Aécio nos embalos da ultradireita: até 'Sua Alteza Imperial' palestra sobre reforma agrária
O Instituto Millenium promove um Fórum em Minas Gerais, com a benção de Aécio Neves, e escolhe para palestrar sobre Reforma Agária... um monarquista, além da Senadora Kátia Abreu (DEMos/TO).
Mas o monarquista não é um qualquer, é "Sua Alteza Imperial e Real, o Príncipe" Dom Bertrand de Orléans e Bragança, descendente da família real, membro da TFP, coordenador e porta-voz do movimento Paz no Campo (uma espécie de anti-MST ideológico), cuja sede é no mesmo endereço da Associação dos Fundadores da TFP.
"Sua alteza" percorre o Brasil fazendo conferências para ruralistas e empresários. Do "alto de sua realeza", considera a Reforma Agrária e os movimentos sociais "nocivos" para os "rumos da civilização cristã", construída na concepção de seus antepassados, onde o lugar que cabia ao trabalhador rural era a senzala.
No mesmo Fórum, intitulado "1ª Edição MG – Fórum da Liberdade: Os Valores da Liberdade", Roberto Civita, o dono da revista Veja, recebe (ou entrega, não está claro na programação) o "Prêmio Liberdade".
Além de "Sua Alteza Imperial", e além de Aécio Neves (PSDB/MG), o governador Anastasia (PSDB/MG) palestra na abertura, e o ex-presidente FHC encerra o Fórum.
O príncipe-e-farol que lambe chocolate para não dividir com ninguém
Fernando Henrique Cardoso, o professor Cardoso, o príncipe dos sociólogos, o Farol de Alexandria, o sujeito mais vaidoso que caminha sob o sol, o grande parlapatão brasileiro (o senador Pedro Simon é um mero parlapatinho). Um cara que lambia o chocolate para não ter que dividí-lo com os próprios filhos e a mulher Ruth, segundo ele mesmo admitiu, entre o jocoso e o tolinho.
Pois, o professor Cardoso acaba de ser derrotado pela terceira e consecutiva volta, talvez, quarta, se computarmos o índice de popularidade com o qual se despediu do poder planaltino em janeiro de 2003, nada além de 23%, nível inferior à popularidade da governadora Yeda no Rio Grande do Sul, para vocês terem uma pálida ideia do rechaço popular ao Farol.
O jornalista João Moreira Sales fez uma reportagem com o príncipe, quando dona Ruth ainda era viva. O texto memorável foi publicado na revista Piauí (edição nº 11, de agosto/2007), e pode ser lido aqui. Vale a pena a leitura atenta. A seguir transcrevo o trecho final da reportagem com o grande parlapatão:
[...] À noite, amigos convidam a família Cardoso para um show de flamenco. A mesa é colada ao palco. A cada arranco do dançarino, que bate furiosamente os pés no chão, o presidente recua na cadeira, assustado.
Para o último jantar de FHC em Madri, no dia seguinte, ele, dona Ruth, Julia e um casal de amigos vão a um restaurante simplíssimo, quase um botequim. Oito mesas, se tanto. O ex-presidente vai direto para a cozinha e volta feliz: "Ganhei quatro votos", anuncia. As paredes são cobertas de fotografias - toureiros, políticos, o príncipe das Astúrias. "Vou ver as fotos", diz, e levanta de novo. Chegam croquetes, morcela, aspargos, queijo. Ele se farta. "A Ruth tinha essa educação comunista com os filhos, essa história de dividir tudo, inclusive a comida boa que de vez em quando eu trazia pra casa. Depois de um tempo, passei a lamber o chocolate na frente deles, pra ninguém meter a mão." "O camembert ele escondia no armário", confirma Ruth Cardoso. De sobremesa, Fernando Henrique derruba um prato de arroz-doce e se encanta quando descobre que ali servem rabanada também. Come rabanada a valer. Ao saber quem é o cliente, dono e funcionários do restaurante pedem fotos. FHC volta à minúscula cozinha e, junto do forno, posa com quatro empregados, todos com cara de mexicano. "Pronto, agora consolidei o voto", comemora. Alguém comenta: "Consolidou. No México".
Ruth Cardoso registra tudo, sem dar muita atenção. Se há alguém que não cai nos números do marido, é ela. Conta de uma viagem a Buenos Aires, quando passeavam pelo bairro da Recoleta e foram reconhecidos por um ônibus de turistas brasileiros. Confusão instalada, desceram todos e começaram a bater fotos. O sorriso de FHC se abre feito uma cortina. "Olha só pra ele", alfineta Ruth Cardoso. "Deviam ser todos petistas, Fernando, e você não passava de atração turística." Ele não se dá por vencido: "Em restaurantes de Buenos Aires eu sou aplaudido quando entro. É que eu traí os interesses da pátria, então lá eles me adoram". A neta Julia balança a cabeça: "Como é que ele diz essas barbaridades...".
Fotografia de Zeca Wittner/AE, pescada na revista CartaCapital desta semana, onde ilustra muito bem um artigo demolidor de Mino Carta contra o príncipe-e-farol.
By: Diário Gauche
Sempre comedida a campanha de Serra.Desta vez é um vídeo que, com serenidade, analisa os possíveis cenários após a eleição de Dilma.
O título, Dilma Rousseff 2010, já deixa intuir algumas coisas. Mas é ao assistir às imagens que podemos perceber qual a verdade: o Brasil está à beira do Armageddon.
Aprendizes clarividentes, os apoiantes de Serra confeccionaram um filme que não deixa dúvida: Dilma não deixará pedra sobre pedra e, após ter destruído São Paulo,o seu objectivo será a aniquilação do Brasil inteiro. Violência descontrolada, isolamento internacional, guerra civil: são apenas algumas das consequências. Os capitais? Fugidos. O turismo? Já é história. Irão e Venezuela estão no futuro dos Brasileiros, e por os piores motivos.
Na prática, o Brasil deixará de existir tal qual hoje o conhecemos.
E Dilma poderá então abandonar-se à orgias sabáticas no topo de Pão de Açúcar, entre luxuria e gargalhadas.
Esta última parte não é presente no vídeo, mas representa o seu óbvio desfecho.
Agora ficamos à espera da próxima curto-metragem na qual, provavelmente, será mostrada a altura em que Dilma assinou o pacto com o Diabo.
Ao que parece, o vídeo foi posto no site oficial da campanha de José Serra mas, após poucas horas, foi retirado.
Pena, pois bem demonstra a espessura da candidatura do PSDB.
Só um reparo: o título não deveria ser "Dilma 2012" mas "Boomerang".
Ipse dixit.
*informaçãoinc
Dilma desconstruiu as falsas personagens
Passado o vendaval da mais agressiva campanha eleitoral do Brasil pós-ditadura militar — mas ainda assim incapaz de desviar a nação dos trilhos de um projeto que vai agora inaugurando sua terceira etapa — é possível antever o caminho traçado pela primeira mulher escolhida por quase 60% dos 190 milhões de brasileiros para governar seu país.
Mais importantes que o fato de Dilma Roussef se tornar a primeira mulher presidente de um país em grande parte conservador e machista são as qualidades da presidente. Sementes de boa cepa, resistentes à seca e às tempestades, elas se desenvolveram num solo dizimado pela idéia de que não passava de uma “invenção política” do presidente Lula.
Cresceram teimosamente a cada golpe desfechado pelo jogo desleal de uma oposição disposta a reconquistar a qualquer preço o poder. Terminaram por vicejar frondosamente, a ponto de derrubar o mito com que geralmente se procura desclassificar as eleições presidenciais brasileiras — travadas entre os “dois Brasis” que coexistem num país de proporções continentais, com um eleitorado dividido em “segmentos” de classe.
Dilma seria, segundo tal ponto de vista, a candidata dos pobres e analfabetos de regiões atrasadas, derrotada nos estados “modernos” dos ricos e educados.
Dilma venceu no conjunto do Brasil, e em todas as classes sociais, pela franqueza, coragem e sentido pragmático com que colocou na boca de cena da política brasileira a competente executiva dos bastidores dos oito anos do governo Lula e sua extraordinária familiaridade com os grandes problemas e a complexidade do Brasil.
Por maior que tenha sido o empenho dos grandes meios de comunicação, e por milhões que tenham sido as mensagens apócrifas que se espalharam como vírus pela internet nos últimos meses, Dilma desconstruiu, uma a uma, as falsas personagens com que tentaram manchar sua candidatura.
Além de “criatura” de Lula, ela foi a “terrorista de alta periculosidade” que iria levar o Brasil a uma sangrenta luta armada; foi a doente em estado terminal que morreria ao assumir, deixando o governo para seu vice Michel Temer, fruto da coalizão com o velho PMDB, que a esquerda não consegue engolir.
Na versão da casta candidata a primeira-dama de seu adversário José Serra, tornou-se até mesmo uma potencial “assassina de criancinhas” por ter considerado a gravíssima questão do aborto no Brasil um caso de saúde pública.
Foi esta a mulher que, em seu primeiro pronunciamento como presidente eleita, cercada por correligionários do Partido dos Trabalhadores, leu, durante 25 minutos, (Lula falaria de improviso, provavelmente) o discurso com que carimbou cada uma de suas promessas de campanha, e que em última instância podem ser traduzidas num mesmo e único esforço: o de manter e ampliar um projeto político visando a redistribuição de renda, sem que isso implique num processo de radicalização ou estimule uma polarização na sociedade brasileira.
De um lado, Dilma passou a borracha na tinta ainda fresca dos jornais que conspiraram abertamente contra ela e fez o elogio e a defesa intransigente da liberdade de imprensa. Estendeu à mão à oposição, comprometendo-se com uma proposta de pacificação e diálogo e, para surpresa de todos, chegou a citar nominalmente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como um político de quem guarda “as melhores impressões”.
Do outro lado, deixou claro que não haverá ajuste fiscal às custas do social: ao contrário da Europa, onde os governos estão dilapidando o Estado do Bem Estar, o Brasil à la Roussef vai gastar mais ainda que o de Lula nos programas sociais, nos serviços essenciais e dos investimentos em infraestrutura. Ela sabe que o Brasil jamais será um país desenvolvido enquanto houver brasileiros com fome, famílias morando nas ruas e crianças abandonadas à sua própria sorte.
Em tempos de crise como a que o mundo se encontra mergulhado, este Brasil seguirá estimulando seu mercado interno e sua poupança. Vai aprovar um fundo social para investimentos na educação com os recursos do pré-sal e no modelo de partilha na exploração do petróleo. E vai manter inalteradas as diretrizes da política externa dos últimos anos, principalmente no que toca ao fortalecimento das relações Sul-Sul, especialmente com a América Latina — ao mesmo tempo que deve bater mais fortemente na luta contra o protecionismo dos países ricos e contra a guerra cambial.
Com estes elementos, é possível entender Dilma Roussef pela lógica de consolidação de uma novíssima social democracia brasileira, ou pelo espírito revigorado de uma esquerda da qual os países centrais foram sistematicamente se afastando a partir dos anos 70, até abandoná-lo definitivamente com a adesão incondicional aos princípios neoliberais globalitários dos anos 90.
Dilma terá mais facilidades neste processo de consolidação: os dez partidos da base governista, liderados pelo PT, conquistam pela primeira vez ampla maioria no Congresso Nacional e governar, aparentemente, vai ficar mais fácil.
Ao mesmo tempo, o Brasil sombrio e subterrâneo que emergiu do ódio e da polarização que alimentaram a campanha presidencial deste ano deu provas da resistência de sua sobrevida. Foi possível sentir no ar, o tempo todo, o desconforto anti-igualitário de uma classe média temerosa de perder seus privilégios diante do novo contingente de brasileiros que chega enfim a seu patamar.
Não é a primeira vez que isto acontece: foi assim nos momentos críticos que antecederam a morte trágica de Getúlio Vargas em 1954; na resistência à posse de Juscelino Kubitschek, em 1955; na manobra constitucionalista que evitou que o vice de Jânio Quadros, Jango Goulart, o substituísse depois de sua renúncia, e na desconstrução da liderança de Goulart como presidente, que culminou com o golpe militar que o depôs de 1964.
As garras afiadas deste Brasil sombrio voltaram a se retrair, mas a campanha para 2014 já começou. Como Lula, o primeiro operário a chegar à presidência, Dilma, a primeira mulher, não pode errar. Oxalá suas qualidades a levem a impor sua própria marca nos próximos quatro anos, de importância fundamental para o futuro do Brasil e de toda a América do Sul.
Elisabeth Carvalho do Outro Lado da Notícia
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