Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, junho 23, 2012

FEITO UM RAIO - EUA RECONHECEM GOLPISTAS PARAGUAIOS



Guilherme Balza

Novo presidente paraguaioassume isolado internacionalmente e com ameaça de pressão popular

Uma contradição atinge o governo do novo presidente do Paraguai, Federico Franco, que chegou ao poder após a deposição de Fernando Lugo, na última sexta-feira (22), desde o seu primeiro dia de gestão: embora tenha assumido o cargo com amplo apoio dos parlamentares, seu governo já nasce sem o respaldo da maioria dos vizinhos sul-americanos.
Na votação que aprovou o impeachment de Lugo, somente cinco parlamentares --quatro no Senado e um na Câmara-- foram contra a sua destituição. Para tirar o ex-mandatário do posto, os partidos Colorado e Liberal, rivais históricos, decidiram se unir. Siglas menores, como o Partido Pátria Querida, também aderiram ao bloco que derrubou Lugo.

Após tomar posse, Franco anunciou que sua equipe ministerial será “policromática”, ou seja, terá integrantes de todas as legendas que apoiaram o impeachment.

No cenário externo, a situação é oposta: Franco não é reconhecido como presidente para a maioria dos países vizinhos. Cristina Kirchner, presidente argentina, qualificou o impeachment de “golpe de Estado”. "É um ataque definitivo às instituições que reedita situações que acreditávamos absolutamente superadas na América do Sul e na região, em geral", disse Kirchner. “A Argentina não vai convalidar [o impeachment].”
A mandatária argentina, entretanto, disse que irá esperar a reunião da Cúpula do Mercosul, a realizar-se a partir da próxima terça-feira (26) em Mendoza (Argentina), para decidir com Dilma Rousseff e com José Mujica, presidente do Uruguai, o que fazer.
Dilma foi além. Durante entrevista coletiva, a presidente do Brasil afirmou, horas antes da aprovação do impeachment de Lugo, que "há previsão de sanção" para quem não cumprir "os princípios que caracterizam uma democracia.”
Questionada sobre o assunto, Dilma disse que a sanção para um país que transgride a cláusula de democracia é a "não participação dos órgãos multilaterais", o que pode significar a expulsão do Mercosul e da Unasul.
Posteriormente, Dilma moderou o tom e afirmou que "não está decidido nem foi inteiramente discutido" o que fazer diante da questão paraguaia. "E não cabe fazer ameaças neste momento, pois não contribui para a busca de uma solução."

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, considerou ilegal e ilegítimo o governo de Franco. "O Estado venezuelano, não reconhece a esse inválido, ilegal e ilegítimo governo que se instalou em Assunção", declarou Chávez no palácio de Miraflores (sede do Executivo). O mandatário boliviano, Evo Morales, também disse não reconhecer um governo que não tenha sido eleito pelo voto. Rafael Corrêa, presidente do Equador, seguiu a mesma linha e sugeriu a saída do Paraguai da Unasul.
Os governos de El Salvador, Nicarágua, Costa Rica –que ofereceu asilo a Lugo-- também não reconhecem Franco. O Parlamento Centro Americano (Parlacen) também qualificou a destituição de Lugo como golpe de Estado.

Colômbia e EUA


O colombiano Juan Manuel Santos, que pertence a um partido centro-direita, apenas lamentou a saída de Lugo, mas disse que “formalmente não houve rompimento da democracia.”
Os Estados Unidos, a exemplo do que ocorreu após o golpe em Honduras, em 2010, aceitaram o novo governo. "[Os EUA] reconhecem o voto do senado paraguaio pelo impeachment do presidente Lugo" e "pede para que todos os paraguaios ajam pacificamente, com calma e responsabilidade, dentro do espírito dos princípios democráticos" da nação.
Caso fortaleça suas relações com o Paraguai, os EUA podem ter uma oportunidade de ampliar sua influência na América do Sul, reduzida após as vitórias de presidentes de esquerda desde o final da década de 90.
Após fracassar nas negociações para impedir o impeachment, os chanceleres da Unasul redigiram um comunicado no qual dizem que a destituição de Lugo é uma ameaça à democracia e que os partidos que compõem o bloco poderão rever sua relação com o Paraguai.
Prevendo as dificuldades do isolamento, Franco fez um apelo aos países do Mercosul para que “entendam a situação” do Paraguai e que não façam bloqueios comerciais ao país. Logo após assumir, o presidente nomeou José Félix Estigarribia para a chancelaria –além de Carmero Caballero para o Ministério do Interior e Aldo Pastore para o comando da polícia nacional.
Para o senador Carlos Filizola, apoiador de Lugo e um dos três que votou contra a sua deposição, afirmou que a situação do Paraguai deverá ficar preocupante. “Vamos ficar isolados. E isso é muito ruim para um país que não tem saída para o mar.”

Pressão popular


Internamente, Franco também deverá encontrar resistência: lideranças políticas dos partidos de apoio ao governo Lugo, organizações camponesas, sindicais, estudantis e de sem-teto criaram uma “frente em defesa da democracia”, que pretende iniciar uma série de protestos contra o novo governo, incluindo uma greve geral e ocupações de terra. Integram a frente setores dos partidos Liberal e Colorado que não concordaram com o impeachment.
Além da pressão externa e interna, o governo de Franco já foi alvo, na noite dessa sexta-feira (22), do grupo Anonymous, que tirou a página da Presidência do ar e no lugar colocou uma entrevista com um analista político crítico ao novo governo.



Nenhum comentário:

Postar um comentário