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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, novembro 06, 2010

Uma praça para Paulo Freire

 

Eis um nordestino de valor, dentre tantos que existem e já existiram
Por Otávio Barros
Excelentíssimo Senhor Prefeito da Cidade do Recife
Dr. João da Costa
Nós, educadores,educadoras e militantes sociais das mais diferentes regiões do Brasil, queremos expressar a V. Excia, por meio desta Carta-Manifesto, nosso desejo e proposta de que se nomeie a área do antigo Hospital Psiquiátrico da Tamarineira de
“Parque Educador Paulo Freire”.
Paulo Freire, cidadão do Recife que se fez cidadão do mundo, respeitado e acatado por intelectuais, por artistas, por lideranças políticas e religiosas, pela gente humilde, por universidades e governos de países dos mais diferentes matizes ideológicos e culturais, jamais se esqueceu de sua terra natal, onde cresceu, estudou e aprendeu a se solidarizar e lutar até o último dia de sua vida em prol da promoção política, social e cultural dos oprimidos e oprimidas, dos excluídos e excluídas.
Nada mais justo, entendemos, que a sua cidade natal acolha o seu nome num lugar que terá certamente a sua “cara”: um parque repleto de mangueiras, jaqueiras e caramboleiras, visitadas pelos pássaros cantantes, cenário decantado por ele em muitos de seus livros, pois deste convívio com a natureza, desde quando viveu seus primeiros anos de vida na Estrada do Encanamento, no Recife, ele nunca se apartou.
Queremos, em setembro de 2011, na data em que Paulo Freire faria 90 anos de seu nascimento, unir, indissoluvelmente, sua pessoa sábia e profética ao destino possível do Recife, como a cidade que valoriza os seus líderes e pensadores, que enobrece a boniteza de sua gente e a sua natureza tropical exuberante, legando à sua população, dentro do projeto de cidade voltada para o futuro e para o bem estar de seus cidadãos e visitantes, o “Parque Educador Paulo Freire”.
Contando com a sua enorme capacidade de entender a história com sua generosidade para com os que generosamente amaram a sua cidade, com sua sensibilidade e sua forte convicção de que o Recife tem tudo para voltar a ser a grande metrópole do Nordeste, e tendo a certeza de que as gerações futuras hão de reconhecer o valor histórico desta justa homenagem ao recifense que se tornou o maior educador brasileiro
Subscrevemo-nos.
13 de outubro de 2010.
Ana Maria Araújo Freire (Nita Freire)

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