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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, junho 23, 2012

RN: onde o crime compensa.
E a Globo encobre


Wellington, Alves e Cunha deveriam estar em mármore, na porta do Temer


Esta semana fez exatamente um mês.


O que você acha que aconteceria caso uma das principais lideranças políticas do estado fosse flagrado em escutas telefônicas combinando o uso da conta pessoal de um tesoureiro de campanha para transferir dinheiro a fim de comprar apoio político de dois vereadores da capital? Se esse líder político fosse o marido da governadora do estado e um dos vereadores a serem comprados fosse o presidente da Câmara Municipal da capital?


Se esse mesmo líder, marido da governadora, em outra ligação, ao conversar sobre a defecção de dois deputados estaduais da campanha da mulher, dissesse literalmente que tinha “um dinheirinho para mandar” na tentativa de reverter a mudança de voto dos dois deputados? E se um desses dois deputados fosse o presidente da Assembleia Legislativa?


E se você ouvisse que seriam depositados R$ 100 mil na conta de campanha de um deputado federal mas que esse dinheiro não era dele? Ou seja, que o grupo político teria que inventar recibos e notas fiscais frios para retirar esse dinheiro da conta do deputado para uso na campanha ao senado. E se essa candidata ao senado, eleita, fosse a atual governadora do estado?


E se você ouvisse diversas gravações mostrando as articulações para uso de notas fiscais frias para justificar gastos de campanha na prestação de contas?


Você não veria nisso um escândalo político sem igual na história do estado em questão? Você não esperaria ver o tema estampado em todos os jornais locais e, inclusive, em veículos nacionais?


Você não gostaria de ver uma ação enérgica do Procurador Geral da República para investigar e punir exemplarmente os envolvidos – cujos crimes supostos prescreverão apenas em 2018?

Por que, então, o #Caixa2doDEMnoRN, com raras exceções, não foi destaque dos veículos convencionais de imprensa? Por que sequer revistas como a CartaCapital não lhe deram espaço? Por que apenas o jornal O globo se interessou e, ainda assim, foi silenciado pela ação do líder do PMDB na Câmara Federal? E por que ninguém se indignou com essa afronta à liberdade de imprensa?

Por que ninguém se indigna com a incapacidade da Procuradoria Geral da República em responder, há praticamente um mês, sobre o que foi feito de uma investigação que recebeu há três anos?


Por que essa enorme inação, silenciamento, sufocamento histórico?


Porque, parece, no RN o crime compensa. Para os poderosos. Mesmo que tantos elementos e indícios claros tenham sido levantados e deixem perplexos o que os lêem e ouvem, os poderosos têm o direito de não serem incomodados até que os seus supostos crimes prescrevam.


E tudo com a anuência, parece, do espreguiçador geral, Roberto Gurgel.


Vamos deixar, como sociedade, que crimes tão evidentes restem, ao fim, impunes? Vamos deixar que aqueles que fazem o meio campo entre a comunidade e os fatos prossigam omitindo fatos dessa gravidade? Quantos outros ainda serão sonegados? Quantos criminosos restarão impunes e aparecerão como éticos e perfeitos políticos? Probos.


Uma última questão: se o PGR não encontra os áudios e relatórios da investigação de 2006, que recebeu em 2009, o nosso Procurador Geral de Justiça, Manoel Onofre Neto, não poderia reencaminhá-los para Gurgel? Ainda dá tempo de a impunidade não prevalecer.

Linha do tempo


5 de setembro a 26 de outubro de 2006 – O telefone celular de Francisco Galbi Saldanha é inteceptado com autorização judicial no contexto de uma investigação em Campo Grande (RN). Em 42 conversas aparecem claramente diversas evidências de crimes eleitorais cometidos pelo PFL na campanha eleitoral: Caixa 2, compra de apoios políticos, compra de votos, uso de notas frias e falsos recibos.


2009 – com o fim da investigação principal, o Ministério Público estadual encaminha os áudios e relatórios do #Caixa2doDEMnoRN para o Ministério Público eleitoral no RN e para a Procuradoria Geral da República. Por envolver personagens com foro de prerrogativa, o MPE também encaminha o material para a PGR. Estão envolvidos a então senadora Rosalba Ciarlini (DEM), o senador José Agripino (DEM) e o deputado federal Betinho Rosado (DEM).


21 de maio de 2012 – Recebo os áudios da investigação e publico os primeiros deles.


22 de maio de 2012 – O Jornal de Hoje publica a primeira de uma série de reportagens sobre o tema. O Portal No Minuto também cita o caso.


24 de maio de 2012 – O Ministério Público do RN emite nota de esclarecimento em que relata a investigação em questão e o envio das provas coletadas aos órgãos ministeriais adequados.


25 de maio de 2012 – Repórter Chico de Gois, da sucursal de O globo em Brasília, entra em contato interessado na pauta. A pauta foi derrubada, dias depois, após interferência do deputado federal Henrique Alves (PMDB) (*), após pedido de Carlos Augusto Rosado, principal voz nas conversas gravadas.


27 de maio de 2012 – São publicados os últimos áudios dentre os 42 recebidos no início da semana.


28 de maio de 2012 – MPF no RN informa que material recebido do Ministério Público do RN foi encaminhado à Procuradoria Geral da República. Primeiro contato com a Procuradoria Geral da República em busca de informações sobre o que foi feito da investigação, recebida em 2009. Até hoje, a PGR não conseguiu responder.


30 de maio de 2012 – Realizado tuitaço com a hashtag #Caixa2doDEMnoRN, que permaneceu cerca de uma hora ininterrupta como mais citada do Twitter no Brasil. Nesse dia, o Blog do Miro divulgou os áudios.


7 de junho de 2012 – O #Caixa2doDEMnoRN é publicado com destaque pelo blog Vi o Mundo, de Luiz Carlos Azenha. No mesmo dia, é publicado pelo blog da Maria Fro, de Conceição Oliveira.


9 de junho de 2012 – Primeira publicação do caso no blog Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim.


13 de junho de 2012 – A Tribuna do Norte fala, pela primeira vez, sobre o assunto. A colunista Eliana Lima publica entrevista com o Procurador Geral de Justiça, Manoel Onofre Neto, sobre o tema. Onofre reitera conteúdo da nota publicada em 24 de maio.


Nesse dia o processo que cuida das interceptações telefônicas no âmbito da justiça estadual foi reativado e foi apresentada uma petição, cujo teor não é conhecido.


14 de junho de 2012 – A secretária de comunicação da PGR informa que Roberto Gurgel, tendo fraturado o braço, está afastado por questão médica desde a semana anterior. Porém, Giselly Siqueira complementa a informação dizendo que ao questionar o PGR este lhe informou não se lembrar do caso. Mas ainda não havia resposta sobre o que foi feito da investigação no âmbito da Procuradoria Geral da República.


15 de junho de 2012 – O #Caixa2doDEMnoRN volta a ser assunto do Conversa Afiada, que desta vez enfatiza o fato de que o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, disse à sua secretária de comunicação que não se lembrava do caso.


18 de junho de 2012 – A governadora Rosalba Ciarlini (DEM) fala pela primeira vez sobre o caso ao ser perguntada sobre o assunto em entrevista ao vivo no Jornal 96, da FM96. Rosalba diz que as denúncias não são sérias pois, se fossem, seus adversários teriam interposto ação ainda em 2006. Suas contas de campanha foram aprovadas. Rosalba usa de uma falácia, uma vez que suas contas foram julgadas sem que o órgão ministerial e o TRE tivessem conhecimento dos áudios das investigações. Nem seus adversários sabiam, já que os áudios permaneceram desconhecidos até serem publicados no blog, mesmo sem estarem mais submetidos a segredo de justiça, segundo disse o MP.


21 de junho de 2012 – Um mês depois, continuamos sem resposta. E a sensação de que o crime no RN compensa. Ao menos para os poderosos, que tem o direito de não ser investigados conforme sua própria vontade.


(*) Henrique Alves faz parte do ˜Panteão da Moral Peemedebista”, na companhia de Eliseu Padilha, Wellington Moreira Franco e Eduardo Cunha, que deveia ser esculpido em mármore e aposto na sala de entrada do Palácioio do Jaburu, onde habita o (vice) Presidente Michel Temer.

Temer e Alves foram os interlocutores de um dos filhos de Roberto Marinho – eles não tem nome proprio – no Glorioso Acordo sobre a CPI da Veja. Ficou estabelecido que “quando se ouvir falar em “Veja”, entenda-se “imprensa”; quando se ouvir falar em “imprensa”, ouça-se “Globo”.

Na Carta Capital, Leandro Fortes identificou pegadas das Organizações Globo – revista Época e Rede Globo – no crime organizado do Carlinhos Cachoeira.

E o brindeiro Gurgel, amigo navegante ?

Aquele que responde a inquerito sobre “prevaricação, no proprio Ministerio Publico …

Aquele por quem a Rede Globo põe a mão no fogo.

Aquele que vai pedir a condenação sem provas do José Dirceu.

Viva o Paraguay !

Paulo Henrique Amorim

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