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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, novembro 22, 2011

Ex-prefeita de Fortaleza prega fim do capitalismo em Nova York @dilmabr #ForçaLula

- Integrante do grupo de extrema-esquerda Crítica Radical, Maria Luiza Fontenele se juntou ao Ocupe Wall Street para "derrotar o capitalismo".
A ex-prefeita de Fortaleza, Maria Luiza Fontenele (no centro, à esquerda), e a militante Célia Zanetti exibindo panfletos durante manifestação em Nova York
No dia em que centenas de policiais desocuparam o parque em Lower Manhattan, em Nova York (EUA), o movimento Ocupe Wall Street ganhou reforço tupiniquim. A ex-prefeita de Fortaleza, Maria Luiza Fontenele, de 68 anos, desembarcou em solo americano com mil panfletos na bagagem. Nos folhetos, um manifesto traduzido do português para o inglês decreta a morte do capitalismo e afirma que o dinheiro está obsoleto.

Carregando o calhamaço de papel repleto de utopias com inspiração marxista e anarquista pelas ruas de Manhattan, Maria Luiza defende o extermínio do sistema capitalista. “A gente percebe uma insatisfação muito grande das pessoas. Elas não acreditam mais no sonho americano, mas também não têm claro qual a outra vida que desejam”, reflete a socióloga, prefeita de Fortaleza nos anos de 1986 a 1989, eleita pelo PT. Ela foi a primeira mulher a governar uma capital brasileira. Anos depois, brigou com a política partidária e radicalizou o discurso contra o capitalismo.
Nos mil panfletos impressos em Fortaleza e transportados com zelo na bagagem de mão, está o texto intitulado "Because we shall defeat capitalim" (traduzindo para o português: Porque derrotaremos o capitalismo). Nele o movimento de extrema-esquerda Crítica Radical – da qual Maria Luiza participa – prega uma “articulação transnacional pela emancipação humana”. Segundo a análise feita por eles, o momento pelo qual passa o capitalismo financeiro não é mais uma “crise cíclica” e sim o “colapso final”. “Essa ideia não é muito difundida aqui. Queremos debater para que mais pessoas conheçam essa reflexão”, explica.
Maria Luiza e Célia Zanetti – ambas militantes do movimento de extrema-esquerda Crítica Radical – pegaram um avião em Fortaleza com destino aos Estados Unidos no início da semana. As duas levaram um susto quando chegaram à Nova York na terça-feira (15). Elas esperavam encontrar um imenso acampamento no coração do capitalismo financeiro. A ideia era se juntar ao Ocupe Wall Street, mas a polícia nova-iorquina já havia desocupado o parque em Lower Manhattan.
Decepcionadas e com frio, as duas voltaram para o quarto do Hotel Pennsylvania localizado no centro de Manhattan, perto do Madison Square Garden. Na quinta-feira (17) elas voltaram às ruas e se depararam com a passeata de mil pessoas na região da Bolsa de Nova York, celebrando o segundo mês de vida do Ocupe Wall Street. Momento perfeito para a panfletagem, não fosse pelo tumulto e a prisão de 100 manifestantes que tentaram impedir os funcionários do sistema financeiro de trabalhar.
"Ocupe Wall Street" leva manifestantes de vários países às ruas
“Havia um esquema repressivo muito grande. As ruas estavam todas cercadas por barreiras e cordões humanos formados por policiais”, contou à reportagem do iG Célia Zanetti.
Mesmo diante dos perigos, as duas insistiram na missão e divulgaram os ideais de emancipação humana que costumam pregar em Fortaleza sempre que algum protesto ganha as ruas da capital cearense, como foi durante a greve dos professores da rede estadual do Ceará recentemente. “Tinha gente de quase todo o mundo. As pessoas foram muito receptivas”, disse Maria Luiza.
Prefeitura de Fortaleza
Maria Luiza foi eleita prefeita em 1985 quando os prefeitos das capitais voltaram a ser escolhidos pelo voto direto. Na campanha, a candidata do PT era considerada carta fora do baralho. As pesquisas apontavam Paes de Andrade em primeiro lugar com 50% das intenções de voto e Lúcio Alcântara em segundo com 21%. A então jovem professora do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC) aparecia em terceiro com 10%.
As urnas surpreenderam a todos, inclusive os petistas, que sequer possuíam um projeto consistente para a cidade, dada a descrença na vitória. Maria Luiza assumiu uma prefeitura endividada, com uma folha de pagamento do tamanho da receita do município e uma política fiscal que concentrava ainda mais que hoje os recursos nas mãos da União e dos Estados. Sem dinheiro e o apoio do então governador Tasso Jereissati, falando em “moralizar” a administração pública e com um discurso socialista, ela enfrentou greve geral, insatisfação popular e terminou a administração rachada com o PT e com as ruas da cidade cobertas pelo lixo.
O PT demorou mais de dez anos para se recuperar no Ceará, depois do saldo de sua primeira gestão em Fortaleza. Apenas na primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva o partido conseguiu se restabelecer no Estado. Somente em 2004, em uma nova eleição surpreendente, sem o apoio da cúpula nacional do PT, Luizianne Lins levou o partido de volta ao poder, onde ainda permanece.
Causas internacionais
Não é a primeira vez que a ex-prefeita Maria Luiza se engaja em uma causa internacional. Ela, junto com outros integrantes do grupo Crítica Radical, lutou por anos contra a extradição do ativista italiano Cesare Battisti, acusado em seu país de assassinato e terrorismo. Ela esteve em Brasília no Palácio do Planalto em campanha pela libertação de Battisti por diversas vezes e também quando o caso foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Em seu último dia de mandato, com uma "canetada", o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pois fim ao impasse e manteve o ativista no Brasil, acatando um parecer da Advocacia-Geral da União (AGU).

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