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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, novembro 14, 2011

Músico dribla segurança da Casa Branca


A mudança na apresentação do número musical do jantar da última noite do encontro da APEC - Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico, deixou alguns líderes mundiais de queixo caído, embora a maioria não tenha se dado conta de que alguma coisa estava errada.
Durante o jantar de gala, o renomado guitarrista Hawaiian Makana, que já tocou na Casa Branca em 2009, abriu seu casaco para exibir no peito a inscrição "Ocupe com Aloha", uma alusão ao "Ocupe Wall Street". Aloha é a palavra havaiana para saudações. 
Ao invés de tocar a música de fundo instrumental esperada, Makana passou quase 45 minutos cantando repetidamente sua canção de protesto recém composta, chamada "Somos a maioria" e inclui frases como "Os lobistas em Washington realmente mastigam... e enquanto eles não forem expurgados, não nos retiraremos" e "Vamos ocupar as ruas, vamos ocupar os tribunais, vamos ocupar os gabinetes de vocês, até que cumpram a vontade da maioria, não dos poucos". Este último refrão foi cantado pelo menos 50 vezes
Dentre os presentes que ouviram a mensagem de Makana estavam os presidentes Barack Obama dos Estados Unidos da América, Hu Jintao, da China, Susilo Bambang Yudhoyono da Indonésia, o primeiro-ministro Stephen Harper do Canadá, e mais uma dúzia de outros chefes de Estado.
"No início, eu estava preocupado com a canção "Somos a maioria", disse Makana. "Mas achei estranho ficar com medo de cantar uma canção que eu havia escrito especialmente para essas pessoas."
O jantar foi o evento mais seguro do encontro. Foi realizado no hotel Koa Hale, um parque com cerca 30 hectares controlado pelo Departamento de Defesa dos EUA, no qual foram instaladas mais de 3 quilômetros de cercas exclusivamente para o encontro da APEC.
Makana estava surpreso de que ninguém tenha se oposto a ele tocar sua música abertamente crítica. "Eu só ficava fazendo versões diferentes", disse ele. "Eu devo ter repetido o refrão "dos muitos, e não os poucos" pelo menos 50 vezes, como um mantra. Foi surreal e preocupante ".
A nova música Makana é inspirada no movimento Ocupar Wall Street, que se enraizou em cidades em todo o mundo. No último sábado, oito manifestantes foram presos quando se recusaram a deixar o acampamento Ocupar Honolulu no Thomas Square Park, para também protestar contra a reunião da APEC.
Depois de enfrentar grandes protestos na Coréia do Sul, Austrália, Peru, e no Japão, a APEC mudou o evento deste ano para o Havaí, o pedaço de terra mais isolado do planeta.
Em preparação para a reunião, muitas famílias foram transferidas para áreas mais distantes e milhões de dólares dos contribuintes foram gastos em segurança, incluindo mais de 700 mil dólares em armas não letais para controlar a multidão.
"Makana realmente marcou um grande tento, entregando a mensagem "Ocupar" dentro do que é provavelmente o lugar mais seguro do planeta neste momento", disse Mike Bonanno do YesLab.
"Meu tio me ensinou a sentir o público e tocar o que meu coração me diz", disse Makana. "Isso é o que eu fiz esta noite."
 

 
*comtextolivre

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