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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, junho 16, 2012

Aref é só a ponta do iceberg do propinoduto paulistano

 

 do Rovai
Durante entrevista coletiva concedida ontem, 14, o promotor Sílvio Marques, da Promotoria do Patrimônio Público e Social, afirmou que as investigações sobre o esquema de propina no Aprov (Departamento de Aprovação de Edificações) envolvem mais pessoas e empresas do que as mencionadas até agora. De fato, o enriquecimento ilícito do ex-diretor do Aprov, Hussain Aref Saab, é apenas o fio solto do novelo. Afinal, Aref, um peixe pequeno na hierarquia da administração municipal, teria conseguido montar um esquema tão perfeito que seus superiores na Secretaria Municipal de Habitação em nenhum momento desconfiaram de suas artimanhas? Você acredita nisso?
Hussain Aref Saab teria conseguido sozinho montar um esquema milionário de propinas dentro da Secretaria Municipal de Habitação? (Foto: Divulgação)
Aref é a ponta do iceberg deste escândalo que atinge em cheio a gestão Serra-Kassab. O promotor afirmou, na entrevista coletiva, ter interrogado um corretor de imóveis que disse ter vendido 35 imóveis para Aref. A maioria paga em dinheiro entregue em envelopes pardos contendo notas de R$ 100, R$ 50, R$ 20 e R$ 10. O promotor ainda declarou que Aref pediu 4 milhões de reais para liberar um empreendimento na Av.Faria Lima.
Em reportagem do jornal Folha de S.Paulo, uma ex-diretora financeira da Brookfield Gestão de Empreendimentos (BGE) disse que a multinacional pagou R$ 1,6 milhão em propina, entre 2008 e 2010, para obras no shopping Higienópolis e Paulista. Segundo ela, a proprina teria sido paga ao ex-diretor do Aprov e ao vereador Aurélio Miguel (PR). A despeito de Aurélio Miguel ter rompido com a base aliada de Kassab nas ultimas eleições para a presidência da Câmara, as denúncias que agora pesam contra ele são pesadíssimas e indicam que seu rompimento  diga mais respeito a “interesses contrariados” do que a “ideologia política”.
Shopping Higienópolis teria tido obras irregulares autorizadas depois de pagamento de propina (José Luiz Brandão / Flickr)
O fato é que a gestão Serra-Kassab tem como uma de suas maiores marcas o esquema “é bom para ambas as partes” que criou com  o setor da construção civil. Projetos de reurbanização, como o que acontece na Luz, acabam com a história da cidade em função da especulação imobiliária. E o mesmo ocorre em bairros como Pinheiros e Vila Madalena, que assistem a cada dia o trator de Kassab derrubar pequenas casas para dar lugar a grandes torres. Empreendimentos que estes bairros não vão comportar em suas ruas estreitas e que vão tornar um local aprazível em inóspito, além de piorar ainda mais o já  caótico trânsito local.
Manifestação contra a verticalização desenfreada de Pinheiros (Foto: Reprodução / Facebook)
O Ministério Público atualmente é o único canal de investigação destas denúncias, uma vez que a base aliada esvazia qualquer votação de convocação de servidores municipais e cargos de confiança para prestarem contas sobre escândalos (veja matéria do SPressoSP sobre essa tática). Um exemplo disso, foi quando o site SPressoSP escancarou nesta reportagem, por meio de depoimentos e documentos, o esquema de desvio de recursos públicos na Virada Cultural. Mais uma vez, a bancada governista derrubou toda tentativa de apuração na Câmara Municipal.
E como estamos em tempo de Rio + 20 e Cúpula dos Povos e este blogueiro já está no Rio de Janeiro para cobrir o evento e participar do Fórum Mundial de Mídia Livre nunca é muito lembrar que o Partido Verde, que grita contra o governo federal, em algumas questões ambientais nas quais até tem razão, em São Paulo está a frente da Secretaria do Verde e não diz nada sobre essas ocupações absurdas do espaço público.
Aliás, este PV de São Paulo consegue levar à cidade a erguer o bizarro troféu de ser uma das piores do planeta no quesito coleta seletiva. Apenas 1% do lixo produzido em São Paulo é coletado seletivamente.
Muita água ainda vai correr por baixo desta ponte construída pelo esquema de propinas do Aprov. E se algo mais do que a ponta do iceberg emergir, podem anotar. Peixe graúdo, bem graúdo, vai aparecer neste esquema.
*GilsonSampaio

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