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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, novembro 22, 2011

Luciano Huck e o “peixe urbano”

Por Altamiro Borges

Na sua versão online, a Agência Estado deu hoje uma pequena notinha:

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Procon-SP autua três sites de compra coletiva por irregularidades

21 de novembro de 2011 - 13h 43


A Fundação Procon-SP autuou os sites Groupon, Click On e Peixe Urbano e mais onze estabelecimentos por irregularidades na venda de produtos e serviços por meio de compras coletivas. Entre as falhas encontradas pela fiscalização da entidade estão falta de garantia da qualidade dos serviços oferecidos, não devolução dos valores nos casos de não prestação do serviço e informação incorreta do porcentual de desconto oferecido. Segundo o Procon-SP, os sites de compras coletivas responderam por 767 reclamações de consumidores à entidade de janeiro a setembro deste ano.

As empresas irão responder a processos administrativos e correm o risco de serem multadas de R$ 400 a R$ 6 milhões, com base no artigo 57 do Código de Defesa do Consumidor. Nos estabelecimentos físicos, os fiscais encontraram ausência na informação de preço para que o consumidor ficasse impossibilitado de comparar o valor ofertado no site e o praticado, alteração dos preços anunciados no período da promoção e recusa na devolução do dinheiro nos casos de não prestação do serviço.


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O “bom-mocismo” da mídia

O curioso nesta história é que o Estadão simplesmente deixou de informar a seus leitores que uma das empresas autuadas, Peixe Urbano, tem como acionista o apresentador global Luciano Huck. E olha que o rapaz é uma celebridade!

Ele já foi capa da revista Veja, numa matéria bajuladora sobre seu “bom-mocismo”. Também foi um das estrelas da campanha do tucano José Serra em outubro passado. E, segundo alguns colunistas sociais, o astro da TV Globo até teria pretensões eleitorais.

Um negócio milionário

Os negócios de Luciano Huck com a empresa autuada são públicos. A revista Exame de dezembro último noticiou que ele adquiriu 5% das ações do Peixe Urbano. “O interesse em firmar a parceria foi do próprio apresentador, que tinha um amigo em comum com os fundadores”, revelou Letícia Leite, diretora de comunicação do sítio.

Ainda segundo a revista, o Peixe Urbano foi pioneiro no negócio de compras coletivas no Brasil. “Julio Vasconcellos, à frente do site, trouxe o modelo dos Estados Unidos há oito meses. Desde então, houve uma explosão nesse mercado. Hoje, são quase 250 sites copiando o modelo. Presente em 29 cidades, o Peixe Urbano já ultrapassou 5 milhões de usuários cadastrados”.

Jornal Nacional vai fazer escândalo?

A Exame também informou que Luciano Huck tem participação em outros negócios, como a academia carioca Body Tech e a rede de frozen yogurt Yoggi. Apesar destas informações estarem disponíveis na internet, o Estadão preferiu não mencionar o artista global. Se fosse alguém ligado ao governo seria o maior escândalo. Mas entre os "amigos" prevalece o “bom-mocismo”.

Será que o Jornal Nacional, da TV Globo, vai falar sobre as autuações? Será que Luciano Huck será capa de uma nova edição da revista Veja? Será que José Serra vai se solidarizar com seu cabo-eleitoral de luxo?

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