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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, novembro 13, 2011

As “folhices” da Folha

 

Afora a “casquinha” manipulatória da capa, colocando uma caricatura de Dilma  com “cara de repreensão” do lado da manchete que afirma que “58% dos alunos da USP aprovam a PM do campus”, a matéria de hoje da Folha é um livrinho ilustrado para crianças,  daqueles que faz lembrar a piada sobre Assis Chateaubriand dizendo a um diagramador “moderninho”: “meu filho, você sabe quanto custa um centímetro no meu jornal?”.
São sete historinhas que demonstrariam ao leitores como Dilma é autoritária, grosseira e intolerante. E sete conselhos para quem for tratar com ela.
Vejam: ela teve o desplante de reclamar de um dos militares que funciona na ajudância de ordens por não haver um guarda-chuva quando saía para a abertura da Assembléia Geral da ONU. Ou de querer que, sobre economia, fale o Ministro da Economia. O ministro das Relações Exteriores é colocado na posição de alguém que estaria mais preocupado com a “adaptação da família” de um representante diplomático brasileiro a Washington  do que com a posição do país na OEA.
Os “conselhos” aos interlocutores da presidente são um primor: “conheça o tema do qual vai tratar”…Jesus, será possível o contrário? Será que o Dr. Frias chama seus auxiliares para ou vir um “ah, chefe, eu pedi uma reunião com o senhor mas não tive tempo de estudar o que ia dizer-lhe”…
Tem mais: aconselha os ministros a não darem palpite sobre outras áreas de governo. Já imaginaram o que aconteceria com todos mundo falando o que quer sobre os outros? Nem precisa imaginar um governo, pense apenas num time de futebol onde os atacantes saem dando entrevistas dizendo como deve jogar a defesa ou criticando o goleiro. Ou um zagueiro dizendo que a defesa está bem, mas os atacantes jogam mal…
Enfim, duas páginas destinadas, exclusivamente, a firmar uma impressão de pessoa rude.
E que a condição feminina faria com que, na presidência, uma mulher pudesse ser considerada  uma dispersiva e deixasse de lado os temas de governo para ficar se preocupando com futilidades e que isso precisa ser “midiaticamente” anulado por uma imagem autoritária.
O pior é que, pelo tipo de historinhas selecionado, tem toda a pinta de ser escrito com a “ajuda luxuosa” de quem acha que os fatos são nada e a imagem na mídia é tudo. Ou que pensa que um Governo é algo como “A Fazenda” ou o “Big Brother Brasil”.
Não sei porque, mas tive a impressão de estar lendo duas páginas daquela antiga seção de anedotas  que as “Seleções do Reader´s Digest” usava para completar os espaços vazios no final de alguma matéria.
*Tijolaço

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