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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, novembro 20, 2011

Radicalização na USP ressuscita estilo CCC

Panfleto apócrifo distribuído no campus usa imagem de Vladmir Herzog morto como ameaça contra "os estudantes maconheiros"; "suicídio é triste!", ironiza texto, ao feitio das piores peças do Comando de Caça aos Comunistas; na mídia, colunista Reinaldo Azevedo registra BO sobre ameaça que teria sofrido; voltamos aos anos de chumbo?
O que está acontecendo com a atual geração de estudantes da maior universidade brasileira? Nesta sexta-feira, dia histórico em que a presidente Dilma Rousseff, diante de todos os chefes militares, instituiu a Comissão da Verdade para apurar os crimes da ditadura, um documento apócrifo, ao estilo das piores peças do antigo Comando de Caça aos Comunistas, foi distribuído na USP. Com uma imagem do jornalista Vladimir Herzog morto, trazia a mensagem "Suicídio é triste" e foi endereçado aos estudantes "maconheiros". Teria sido produzido por radicais de direita que, a partir da defesa da presença da PM na USP, tese abraçada pela maioria dos estudantes, avançam para o enfrentamento ideológico da pior espécie.
Também no dia de hoje, o colunista Reinaldo Azevedo, da revista Veja, classificado como "fascista" pelos estudantes que ocuparam a reitoria da USP, registrou um boletim de ocorrência contra ameaças que estaria sofrendo de grupos mais à esquerda na universidade. Gente que, segundo o colunista, teria dito: "Vou te quebrar na rua". Nas últimas semanas, Reinaldo ironizou os estudantes que ocuparam a Reitoria, chamados por ele de "remelentos e mafaldinhas".
Entre um episódio e outro, as eleições para o Diretório Central dos Estudantes foram adiadas, com acusações de golpe de parte a parte. Rodrigo Souza Neves, da chapa "Reação", que se coloca contra a direção atual, foi acusado de portar uma arma. E este, por sua vez, denuncia uma farsa eleitoral que teria sido perpetrada pelos grupos que hoje dominam o DCE.
O clima é de tensão, numa radicalização gerada, em grande parte, pelos que evitam discutir os temas levantados pelos estudantes e incitam ódio e preconceito na política.
Por outro lado, ao cobrirem o rosto e impedirem o trabalho da imprensa, os estudantes ditos de esquerda também colaboram para tensionar ainda mais o ambiente.
As pontes para o diálogo estão rompidas.
E o que se vê na USP são cenas que remetem aos piores momentos da ditadura militar.
É o ocaso da razão.
Marco Damiani
*Brasil 247

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