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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, novembro 20, 2011

‘Miséria é a principal herança da escravidão’, diz presidente em encerramento de encontro na Bahia





Dilma afirma que 'pobreza no Brasil tem face negra e feminina'

‘Miséria é a principal herança da escravidão’, diz presidente em encerramento de encontro na Bahia

Dilma participa do encerramento de evento em Salvador de comemoração do Ano Internacional dos Afrodescendentes Foto: Divulgação / Presidência









Dilma participa do encerramento de evento em Salvador de comemoração do Ano Internacional dos Afrodescendentes Divulgação / Presidência
SALVADOR – A presidente Dilma Rousseff disse neste sábado que "a pobreza no Brasil tem face negra e feminina". Daí a necessidade de reforçar as políticas públicas de inclusão e as ações de saúde da mulher, destacou, ao encerrar, em Salvador, o Encontro Ibero-Americano de Alto Nível, em comemoração ao Ano Internacional dos Afrodescendentes. Em discurso, ela explicou por que as políticas de transferência de renda têm foco nas mulheres, e não nos homens: elas "são incapazes de receber os rendimentos e gastar no bar da esquina". Dilma destacou que, nos últimos anos, inverteu-se uma situação que perdurava no país, quando negros, índios e pobres corriam atrás do Estado em busca de assistência. Agora, o Estado é que vai em busca dessas populações, declarou.
Dilma também definiu a “invisibilidade da pobreza e a miséria” como a herança mais marcante da escravidão. Segundo ela, atrelada a essa herança, veio a visão das “elites” de que o país poderia crescer “sem distribuir renda e incluir”. Nesse sentido, lembrou os programas inclusivos iniciados com a gestão do ex-presidente Lula e seu lema de que “pais rico é país sem pobreza”.
Segundo Dilma, os afrodescendentes são os que mais sofrem com o desemprego, a violência e a extrema pobreza. Por essa razão, disse que “reverter esse quadro é o objetivo da Carta de Salvador” e defendeu as políticas públicas de promoção e igualdade social. Ao explicar a necessidade de ações de combate à pobreza, a presidenta citou o Programa Brasil sem Miséria, cujo objetivo é retirar 16 milhões de pessoas da pobreza extrema. No discurso, ela destacou ainda a criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), em 2003, e a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, no ano passado, além da obrigatoriedade do ensino da história afrobrasileira nas escolas. Dilma apontou também o fato de a data do evento coincidir com a da morte do líder negro Zumbi dos Palmares, com o Dia Nacional da Consciência Negra, a ser comemorado amanhã (20), e com os 123 anos do fim institucional da escravidão no país. Nestes 123 anos, disse a presidenta, "sofremos as consequências dramáticas da escravidão" e foi preciso combater uma delas, a sistemática desvalorização do trabalho escravo, que resultou na desvalorização de qualquer tipo de trabalho no país.
Ela destacou ainda que as políticas dos países latino-americanos de estabelecer seus próprios mercados tem ajudado a América Latina a enfrentar a crise econômica internacional e permitir, assim, o desenvolvimento de políticas públicas sociais.
Por outro lado, manifestou-se preocupada com os rumos da crise. Para ela “o risco de instabilidade pode agravar as desigualdades sociais em todo o mundo”. Ela lamentou que a recessão tenha sido imposta como receita para a crise na Europa.
- Sabemos que esse processo não dá certo, provoca desemprego, perda de ganhos sociais e não resolve o problema - disse, receitando “expansão do consumo e inclusão social” para o enfrentamento do problema.
A presidente lembrou ainda que recorrer ao FMI não é um bom negócio, assinalando que o Brasil só conseguiu melhorar a economia após pagar sua dívida com o Fundo. Focando na proposta de maior participação do gênero feminino nos governos, Dilma disse que a valorização das mulheres em todos os campos é urgente.
Chefe de estados e representantes de 14 países participaram do evento. Um deles, o presidente do Uruguai, José Mujica, não só apoiou os termos da Carta de Salvador como defendeu a proposta de que todos os homens e mulheres de origem africana recebam educação de qualidade. Mujica concorda que somente a educação é o caminho da igualdade social.
- A negritude não quer esmolas, mas oportunidades e direitos iguais - disse.
*AposentadoInvocado

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