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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, junho 20, 2012


 

Ahmadinejad critica megalomania dos países ricos na Rio+20

Com discurso predominantemente religioso, Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã, afirma na Rio 20: Nos reunimos hoje para remediar as velhas feridas .... Foto: Daniel Ramalho/Terra
Com discurso predominantemente religioso, Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã, afirma na Rio 20: "Nos reunimos hoje para remediar as velhas feridas da sociedade mundial, para um futuro melhor"
Foto: Daniel Ramalho/Terra

Angela Chagas
Direto do Rio de Janeiro
Em um dos discursos mais aguardados do primeiro dia de reunião dos chefes de Estado na Rio+20, o presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad aproveitou os 15 minutos de sua fala para criticar os países ricos. "Nesta ordem mundial, um grupo minoritário de nações desenvolvidas está sempre impondo padrões e os outros precisam seguir seus passos. Esses eventos resultam do mesmo processo de megalomania pelo lucro, que dominou a mente dos mestres escravocratas, e que tem íntima relação com o sistema capitalista atual", disse na tarde desta quarta-feira.
Após protestos de ativistas dos direitos humanos contra a sua visita no Rio de Janeiro, o iraniano não poupou críticas ao modelo econômico atual, que, segundo ele, é responsável pela situação crítica do planeta em relação ao meio ambiente. "As regras da imoralidade levam-nos ao fracasso", disse ao citar como exemplo os longos períodos de colonialismo e escravidão e as guerras "injustas", como a do Vietnã. "Isso levou a níveis escabrosos de pobreza no mundo e foi responsável pela depredação dos recursos da natureza em escala global".
Ao fazer referências a Alá, ele disse que é preciso pensar em um novo modelo econômico baseado na justiça social. "Temos que aspirar um plano para um mundo mais justo e igualitário. O ser humano hoje é definido como um ser cujas preocupações estão no ganho, no lucro, na matéria". "Esses grupos minoritários se consideram superiores e impõe seu planos aos outros para seguir na busca incessante pelos seus interesses egocêntricos, a dispensa de povos menos poderosos. Essa é a ordem do mundo atual", criticou.
"Não devemos buscar a hegemonia às custas de outros povos. Há uma ideia de subserviência de algumas nações sobre outras, e isso levou a níveis escabrosos de pobrezas no mundo. Hoje, qualquer implementação de qualquer estratégia é um plano na mesma direção da mesma estratégia que dominou o mundo. As Nações Unidas, o Banco Mundial, estas são instituições que fazem parte dessa estratégia, precisamos alterar o padrão de comportamento delas", disse o presidente iraniano.
"No passado, nos reunimos aqui. Depois de muitos anos percebemos que a ordem internacional tinha fracassado em seus objetivos para o planeta. Nosso mundo precisa de planos inovadores. A brecha cada vez maior entre norte e sul, as crises, como de família, crises econômicas e os padrões de moralidade cada vez menores resultam da ordem internacional que prevalece ainda no mundo. Nos reunimos hoje para remediar as velhas feridas da sociedade mundial, para um futuro melhor."
Sobre a Rio+20
Vinte anos após a Eco92, o Rio de Janeiro volta a receber governantes e sociedade civil de diversos países para discutir planos e ações para o futuro do planeta. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que ocorre até o dia 22 de junho na cidade, deverá contribuir para a definição de uma agenda comum sobre o meio ambiente nas próximas décadas, com foco principal na economia verde e na erradicação da pobreza.
Depois do período em que representantes de mais de 100 países discutiram detalhes do documento final da Conferência, o evento se prepara para ingressar na etapa definitiva. De quarta até sexta, ocorrerá o Segmento de Alto Nível da Rio+20 com a presença de diversos chefes de Estado e de governo de países-membros das Nações Unidas.
Apesar dos esforços do secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, vários líderes mundiais não estarão presentes, como o presidente americano Barack Obama, a chanceler alemã Angela Merkel e o primeiro ministro britânico David Cameron. Além disso, houve impasse em relação ao texto do documento definitivo. Ainda assim, o governo brasileiro aposta em uma agenda fortalecida após o encontro.
*Terra

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