RN: onde o crime compensa.
E a Globo encobre
Esta semana fez exatamente um mês.
O que você acha que aconteceria
caso uma das principais lideranças políticas do estado fosse flagrado em
escutas telefônicas combinando o uso da conta pessoal de um tesoureiro
de campanha para transferir dinheiro a fim de comprar apoio político de
dois vereadores da capital? Se esse líder político fosse o marido da
governadora do estado e um dos vereadores a serem comprados fosse o
presidente da Câmara Municipal da capital?
Se esse mesmo líder, marido da
governadora, em outra ligação, ao conversar sobre a defecção de dois
deputados estaduais da campanha da mulher, dissesse literalmente que
tinha “um dinheirinho para mandar” na tentativa de reverter a mudança de
voto dos dois deputados? E se um desses dois deputados fosse o
presidente da Assembleia Legislativa?
E se você ouvisse que seriam
depositados R$ 100 mil na conta de campanha de um deputado federal mas
que esse dinheiro não era dele? Ou seja, que o grupo político teria que
inventar recibos e notas fiscais frios para retirar esse dinheiro da
conta do deputado para uso na campanha ao senado. E se essa candidata ao
senado, eleita, fosse a atual governadora do estado?
E se você ouvisse diversas
gravações mostrando as articulações para uso de notas fiscais frias para
justificar gastos de campanha na prestação de contas?
Você não veria nisso um escândalo
político sem igual na história do estado em questão? Você não esperaria
ver o tema estampado em todos os jornais locais e, inclusive, em
veículos nacionais?
Você não gostaria de ver uma ação
enérgica do Procurador Geral da República para investigar e punir
exemplarmente os envolvidos – cujos crimes supostos prescreverão apenas
em 2018?
Por que, então, o #Caixa2doDEMnoRN, com raras exceções, não foi destaque dos veículos convencionais de imprensa? Por que sequer revistas como a CartaCapital não lhe deram espaço? Por que apenas o jornal O globo se interessou e, ainda assim, foi silenciado pela ação do líder do PMDB na Câmara Federal? E por que ninguém se indignou com essa afronta à liberdade de imprensa?
Por que ninguém se indigna com a incapacidade da Procuradoria Geral da República em responder, há praticamente um mês, sobre o que foi feito de uma investigação que recebeu há três anos?
Por que essa enorme inação, silenciamento, sufocamento histórico?
Porque, parece, no RN o crime
compensa. Para os poderosos. Mesmo que tantos elementos e indícios
claros tenham sido levantados e deixem perplexos o que os lêem e ouvem,
os poderosos têm o direito de não serem incomodados até que os seus
supostos crimes prescrevam.
E tudo com a anuência, parece, do espreguiçador geral, Roberto Gurgel.
Vamos deixar, como sociedade, que
crimes tão evidentes restem, ao fim, impunes? Vamos deixar que aqueles
que fazem o meio campo entre a comunidade e os fatos prossigam omitindo
fatos dessa gravidade? Quantos outros ainda serão sonegados? Quantos
criminosos restarão impunes e aparecerão como éticos e perfeitos
políticos? Probos.
Uma última questão: se o PGR não
encontra os áudios e relatórios da investigação de 2006, que recebeu em
2009, o nosso Procurador Geral de Justiça, Manoel Onofre Neto, não
poderia reencaminhá-los para Gurgel? Ainda dá tempo de a impunidade não
prevalecer.
Linha do tempo
5 de setembro a 26 de outubro de
2006 – O telefone celular de Francisco Galbi Saldanha é inteceptado com
autorização judicial no contexto de uma investigação em Campo Grande
(RN). Em 42 conversas aparecem claramente diversas evidências de crimes
eleitorais cometidos pelo PFL na campanha eleitoral: Caixa 2, compra de
apoios políticos, compra de votos, uso de notas frias e falsos recibos.
2009 – com o fim da investigação
principal, o Ministério Público estadual encaminha os áudios e
relatórios do #Caixa2doDEMnoRN para o Ministério Público eleitoral no RN
e para a Procuradoria Geral da República. Por envolver personagens com
foro de prerrogativa, o MPE também encaminha o material para a PGR.
Estão envolvidos a então senadora Rosalba Ciarlini (DEM), o senador José
Agripino (DEM) e o deputado federal Betinho Rosado (DEM).
21 de maio de 2012 – Recebo os áudios da investigação e publico os primeiros deles.
22 de maio de 2012 – O Jornal de
Hoje publica a primeira de uma série de reportagens sobre o tema. O
Portal No Minuto também cita o caso.
24 de maio de 2012 – O Ministério
Público do RN emite nota de esclarecimento em que relata a investigação
em questão e o envio das provas coletadas aos órgãos ministeriais
adequados.
25 de maio de 2012 – Repórter Chico
de Gois, da sucursal de O globo em Brasília, entra em contato
interessado na pauta. A pauta foi derrubada, dias depois, após
interferência do deputado federal Henrique Alves (PMDB) (*), após pedido
de Carlos Augusto Rosado, principal voz nas conversas gravadas.
27 de maio de 2012 – São publicados os últimos áudios dentre os 42 recebidos no início da semana.
28 de maio de 2012 – MPF no RN
informa que material recebido do Ministério Público do RN foi
encaminhado à Procuradoria Geral da República. Primeiro contato com a
Procuradoria Geral da República em busca de informações sobre o que foi
feito da investigação, recebida em 2009. Até hoje, a PGR não conseguiu
responder.
30 de maio de 2012 – Realizado
tuitaço com a hashtag #Caixa2doDEMnoRN, que permaneceu cerca de uma hora
ininterrupta como mais citada do Twitter no Brasil. Nesse dia, o Blog
do Miro divulgou os áudios.
7 de junho de 2012 – O
#Caixa2doDEMnoRN é publicado com destaque pelo blog Vi o Mundo, de Luiz
Carlos Azenha. No mesmo dia, é publicado pelo blog da Maria Fro, de
Conceição Oliveira.
9 de junho de 2012 – Primeira publicação do caso no blog Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim.
13 de junho de 2012 – A Tribuna do
Norte fala, pela primeira vez, sobre o assunto. A colunista Eliana Lima
publica entrevista com o Procurador Geral de Justiça, Manoel Onofre
Neto, sobre o tema. Onofre reitera conteúdo da nota publicada em 24 de
maio.
Nesse dia o processo que cuida das
interceptações telefônicas no âmbito da justiça estadual foi reativado e
foi apresentada uma petição, cujo teor não é conhecido.
14 de junho de 2012 – A secretária
de comunicação da PGR informa que Roberto Gurgel, tendo fraturado o
braço, está afastado por questão médica desde a semana anterior. Porém,
Giselly Siqueira complementa a informação dizendo que ao questionar o
PGR este lhe informou não se lembrar do caso. Mas ainda não havia
resposta sobre o que foi feito da investigação no âmbito da Procuradoria
Geral da República.
15 de junho de 2012 – O
#Caixa2doDEMnoRN volta a ser assunto do Conversa Afiada, que desta vez
enfatiza o fato de que o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel,
disse à sua secretária de comunicação que não se lembrava do caso.
18 de junho de 2012 – A governadora
Rosalba Ciarlini (DEM) fala pela primeira vez sobre o caso ao ser
perguntada sobre o assunto em entrevista ao vivo no Jornal 96, da FM96.
Rosalba diz que as denúncias não são sérias pois, se fossem, seus
adversários teriam interposto ação ainda em 2006. Suas contas de
campanha foram aprovadas. Rosalba usa de uma falácia, uma vez que suas
contas foram julgadas sem que o órgão ministerial e o TRE tivessem
conhecimento dos áudios das investigações. Nem seus adversários sabiam,
já que os áudios permaneceram desconhecidos até serem publicados no
blog, mesmo sem estarem mais submetidos a segredo de justiça, segundo
disse o MP.
21 de junho de 2012 – Um mês
depois, continuamos sem resposta. E a sensação de que o crime no RN
compensa. Ao menos para os poderosos, que tem o direito de não ser
investigados conforme sua própria vontade.
(*) Henrique Alves faz parte do ˜Panteão da Moral Peemedebista”, na companhia de Eliseu Padilha, Wellington Moreira Franco e Eduardo Cunha, que deveia ser esculpido em mármore e aposto na sala de entrada do Palácioio do Jaburu, onde habita o (vice) Presidente Michel Temer.
Temer e Alves foram os interlocutores de um dos filhos de Roberto Marinho – eles não tem nome proprio – no Glorioso Acordo sobre a CPI da Veja. Ficou estabelecido que “quando se ouvir falar em “Veja”, entenda-se “imprensa”; quando se ouvir falar em “imprensa”, ouça-se “Globo”.
Na Carta Capital, Leandro Fortes identificou pegadas das Organizações Globo – revista Época e Rede Globo – no crime organizado do Carlinhos Cachoeira.
E o brindeiro Gurgel, amigo navegante ?
Aquele que responde a inquerito sobre “prevaricação, no proprio Ministerio Publico …
Aquele por quem a Rede Globo põe a mão no fogo.
Aquele que vai pedir a condenação sem provas do José Dirceu.
Viva o Paraguay !
Paulo Henrique Amorim
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