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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, novembro 08, 2010

O ovo da serpente





 
Carlos Pompe *
Há um inegável avanço do pensamento da direita, conservadora e reacionária, no mundo e Brasil. A campanha presidencial brasileira, com cúpulas religiosas alvoroçadas em ações contra Dilma Roussef – a candidata dos progressistas –, e o avanço de políticos ligados ao grupo Tea Party, do Partido Republicano dos EUA, são evidências desse avanço. A esquerda, em especial os marxistas, não podem arrefecer a necessária luta teórica contra essa onda que ameaça afogar a autoconsciência dos trabalhadores.
O avanço do irracionalismo não se dá apenas na América. No dia 17 de outubro, o Partido Comunista Português analisou a situação de seu país e registrou que “o capitalismo revela de forma mais evidente o caráter opressor, a natureza exploradora, os crimes e limites do sistema”, denunciando também a “profunda e poderosa ofensiva ideológica do grande capital visando a resignação e o conformismo”, o persistente “recurso ao anticomunismo, revelador do receio que as classes dominantes têm da ação organizada e do papel da classe operária e dos trabalhadores”.
No Brasil, a campanha eleitoral deixou clara a força do pensamento conservador, que tem voto e influiu principalmente nos discursos dos candidatos mais votados à Presidência. Analisando o episódio, o professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo (USP), Renato Janine Ribeiro, considerou esta uma “franja eleitoral que estará presente no debate nos próximos quatro anos. Esse tipo de pauta não vai desaparecer. Vai voltar em vários momentos. A primeira questão é saber como isso vai se configurar. Até porque existe uma tendência mundial de construir um pensamento conservador que tem forte densidade eleitoral. A gente vê isso nos EUA, na Europa, e vai ver no Brasil de uma maneira ou de outra.”
Outro uspiano, Robert Sean Purdy, professor de História dos Estados Unidos, afirmou, sobre o crescimento do movimento Tea Party: "O clima mudou muito nos dois anos (de governo Barak Obama). Antes, havia uma oferta de política nova, mas, pela falta de alternativas, a direita passou a dominar o cenário, com propostas que há dez anos seriam consideradas loucas: contra imigrantes e mesquitas, por exemplo. É uma situação diferente".
Nesse rastro reacionário que assola o mundo, a estudante de direito paulistana Mayara Petruso postou no Twitter: "Nordestisto (sic) não é gente. Faça um favor a São Paulo: mate um nordestino afogado!". Não é um pensamento novo: há anos, um dos jornalistas mais cultuados da grande mídia, Paulo Francis, teve cancelada a sua coluna no Diário de Pernambuco por expressar pensamento semelhante – como o jornal era nordestino, doeu nos brios... Mas todos sabemos que, quando a Mayara manda afogar nordestinos, não está pensando no senador pernambucano Sérgio Guerra (presidente do PSDB e dirigente da campanha do Serra) e nem no senador potiguar José Agripino (DEM). Está pensando nos nordestinos “vidas secas”, que existem e nascem em todos os recantos do país.
O cineasta Ingmar Bergman realizou, em 1977, o filme O ovo da serpente, mostrando o crescimento do irracionalismo – e a indiferença da maioria da população a esse fenômeno – na Alemanha pré-nazista. É do filme este alerta: “Ninguém vai acreditar em você, apesar de que qualquer um que fizer um mínimo esforço pode ver o que lhe espera no futuro. É como um ovo de uma serpente. Através das finas membranas, pode-se discernir o réptil perfeitamente concebido”.
*GilsonSampaio

OVO DA SERPENTE, O (1977)

CINEASTA: INGMAR BERGMAN
GÊNERO: DRAMA/SUSPENSE
DIÁLOGO: INGLÊS
LEGENDA: PORTUGUÊS
TAMANHO: 387MB
FORMATO: RMVB

Na Berlim arrasada pela Primeira Guerra Mundial, um desempregado consegue refúgio em um apartamento de um cientista, que também lhe oferece um emprego. Porém, aos poucos ele descobrirá uma terrível verdade naquele lugar, e que tudo isso tem a ver com o suicídio de seu irmão.

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