro: “Continuaremos buscando maneiras de aumentar a independência do povo cubano”, dizendo esperar das suas autoridades “uma decisão importante para defender os direitos básicos do povo”.
Muito justo. Se precisamos aprender com a História, porém, como ele mesmo falou em Santiago, não custava nada Obama lembrar que o atual regime cubano foi implantado no bojo de uma revolução popular que derrubou Fulgêncio Batista, o ditador apoiado pelos Estados Unidos, país que mantém até hoje o embargo econômico à ilha.
 

Ordem de Obama para atacar a Líbia é inconstitucional, diz deputado democrata

O deputado democrata por Ohio, Dennis Kucinich, afirmou que o presidente norte-americano, Barack Obama, não tinha autoridade constitucional para ordenar os ataques militares à Líbia, iniciados no sábado (19/03). Segundo o congressista, que citou a Constituição dos Estados Unidos, somente o Congresso poderia autorizar os bombardeios. Para Kucinich, Obama deveria ser submetido a um impeachment pelo fato.
Os deputados Jerrold Nadler (D-NY), Donna Edwards (D-MD), Mike Capuano (D-MA), Dennis Kucinich (D-NY), Maxine Waters (D-CA), Rob Andrews (D-NJ), Sheila Jackson Lee (D-TX), Barbara Lee (D-CA) e Eleanor Holmes Norton (D-DC), se juntaram a Kucinich no rechaço à ação militar, de acordo com o site Politico.
Kucinich também publicou um comunicado em sua página na internet questionando a constitucionalidade das ações do presidente. “[Obama] não tem poder pela Constituição para autorizar um ataque militar unilateral, em uma situação que não implica em uma ameaça real ou iminente à nação”, escreveu.
“Apesar de a ação ser considerada como a suposta proteção dos civis da Líbia, a proibição dos voos na zona de exclusão começou com um ataque à defesa aérea líbia e às forças de Kadafi. É um ato de guerra. O presidente fez declarações que tentam minimizar a ação dos EUA, mas aviões norte-americanos lançaram bombas e mísseis dos EUA. O país pode estar se envolvendo em um conflito com outra nação soberana. Nosso país não pode permitir outra guerra, econômica e diplomática.”
Para o deputado, o Congresso deveria ser imediatamente convocado para uma sessão extraordinária para debater o ataque militar.
O ex-candidato à presidência Ralph Nader também criticou a ação do governo norte-americano.”Por que não dizemos o que está na mente de muitos advogados e juristas, que a administração Obama está cometendo crimes de guerra e, se [George W.] Bush deveria ser submetido a um julgamento político, Obama também?”, questionou ao site Democracy Now.

 *comtextolivre

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