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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, novembro 08, 2010

Jornalistas de 40 países unem-se em apoio a WIKILEAKS










8/11/2010, Global Investigative Journalism Network
http://globalinvestigativejournalism.org/content/jornalistas-join-to-support-wikileaks
Jornalistas de várias partes do mundo reuniram-se para lançar um manifesto de apoio à organização Wikileaks e seu fundador Julian Assange os quais, segundo os jornalistas, conseguem hoje oferecer recurso extraordinário para promover melhor jornalismo em todo o mundo e trazem “contribuição extraordinária à transparência e a indispensável relação de prestação e cobrança de contas, no campo da informação democrática, no que tenha a ver, até agora, com as guerras do Afeganistão e do Iraque”.
Os jornalistas signatários do manifesto, muitos dos quais são influentes e destacadas repórteres investigativos, veem das mais diferentes partes do mundo (Rússia, Namíbia, Israel, Indonésia, de vários países europeus e dos EUA). São profissionais conectados em várias redes de jornalistas investigativos, que decidiram vir a público, como movimento para oferecer alguma proteção a Assange e WikiLeaks, convertidos em alvo de uma campanha de difamação e ameaças que se manifesta com mais violenta a cada dia que passa.

Adiante, o texto do Manifesto, a lista dos signatários e endereço pelos quais todos os jornalistas podem obter informações sobre o Manifesto, em várias regiões do mundo.


Gavin MacFadyen (UK)
cell +44 (0)774 030 4570

Mark Lee Hunter (France)
Portable: (+33) [0]6 27 81 00 87

Nicky Hager (New Zealand)
nicky@paradise.net.nz

Lucy Komisar (USA)
212 929-1610
DECLARAÇÃO DOS JORNALISTAS,
sobre ataques à organização WIKILEAKS


Julian Assange, fundador da organização WikiLeaks, está sendo alvo de massiva campanha de crítica e difamação, ameaçado por trabalhar para divulgar documentos militares sobre as guerras do Afeganistão e do Iraque (“War Diaries”). Assange está sendo acusado de ter divulgado informação militar confidencial, que poria em risco a vida das pessoas cujos nomes aparecem nos documentos vazados e, também, de espionagem. Várias empresas jornalísticas envolveram-se também na mesma campanha de crítica e difamação.

Nós, jornalistas e organizações de jornalistas de vários países, manifestamos aqui nosso apoio ao Sr. Julian Assange e a organização Wikileaks.

Acreditamos firmemente que o Sr. Assange trouxe contribuição extraordinária com vistas a maior transparência e a indispensável relação de prestação e cobrança de contas, no campo da informação democrática, no que tenha a ver, até agora, com as guerras do Afeganistão e do Iraque – assuntos em relação ao quais a transparência e a livre divulgação de informação têm sofrido pesadas restrições, seja por ação dos governos, seja pelo controle e censura que as empresas jornalísticas se autoimpõem. Assange tem sido atacado por divulgar informações que de modo algum poderiam ter sido censuradas e impedidas de chegar à opinião pública.

Cremos firmemente que Wikileaks tem e deve ter pleno direito de divulgar material militar confidencial, porque é do alto interesse da opinião pública saber o que realmente se passou e continua a passar-se naquelas duas guerras. Os documentos divulgados por WikiLeaks são prova viva de que o governo dos EUA mentiu à opinião pública sobre suas atividades no Iraque e no Afeganistão; e que pode ter cometido crimes de guerra.

Os documentos vazados por Wikileaks criaram risco de vida para várias pessoas. Essa talvez seja a única crítica legítima que se poderia fazer a Wikileaks, por não ter revisado suficientemente os documentos, de modo a ter impedido a divulgação de nomes de pessoas – agentes duplos e espiões – cujas vidas pudessem ficar ameaçadas pela divulgação. Felizmente, ainda não há qualquer sinal de que alguém tenha sido ferido ou morto por ter tido seu nome exposto nos documentos vazados. Observamos também que Wikileaks aprendeu com aquele primeiro erro. A divulgação dos documentos sobre a guerra do Iraque foi mais cuidadosa nesse quesito.

O que realmente importa, contudo, são as provas que Wikileaks afinal divulgou, de que, sim, tem havido inúmeros abusos e crimes, cometidos por exércitos dos EUA e aliados. Essa divulgação é imensamente mais importante, e os crimes afinal comprovados são imensamente mais graves do que algum eventual erro de redação jornalística.

O Sr. Assange tem sido atacado e pressionado pessoalmente, por ser divulgador de seu próprio trabalho. Já pesam sobre ele, inclusive, acusações de espionagem. O Sr. Assange é tão ‘espião’ quanto qualquer jornalista e ou qualquer fonte das quais depende o trabalho dos jornalistas investigativos. Acusar Julian Assange de espionagem é precedente terrível, que ataca o coração de qualquer governo democrático.

Se houver crime de espionagem em publicar documentos recebidos de fontes confiáveis, praticamente todos os jornalistas do mundo serão culpados do mesmo crime. Os jornalistas temos o dever de apoiar e defender Julian Assange, face aos ataques que tem sofrido.

Desde a criação, em 2006, a organização Wikileaks tem sido fonte extraordinária de recursos e informação para jornalistas de todo o mundo, fazendo aumentar a transparência e democratizando a informação, em tempos em que os governos trabalham exatamente na direção oposta.

Embora não seja incluído no conjunto que se designa como ‘a mídia’ – e não aspire a ser aí incluído – a missão de WikiLeaks é oferecer informação confiável à opinião pública, sem se render a restrições injustificáveis na divulgação de segredos injustificáveis. O trabalho de WikiLeaks é ajuda formidável ao nosso trabalho jornalístico.

Na posição de beneficiários agradecidos do trabalho de Wikileaks e de Julian Assange, aqui manifestamos nosso apoio àquele trabalho.


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Basicamente, o que os EUA fazem é 
banir a liberdade de imprensa.

Cadê a ABI? Cadê os jornalistas brasileiros? Cadê os cursos de comunicação do Brasil?

'Tenho informações que abalariam as eleições no Brasil'

Jamil Chade CORRESPONDENTE / GENEBRA - O Estado de S.Paulo
ENTREVISTA
Julian Assange
FUNDADOR DO WIKILEAKS
Acompanhado por seis seguranças, o fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, não disfarça o incômodo com o fato de não ter residência fixa, só andar com escolta armada e ver seus funcionários sendo detidos por policiais em todo o mundo. "A censura está muito mais generalizada e profunda do que a sociedade imagina", alertou. Em entrevista aoEstado, o polêmico hacker, autodenominado jornalista e ativista, admite que nunca pensou que sua iniciativa de criar um site para publicar documentos secretos tomaria a dimensão que tomou.

Que tipo de repercussão teve a publicação dos documentos sobre o envolvimento americano no Iraque?
A única investigação aberta pelos americanos não foi contra seus soldados. Foi contra mim. Nesta semana, uma pessoa que apenas indiretamente estava ligada ao vazamento dos dados militares americanos foi detida na fronteira entre o México e os EUA. Seu computador foi confiscado. Ele havia visitado uma de nossas fontes. O Pentágono também criou uma lista de pessoas que trabalham dentro do próprio serviço americano que poderiam ser nossas fontes. São 120 funcionários suspeitos. Basicamente, o que os EUA fazem é banir a liberdade de imprensa.

Há também material sobre o Brasil que poderá ser publicado em breve?
Sim. Não posso dizer de quem se trata. Sabemos que parte da informação que temos sobre o Brasil poderia ter abalado as pretensões eleitorais de algumas pessoas. Mas não conseguimos ter tempo de publicar o material antes, diante de todo o caso do Iraque.

Além das ameaças, que outras pressões o sr. sofre?
Grande parte de nossa verba vem de doadores que mandam dinheiro com cartões de crédito. Mas, depois da publicação dos documentos sobre o Iraque, a empresa que fazia o trabalho de captação na internet suspendeu o contrato conosco e o motivo que nos deram era exatamente o fato de estarmos sendo visados pelos americanos.
A imprensa americana lhe dá a devida atenção?
Não. E o governo americano ainda impediu que nossas revelações chegassem às TVs a cabo. A imprensa americana não nos deu espaço.

O sr. não teme que essa pressão impeça seu site de operar?
Vamos continuar a publicar os documentos da forma mais rápida possível. Espero que as pessoas julguem alguém não pelo calibre de seus amigos, mas de seus inimigos.


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