Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, fevereiro 28, 2013


Por Carlos Everardo Silva

Os ideólogos da classe capitalista dizem que os empresários são os verdadeiros "produtores da riqueza", que sem eles nenhuma produção moderna e eficiente seria possível. Exaltam as ações individuais de cada burguês na mesma intensidade que os fascistas exaltam o Estado. Para eles, a ganância do capitalista é, ao mesmo tempo, a base que sustenta a prosperidade da sociedade. Assim, com o declínio dos capitalistas, toda a economia seria jogada no abismo. Afinal, sem a burguesia não existiriam empregos, não haveria investimento, grandes empreendimentos e construções, pois tudo isso nada mais seria do que o fruto das ações individuais. No sistema idealizado pelos teóricos liberais e conservadores, os trabalhadores não passam de simples auxiliares, ou melhor, instrumentos que o capitalista utiliza para obter seus fins, como qualquer outra ferramenta. A riqueza não é compreendida como produto do trabalho, mas do desejo e da luta por lucro.

É verdade que, sob o atual sistema, a produção de riqueza depende bastante dos interesses egoístas dos indivíduos que formam a burguesia, mas somente porque essa classe possui o monopólio sobre os meios de produção e distribuição. Esses indivíduos, entretanto, não se tornam criadores da prosperidade simplesmente por possuírem os instrumentos necessário para a produção. Ao contrário, esse monopólio apenas os permite ter domínio e poder sobre os verdadeiros responsáveis pela geração de valores de uso, os trabalhadores assalariados, os proletários.

O marxismo afirma que a classe trabalhadora, ao lado da natureza, é a produtora de toda a riqueza. (1) E é claro que, a não ser sob ignorância ou má fé, ninguém discorda dessa afirmação. Afinal, quem produz as ferramentas e as máquinas? Quem extrai as matérias-primas do meio ambiente? Quem fiscaliza as máquinas? Quem produz os bens de consumo e os serviços? Quem transporta as mercadorias? Só há uma resposta para todas essas perguntas: o proletariado.

Mesmo com o desenvolvimento das forças produtivas, com o surgimento de máquinas e ferramentas cada vez mais modernas, não foi possível para a classe dominante abrir mão da compra da força de trabalho. Afinal, até em um processo extremamente dependente da tecnologia, se faz necessária a fiscalização humana.

A verdade é que, se amanhã ou depois, todos os trabalhadores cruzassem os braços e simplesmente decidissem não trabalhar, nem que fosse por um único dia, isso já seria suficiente para gerar um enorme prejuízo à economia. Dizem que "tempo é dinheiro", mas o correto seria dizer que "trabalho é dinheiro".

Isso não significa que o sistema capitalista nunca tenha servido aos interesses da humanidade. Ao contrário, o grande teórico socialista Karl Marx sempre deixou claro que a burguesia e seu sistema desempenharam um papel revolucionário na história, não somente por terem enterrado o feudalismo, mas também por terem substituído os mesquinhos e pouco desenvolvidos meios individuais de produção da idade média por gigantescas forças produtivas. Foi o desenvolvimento do capitalismo que tornou o socialismo possível, foi sua ascensão que gerou condições para por fim à divisão de classes. (2)

O capitalismo reuniu os trabalhadores em grandes fábricas, imensos centros de trabalho. Permitiu que, pela primeira vez na história, a classe oprimida tivesse acesso a um nível de educação e cultura que as classes trabalhadoras do passado jamais sonharam em ter. Mas o capitalismo não foi capaz de romper com a exploração e a opressão. Nunca se produziu tanta riqueza, mas também nunca os trabalhadores estiveram tão privados dos produtos do seu trabalho.

Dos pontos negativos e positivos do capitalismo, surgiu uma poderosa força capaz de se organizar para por fim ao domínio do homem sobre o homem: a classe trabalhadora moderna. Pela primeira vez na história, uma classe explorada tem condições de por fim a exploração e capacidade para dirigir a sociedade. O futuro da humanidade está nas mãos dos trabalhadores. A construção do socialismo é sua missão.

A burguesia é uma classe parasita. Não produz nada. Apenas suga os produtos do trabalho. Vamos usar como exemplo uma grande empresa. Todo o seu funcionamento depende exclusivamente dos funcionários assalariados, desde o mais simples funcionário, até técnicos e gerentes. Qual a fusão do burguês? Roubar os trabalhadores. Quem são os proprietários de uma sociedade anônima, por exemplo? São os acionistas. Ou seja, pessoas que tem como local de trabalho a bolsa de valores. E mesmo quando o capitalista ocupa cargo na sua empresa, suas funções poderiam perfeitamente ser executadas por qualquer técnico eficiente sob o controle dos trabalhadores.

Sob o socialismo, as empresas, bancos e terras passam para o controle dos trabalhadores. Os meios de produção e troca passam a pertencer a toda a sociedade. A concorrência é eliminada e substituída pela cooperação. O socialismo, ao ser implantado a nível internacional, cria condições para a eliminação dos principais problemas que enfrentamos hoje: como miséria, desemprego, fome, ataque aos direitos sociais e trabalhistas, imperialismo, guerras, racismo, xenofobia e as tão conhecidas crises econômicas.

E isso tudo é perfeitamente possível. É claro que a classe capitalista e seus agentes tentam convencer a todos de que não existem alternativas ao capitalismo. Os capitalistas veem o capitalismo como o único mundo possível, assim como os senhores feudais viam o feudalismo como o único sistema possível. Toda classe dominante encara o seu domínio como necessário para a preservação da sociedade.

Os capitalistas falam constantemente em liberdade, mas não entendem que a sua liberdade gera a escravidão dos trabalhadores. A emancipação dos trabalhadores não pode ser encontrada nas promessas burguesas de liberdade e justiça, mas somente pode ser construída por eles mesmos. E quando finalmente houver liberdade, é porque o capitalismo deixou de existir. E se existe capitalismo, então a liberdade é apenas um conto de fadas.


NOTAS
(1) Crítica ao Programa de Gotha
(2) Manifesto do Partido Comunista
*centrodosocialismo

Nenhum comentário:

Postar um comentário