Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, novembro 08, 2010

Eu Quero

Eu quero
                             Patativa do Assaré


Quero um chefe brasileiro
Fiel, firme e justiceiro
Capaz de nos proteger
Que do campo até à rua
O povo todo possua
O direito de viver

Quero paz e liberdade
Sossego e fraternidade
Na nossa pátria natal
Desde a cidade ao deserto
Quero o operário liberto
Da exploração patronal

Quero ver do Sul ao Norte
O nosso caboclo forte
Trocar a casa de palha
Por confortável guarida
Quero a terra dividida
Para quem nela trabalha

Eu quero o agregado isento
Do terrível sofrimento
Do maldito cativeiro
Quero ver o meu país
Rico, ditoso e feliz
Livre do jugo estrangeiro

A bem do nosso progresso
Quero o apoio do Congresso
Sobre uma reforma agrária
Que venha por sua vez
Libertar o camponês
Da situação precária

Finalmemte, meus senhores,
Quero ouvir entre os primores
Debaixo do céu de anil
As mais sonoras notas
Dos cantos dos patriotas
Cantando a paz do Brasil 

poema extraído do Recanto das Letras 
*olhosdosertão 

Nordestino sim Nordestino não



Patativa do Assaré

Nunca diga nordestino 
Que Deus lhe deu um destino 
Causador do padecer 
Nunca diga que é o pecado 
Que lhe deixa fracassado 
Sem condições de viver 

Não guarde no pensamento 
Que estamos no sofrimento 
É pagando o que devemos 
A Providência Divina 
Não nos deu a triste sina 
De sofrer o que sofremos 

Deus, o Autor da Criação, 
Nos dotou com a Razão, 
Bem livres de preconceitos. 
Mas os ingratos da terra, 
Com opressão e com guerra, 
Negam os nossos direitos!

Não é Deus Quem nos castiga, 
Nem é a seca que obriga 
Sofrermos dura sentença! 
Não somos nordestinados 
Nós somos injustiçados 
Tratados com indiferença!

Sofremos, em nossa vida, 
Uma batalha renhida, 
Do irmão contra o irmão. 
Nós somos injustiçados, 
Nordestinos explorados, 
Mas nordestinados, não!

Há muita gente que chora, 
Vagando de estrada afora, 
Sem terra, sem lar, sem pão. 
Crianças esfarrapadas, 
Famintas, escaveiradas, 
Morrendo de inanição.

Sofre o neto, o filho e o pai.
Para onde o pobre vai, 
Sempre encontra o mesmo mal. 
Esta miséria campeia 
Desde a cidade à aldeia, 
Do Sertão à capital.

Aqueles pobres mendigos 
Vão à procura de abrigos, 
Cheios de necessidade. 
Nesta miséria tamanha, 
Se acabam na terra estranha, 
Sofrendo fome e saudade!

Mas não é o Pai Celeste 
Que faz sair do Nordeste 
Legiões de retirantes! 
Os grandes martírios seus 
Não é permissão de Deus: 
É culpa dos governantes! 

Já sabemos muito bem 
De onde nasce e de onde vem 
A raiz do grande mal: 
Vem da situação crítica, 
Desigualdade política 
Econômica e social 

Somente a fraternidade 
Nos traz a felicidade. 
Precisamos dar as mãos! 
Para que vaidade e orgulho 
Guerra, questão e barulho 
Dos irmãos contra os irmãos?

Jesus Cristo, o Salvador 
Pregou a paz e o amor 
Na santa doutrina sua. 
O direito do banqueiro 
É o direito do trapeiro 
Que apanha os trapos na rua!

Uma vez que o conformismo 
Faz crescer o egoísmo 
E a injustiça aumentar, 
Em favor do bem comum, 
É dever de cada um 
Pelos direitos lutar! 

Por isso vamos lutar, 
Nós vamos reivindicar 
O direito à liberdade, 
Procurando, em cada irmão, 
Justiça, paz e união, 
Amor e fraternidade!

Somente o amor é capaz 
E dentro de um país faz 
Um só povo bem unido! 
Um povo que gozará 
Porque assim já não há 
Opressor nem oprimido!

Nenhum comentário:

Postar um comentário