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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, julho 25, 2012

Olimpíadas 2012 - Filas, bagunça, desinformação, congestionamentos monstruosos, preços inadmissíveis, ameaças de greve e protestos, superfaturamento e ilegalidades múltiplas, brutalidade policial, grosseria de funcionários. Nada mobiliza o senso crítico do jornalismo brasileiro



Filas, bagunça, desinformação, congestionamentos monstruosos, preços inadmissíveis, ameaças de greve e protestos, superfaturamento e ilegalidades múltiplas, brutalidade policial, grosseria de funcionários. Nada mobiliza o senso crítico do jornalismo brasileiro, incapaz de cobrir os Jogos Olímpicos britânicos sob os mesmos rigores que reserva aos eventos brasileiros.
Intempéries que no Rio de Janeiro (ou numa capital administrada por petistas) seriam chamadas de “apagão”, “caos”, “colapso” e outros substantivos marcantes de uso oportuno, na ilha viraram percalços menores, compreensíveis, talvez mesmo causados pelas hordas incivilizadas que teimam em poluir terras tão soberbas com seu terceiro-mundismo feio.
Agora descobrimos que até a prerrogativa muito básica e individual de escolher as próprias vestes será violada pela patrulha a serviço dos conglomerados financeiros que monopolizam a festa. Estão proibidas mensagens políticas, nacionais e comerciais que desagradem os patrocinadores dos Jogos. As empresas decidem que roupas os espectadores usarão. Não pode vestir camiseta com a foto do Che Guevara. Mas e a do palhaço Bozo, pode? A da rainha chupando sorvete?
Os bravos comentaristas tupiniquins, embasbacados com toda aquela (falsa) assepsia construída a porrete, acham pouco e bom. Seu comportamento apenas em parte é fruto do fascínio típico dos turistas festivos – bastante fiel, aliás, ao provincianismo que caracteriza a análise esportiva das capitais. A fantasia da superioridade gringa, aliada à do nosso fracasso inexorável, segue também motivações menos lisonjeiras: trata-se de uma espécie de vingança despeitada contra a realização dos Jogos e da Copa no Brasil, vitórias políticas de Lula (e do país) que a imprensa oposicionista jamais engoliu.
Entre o ufanismo tolo e a autodepreciação jeca, talvez sobre algum espaço para a simples fruição do espetáculo.
*GuilhermeScalzzi

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