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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, novembro 17, 2011

AS CAFUNGADAS DOS TOXICÔMANOS E DOS BANQUEIROS

Em sua coluna desta 5ª feira, Quando o vício é privado, o veterano jornalista Clóvis Rossi levanta a possibilidade de estar sendo inútel, mesmo do ponto de vista capitalista, o receituário neoliberal imposto a governos europeus, no sentido de que reduzam gastos sociais e infelicitem seus cidadãos.

A tese de CR (ver íntegra aqui), com a qual concordo, é de que a atual crise tem como principal vilão os bancos. Priorizar sua salvação só agrava os males, pois equivale a oferecer novas doses a viciados em drogas:
"...a cura, pela austeridade, do vício dos governos de gastar demais nem de longe resolve o problema.
 A banca (...) continua intoxicada e 'mata' um governo depois do outro, no desespero de mais uma cafungada nos juros obscenos cobrados para rolar a dívida de países europeus".
Mas, vou além de CR: em termos estruturais, os problemas não podem ser resolvidos sob o capitalismo. Deixar de acarretar penúria aos homens para socorrer bancos seria apenas um primeiro passo na direção correta.

No final da estrada encontra-se o fim do próprio capitalismo -- ou, talvez, o da espécie humana, se não livrar-se logo do sistema que a direciona para o abismo.
*Naufragodautopia

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