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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, novembro 02, 2011

Madri: despejados por causa da crise tomam hotel abandonado

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Ativistas espanhóis tomam hotel abandonado para que famílias despejadas por dívidas morem no local
Ativistas espanhóis tomam hotel abandonado para que famílias despejadas por dívidas morem no local
Foto: Divulgação


Um hotel de três estrelas em pleno centro de Madri foi transformado no "Hotel do Povo". O edifício, que estava abandonado e embargado judicialmente devido a dívidas, foi invadido por jovens manifestantes para servir de abrigo a famílias despejadas pela crise.O nome "Hotel do Povo" foi escolhido por cerca de 200 jovens ativistas que decidiram ocupar o prédio no fim de outubro, afirmando que não tem sentido que os despejados estejam nas ruas, havendo prédios embargados vazios.Os cinco andares com cafeteria, sala de jogos e duas varandas em uma das ruas mais comerciais da cidade estão completamente mobiliados. Apesar do abandono, contam com tapetes vermelhos, decoração e aparelhos de TV. A luz funciona, mas não há água.
Indignados
Depois de uma assembleia popular aberta a manifestantes nas redes sociais, os jovens autodenominados "Indignados" resolveram limpar o hotel e oferecer os quartos às famílias atingidas pela crise.
A primeira hóspede é uma mulher de 75 anos despejada na semana passada por não pagar as dívidas bancárias. Foi recebida com aplausos e um comitê de boas-vindas na entrada do Hotel Madri (nome original). Ainda esta semana, mais 16 famílias deverão ser alojadas em dois andares que já foram limpos e condicionados para abrigar os despejados.Segundo os ativistas, as tarefas de limpeza estão sendo feitas por voluntários que preparam 40 quartos para os próximos dias e já estão organizando a fila de espera para os futuros acolhidos. O objetivo é abrigar os despejados em pior situação social, mas de forma provisória.
Polícia
Os acolhidos não terão prazo para sair do hotel, mas sabem que só poderão permanecer ali até que encontrem outra moradia ou que a polícia intervenha. Esta intervenção já aconteceu, mas por enquanto não serviu para retomar o controle do hotel.
Dois dias depois da invasão, o representante legal da imobiliária proprietária do imóvel tentou entrar no edifício com cinco policiais. Imediatamente os "Indignados" pediram ajuda nas redes sociais e conseguiram formar um bloqueio humano com centenas de manifestantes na entrada do edifício.Com cartazes, faixas penduradas nas janelas e sacadas e gritos de "a nova casa do povo", "essa crise não pagamos nós" e o tradicional "o povo unido não será vencido", o protesto conseguiu obrigar a polícia a desistir.O advogado do proprietário se conformou em deixar cartões com seus telefones para que os manifestantes o procurem para negociar.
Extrema esquerda
A Chefatura Superior da Polícia Nacional teve que responder a críticas feitas pelo governo regional de Madri, que acusou a polícia de estar sendo passiva mediante a invasão, que seria uma ação de um movimento de extrema-esquerda.
Segundo uma nota emitida pela polícia, a empresa proprietária do Hotel Madri fez uma queixa na delegacia pela invasão do imóvel, mas "a polícia não vai voltar a intervir enquanto não houver uma resolução judicial do caso".O grupo Imobiliário Monteverde, dono do prédio, faliu em 2010, deixando dívidas com empregados e fornecedores equivalentes a R$ 400 milhões. O processo está parado porque os proprietários do hotel não apresentaram propostas para saldar a dívida.Segundo a polícia, os donos do imóvel podem pedir aos juízes o despejo dos invasores, mas primeiro tem que enfrentar suas próprias ações penais pelas dívidas do edifício.Os ativistas madrilenhos já afirmaram que pretendem ampliar a ideia de invadir outros locais embargados pela Justiça para dar abrigo a mais famílias despejadas pela crise, estendendo a cadeia de hotéis do povo por todo o país. A proposta já tem até um lema: "Nenhuma família na rua".
*Terra

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