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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, novembro 13, 2011

Lula: “Quero ajudar Dilma em 2014″

Duas semanas depois de ficar sabendo que está com câncer na laringe, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostra seu estado de ânimo ao falar dos planos para o futuro:
"Quero estar forte em 2014 para ajudar a reeleger a Dilma"", contou em meio a uma conversa de mais de duas horas na tarde deste sábado, na sala do seu apartamento, no centro de São Bernardo do Campo, o mesmo onde morava antes de ser eleito presidente da República.
Lula só não se conforma de não conseguir comer seus pratos prediletos. Tinha pedido uma feijoada para o almoço, cortou tudo em pedaços pequenos, mas não conseguiu comer. O tratamento de quimioterapia provoca-lhe enjôos e o fez perder o sabor dos alimentos.
"Gostaria de entrar num freezer e só sair quando terminar essa quimioterapia...", brincou ele, ao relatar suas dificuldades com a nova rotina imposta pela doença, sem perder o bom humor.
Fora isso, Lula percebeu que já começou a perder cabelos no alto da cabeça e está conformado com a idéia de que também ficará sem a barba que cultiva desde o final dos anos 1970.
A voz já voltou ao normal e ele está com muita vontade de falar, principalmente do cenário político para as eleições de 2012. Lula até já gravou, na última sexta-feira, sua participação no programa do PT que irá ao ar em dezembro.
Seu objetivo imediato é convencer o PMDB a repetir em São Paulo a aliança que elegeu Dilma no ano passado.
Ao lado da mulher, Marisa, o ex-presidente lembra que nunca ficou tanto tempo sem sair de casa. Tinha várias viagens ao exterior marcadas até o final do ano, mas teve que cancelar tudo até fevereiro.
Daqui a dez dias, ele inicia a segunda sessão de quimioterapia, um tratamento penoso que o deixa com um gosto ruim na boca. "A Dilma me falou que isso passa rápido. São só três sessões. Quer dizer, um terço já passou...".
No final da tarde, o casal Silva recebeu a visita do casal Luiz Marinho, velhos amigos e vizinhos de chácara na represa Billings. A "vó" Marília, sogra de Marisa no seu primeiro casamento, que vive com a família, preparou o café. Sandro, o filho do meio dos dois, deu plantão junto ao telefone que não parava de tocar.
Fiquei feliz de reencontrar Lula com a mesma disposição de sempre, elevando o tom de voz para convencer os outros de que seus argumentos estão certos, em especial quando se queixa do noticiário da imprensa, uma discussão que a gente sempre tinha nos primeiros anos de governo.
A queixa é a mesma: a imprensa só se interessa em dar notícias ruins, não mostra o que acontece de bom no país. Para provar, pega o relatório que recebeu esta semana sobre o programa "Luz para todos", um dos orgulhos do seu governo, que superou a marca de 3 milhões de famílias atendidas.
Quando as visitas já estavam se despedindo, chegou a filha Lurian com dois dos netos de Lula. Dali a pouco era hora de jantar, tentar comer alguma coisa além de carne moída, arroz e ovo frito. O velho Lula continua de bem com a vida, apesar de tudo.
Vida que segue.
*Balaio do Kotscho

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