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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, julho 31, 2012

Chavez sobre a Venezuela no Mercosul: “nosso norte é o sul”

“Nosso norte é o sul. Estamos onde deveríamos estar sempre”, disse o presidente da Venezuela, Hugo Chavez, ao final da Cúpula Extraordinária do Mercosul, nesta terça-feira (31), em Brasília, que oficializou o ingresso do país no bloco econômico. A presidenta brasileira e “pro tempore” do Mercosul, Dilma Rousseff, destacou que “o Mercosul deve permanecer como parte importante do nosso desenvolvimento. O mercado regional se torna mais precioso diante da crise econômica mundial”.

Após duas horas de reunião no Palácio do Planalto, os quatro presidentes sulamericanos fizeram uma declaração à imprensa, enfatizando a importância e necessidade da integração entre os países da América Latina para o desenvolvimento da região com inclusão social e distribuição de renda.

Além de Chavez e Dilma, falaram o presidente do Uruguai, José Mujica e a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner.

A presidenta Dilma Rousseff - a primeira a falar – fez uma avaliação do ponto de vista econômico da participação da Venezuela no bloco, que transforma os quatro países integrantes a quinta maior economia do mundo. O presidente Chavez, citando o líder Simon Bolívar, enfatizou a importância política da união entre os países da região.

Essa nova etapa do Mercosul, ampliada com o ingresso da Venezuela, que estende o bloco da Patagônica ao Caribe, consolida a região como potência energética e alimentar, destacou a presidenta Dilma. “A Venezuela amplia as potencialidades do bloco. Agora há espaço ainda maior para crescimento do comércio, dos investimentos e integração das cadeias produtivas entre as nossas nações”, convidando os setores industriais a participarem dessa fase de crescimento econômico.

Ela também falou sobre o trabalho que deve ser feito pelos governos dos quatro países: “Do ponto de vista dos governos, há importante trabalho técnico a ser feito”, disse, anunciando a primeira rodada de trabalhos técnicos no final de agosto e a próxima reunião de cúpula em dezembro.

Entre as decisões importantes adotadas pelo Mercosul, Dilma Rousseff destacou o Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul (Focem) como a experiência mais bem sucedida para reduzir as assimetrias e promover desenvolvimento equilibrado.

E anunciou que, com a Presidência Pro Tempore, o Brasil vai se esforçar para garantir volume significativo de crédito é importante para garantir esse desenvolvimento. “Vamos buscar todos os mecanismos de crédito, dentro e fora do Mercosul”, afirmou.

O Mercosul deve permanecer como parte importante do nosso desenvolvimento para fazer face ao grave quadro de economia internacional. O patrimônio que acumulamos no mercado regional se torna mais precioso. A Venezuela amplia as capacidades internas, reforça os recursos e abre oportunidades a vários empreendimentos, avaliou a presidenta.

Sem retaliações ao Paraguai

Sobre o Paraguai, assunto debatido na reunião, a presidenta Dilma Rousseff disse que o Brasil, assim como demais países , apresentaram posição clara sobre compromisso inequívoco com a democracia e que o Mercosul e a Unasul agem de forma coordenada para preservar e fortalecer a democracia na nossa região.

E disse ainda que “não somos favoráveis a retaliações econômica s que possam causar prejuízo os povo paraguaio. Mantivemos nossos projetos com recursos do Focem”, avisou, manifestando interesse que o Paraguai normalize a situação interna para reaver sua posição dentro do Mercosul.

Formando a história

Chavez falou em seguida, de pé, cumprimentou a todos e disse que existem eventos que vão formando a história viva. Segundo ele, o evento de hoje tem semelhança com as eleições de Luis Inácio Lula da Silva como presidente do Brasil, Nestor Kischner como presidente da Argentina e Tabaré Vasquéz no Uruguai. E atrás desses políticos, Chavez destacou “esse imenso povo, que é um só povo”.

A partir de hoje entramos em um novo período de aceleração da história que estamos construindo. Com mudanças profundas nesses anos que teremos pela frente. Os eventos futuros serão maiores do que o que presenciamos, afirmou Chavez. E, parodiando Bolívar, disse: “Esse é o nosso lugar na história. Dentro dessa grande pátria (a América Latina), tendo o Mercosul como um grande motor: onde eu estou, eu estou completo, a Venezuela chega plenamente, com toda nossa força, todo nosso desejo”.

Dívida social

O presidente do Uruguai também falou. Mujica destacou “a imensa dívida social que temos nessa terra, que é rico, mas é o mais injusto. Esse é o preço que pagamos ao longo da história, porque perdemos tempo demais olhando para o mundo rico sem olhar para nós. A nossa forma de vida ignorava os vizinhos, deixando de lado os aborígenes, analfabetos e pobres. Estamos tentando refazer nossa história”.

Ele, a exemplo do Chavez, destacou os novos tempos em que “o mundo rico está em crise e nós, pobres de nós, estamos nos saindo bastante bem”. E, concordando com a presidenta Dilma, disse que temos desafio imenso para vencer os interesses de classe e a trazer a grande maioria para esse debate e para que participem da construção da história do futuro, “que deve ser escrita pelos nossos exércitos de reserva, os que foram esquecidos, considerados causa perdida, mas que deve ser o centro da nossa causa – essa multidão anônima”.

Fim da solidão

A presidenta da Argentina, Cristina Kirchner , foi a última a falar. Ela ressaltou as palavras de Chávez, dizendo que com a chegada de Lula e Kirchner ao poder, surgiram os projetos nacionais, sociais e democráticos. E ressaltou ainda que “é preciso criar um meio para que seja indestrutível esse novo modo de governo. Não estamos falando só de política econômica, mas da luta pelo poder”, observou.

“Nós representamos essa força social, essa força histórica dos nossos povos que se juntam para por fim a solidão, porque nós nos encontramos”, concluiu.

Sobre a crise econômica, a presidenta argentina observou que os países desenvolvidos podem ficar tranquilos porque “Brasil, Argentina e Uruguai vamos continuar garantindo a soberania alimentar a esses países”, acrescentando que “o mundo está assim por causa da insegurança que eles geraram nos grandes centros financeiros, com paraísos fiscais onde estão mais de 400 bilhões de dólares, muitos vindos de nossas próprias economias”.

Fundado em 1991, o Mercosul estimula as relações comerciais entre os quatro países (Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil). Com a entrada da Venezuela, o bloco econômico reunirá 270 milhões de habitantes ou 60% da população do continente sulamericano e R$ 3,3 trilhões ou 83% do PIB (Produto Interno Bruto) da região.

De Brasília
Márcia Xavier
Colaborou Vanessa Silva
*Tudoemcima

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