Estão a ser repetidos erros económicos que levaram Hitler ao poder
Via Esquerda.net
Dois investigadores estudaram os cortes orçamentais e a agitação social na Europa entre 1919 e 2009. Um deles declara que a política económica e financeira de corte nos salários e nas despesas sociais foi o que os alemães viveram na década de 1930 e levou à ascensão de Hitler e alerta: “Repetir este erro é completamente imperdoável, em 2011”.
Exértico a alimentar pobres, Berlim, 1931 - Foto retirada da wikipedia
Joachim Voth e Jacopo Ponticelli são investigadores da universidade Pompeu Fabra de Barcelona e fizeram o estudo “Austeridade e Anarquia: Cortes Orçamentais e Agitação Social na Europa, 1919-2009”, que está disponível em inglês no site voxeu.org, o estudo e um sumário.
Em declarações à agência Lusa, Hans-Joachim Voth refere: “Quanto mais corto nos benefícios sociais, mais agitação social tenho. O nível expectável de agitação aumenta maciçamente à medida que cai a despesa do Estado”.
Segundo a agência, os dois investigadores estudaram os movimentos de contestação social ao longo de 90 anos, em 26 países, incluindo Portugal. O período que analisaram vai de 1919 a 2009, atravessando o ascenso do nazi-fascismo, uma guerra mundial, o fim do colonialismo e inúmeras revoltas e revoluções.
Ponticelli e Voth concluíram que os países que escolheram aumentar os impostos em vez de reduzir as prestações e serviços sociais enfrentaram menos contestação nas ruas.
“Ao ver o Estado cortar a despesa, ao dizer aos mais pobres que eles não têm prioridade, um número significativo vai decidir que este não é o género de sociedade em que querem viver”, salientou Voth à Lusa, comparando o fenómeno a um fogo – o fósforo pode ser uma causa exterior, mas o combustível são as razões que levam “tantas pessoas dispostas a assumir o pior e a decidir invadir as ruas” e partir para as formas mais extremas de contestação.
“Se tudo desabar na agitação social, haverá um segundo ciclo em que nos vamos deparar com menos crescimento e receitas fiscais ainda mais baixas. Depois tem que se cortar outra vez e vamos acabar numa espiral, vamos acabar por destruir grande parte do tecido social e político que mantém a estabilidade na Europa”, prevê Voth.
O investigador, nascido na Alemanha há 43 anos, diz mesmo que, no caso da crise na Grécia, a Europa vai “olhar para trás e ver que perdeu uma oportunidade gigante” para reforçar o continente e corrigir uma política económica e financeira que Voth compara mesmo àquela que levou à ascensão de Adolf Hitler.
“É o que os alemães viveram no início da década de 1930. A cada ano, o governo tomava novas medidas orçamentais, reduzia os salários da função pública, tentava equilibrar o orçamento e sempre que fazia isto a economia contraía ainda mais, as receitas fiscais era ainda mais baixas, o governo tinha de cortar mais e, no final, destruiu a democracia alemã”.
“Repetir este erro é completamente imperdoável, em 2011”, concluiu Voth.
Nenhum comentário:
Postar um comentário