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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, novembro 18, 2011

William "Bill" Waack


Eric Ehrmann, para o The Huffington Post (maior site noticioso dos Estados Unidos)
3/11/2011


Wikileaks irrompe no Brasil... Assange marca âncora de telejornal como verruga da mídia
Com a Corte de Apelações Londrina decidindo se o ativista de mídia Julian Assange deve ou não ser extraditado à Suécia a fim de submeter-se a julgamento por crimes sexuais, o fundador do Wikileaks dançou seu última samba ao expor um dos âncoras de maior credibilidade no telejornalismo do Brasil como sendo o que parte da mídia local vem chamando de informante, ou até mesmo agente da CIA, incumbido de promover a política e interesses dos Estados Unidos.
De acordo com mensagem confidencial do departamento de estado, publicada pelo Jornal do Brasil e outros veículos de mídia on line, a pessoa visada é William “Bill” Waack. O jornalista de 59 anos de idade da TV Globo moderou um crucial debate nas últimas eleições e é âncora da TV Globo.
Waack fez boa presença ao entrevistar a secretária de estado Hillary Clinton que representou o presidente Barack Obama numa viagem de 36 horas ao Brasil, e que depois ajudou a encaminhar junto às autoridades nacionais negócios de interesse americano na viagem de março.
O documento do departamento de estado revela que Waack contou a funcionários americanos que Dilma era candidata menos qualificada e que parecia “incoerente”, manifestações essas coerentes com os esforços posteriormente empreendidos pelo jornalista que buscaram caracterizar Dilma como candidata pouco promissora na campanha eleitoral.
Festejado correspondente estrangeiro da TV Globo em capitais européias e em áreas de conflito, que chegou a âncora dos telejornais de maior audiência da emissora, a imagem de Waack como uma espécie de Walter Cronkite brasileiro parece mais ajustar-se à descrição das atividades que se faz dos dispositivos de propaganda arranjados pelo legendário estrategista global para a mídia da CIA Cord Meyer, que permanece até hoje como articulador para assuntos da inteligência dos Estados Unidos.
Meyer entrou para a CIA depois de haver rompido com os comunistas do movimento federalistas, uma organização globalista pioneira. Seu manual para a mídia da América latina acabou sendo herdado por Tom Enders, quem, como Meyer, foi membro da organização secreta “A Chave e o Manuscrito” de Yale e serviu como assistente do departamento de estado para assuntos interamericanos durante a era Reagan, quando Waack apresentou-se pela primeira vez aos coquetéis partidários que incluíam jornalistas.
Ao longo dos últimos anos, de acordo com o Jornal do Brasil e outras fontes, Waack encontrou-se por diferentes ocasiões para passar e receber informações do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, e oficiais do governo de Israel. As opiniões pró-americanas de Waack têm sido excitadas na revista “Interesse Americano”, em que Waack tem censurado severamente o Brasil por causa da intensificação das suas relações de comércio com a China.
Ainda que seja comum para a diplomacia e os serviços secretos das nações que constituem o grupo dos 20 manterem relações com a mídia, por meio das quais informações e dinheiro mudam de mãos – mesmo que tais contatos permaneçam ocultos – as revelações sobre Waack podem representar mesmo assim um “canto do cisne” para Assange.
O fundador do Wikileaks vem batalhando para garantir suporte financeiro para seu projeto cujo sentido econômico diz ele em sua biografia na Wikipedia é baseada no estilo americano de libertarismo. Apoiadores de esquerda do seu projeto têm sempre destacado as contradições entre os pontos de vistas libertários de Assange e os deles próprios, que advogam por uma internet verdadeiramente aberta. A BBC e outros sites noticiosos informam que o Wikileaks deixou de publicar informação classificada.
Pra desenrolar a fita do mito urbano que leva as pessoas a pensarem que tudo que diga respeito ao Wikileaks é secreto, é preciso que se diga que ao menos 245.000 dos documentos que constituem a massa do projeto 53% não está classificado, 40% é classificado como confidencial com vistas a salvaguardar interesses americanos em torno das matérias, e apenas 7% levam o carimbo de secretos.
A popular ONG sueca conhecida como “partido pirata” vem abrigando o Wikileaks em seus servidores, mas afastou-se de Assange tão logo ficou evidente que seus problemas de ordem legal estavam comprometendo suas filiações e dificultando os esforços da organização de cobertura “Partidos Piratas Internacionais” para fazer da ONG um player na política de varejo brasileira, vista como oportunidade.
Ironicamente, o ex-presidente Lula, alvo freqüente das críticas do Wikileaks, deu suporte a Assange depois que ele foi detido em dezembro último pelas autoridades britânicas. Também o capitão reformado da marinha Daniel Ellsberg, famoso pelos “papéis do pentágono”, expressou solidariedade ao fundador do Wikileaks sugerindo que Assange foi vítima da mesma repressão que ele mesmo sofreu quando desgostou Richard Nixon e Kissinger em 1971.
Apesar dos esforços feitos para denigrar a imagem de Dilma, sua aprovação beira os 70%. Ela acabou de subir o tom em relação à política amena em relação às ONGS de todas as linhagens, suspendendo-lhes o pagamento de subvenções federais de 7,5 bilhões de dólares recebidas nos últimos 3 anos. A mudança de atitude dependerá de um censo das ONGS, muitas delas com agendas globais, como o nascente Partido Pirata do Brasil.
Devido ao fato de que Waack é um mito no Brasil, dificilmente sua imagem sairá arranhada do episódio. Mas a revelação é um lembrete à imprensa livre e aos que advogam uma internet livre sobre como a diplomacia pública americana, manifesta na cultura midiática local, pode produzir realidades políticas em democracias emergentes, com potencial de interferir nos resultados das urnas.
Agora o jogo grandioso desloca-se para o Rio de Janeiro e para e o batuque do samba. Com as eleições municipais à vista e a influência do ex-presidente Lula, afastado para se submeter a tratamento médico, a próxima parada carnavalesca da política brasileiro bem pode ter William Waack puxando o bloco.
 link para o artigo em inglês: http://www.huffingtonpost.com/eric-ehrmann

O caso Wiliam Waack: David responde aos Golias



Para quem pegou o programa pela metade convém retomá-lo. Há quase 2 meses atrás este Blog reproduziu notícias que circulavam pela rede dando conta da existência de documentos do Wikileaks que associavam o jornalista Wliam Waack com o governo americano.
Antes desse texto, um primeiro foi publicado  que apontava o surgimento da TV Globo como resultado, por um lado, da iniciativa do governo militar que se instalou no país com o golpe de 1964 e, por outro lado, do acordo firmado entre o jornal da família Marinho e o grupo americano Time – Life  em 1965 na cidade de Nova Iorque.
O texto encerrava-se com a afirmação opinativa de que muito embora fossem conhecidas as ligações da TV Globo com grupos americanos, desconhecia-se o fato de que essas relações se estendessem ao governo daquele país e que muito menos tivessem continuidade até os dias de hoje, como faziam supor  os documentos trazidos a público pelo Wikileaks.
Esse texto permaneceu postado sem que suscitasse maiores controvérsias.  Até que pouco tempo depois a mídia anunciasse o encerramento das atividades do site, o que fez o Blog publicar novo texto lembrando a existência dos documentos relacionados às atividades do jornalista.
O assunto ganhou então súbita divulgação, vindo a ser repercutido pelos principais sites noticiosos do País e do exterior como o americano Huffington Post.
Essa repercussão apenas foi possível porque o site R7 de Edir Macedo com sua mais que conhecida indisposição com relação à TV Globo, fez publicar matéria que citava o Blog como fonte da informação e reproduzia à sua conveniência trechos do texto nele postado.

Foi o bastante para que um tema amanhecido ganhasse fóruns de novidade e viesse a dar ensejo como que a um escândalo nacional.
Confirma a exegese simplória do que pode ser denominado o “episódio Waack” a matéria do site Observatório da Imprensa, subscrita pelas representantes “Organização Pública” de jornalismo investigativo, responsável pela divulgação dos documentos do Wikileakis.
 Nessa matéria as jornalistas Marina Amaral e Natália Viana,  a par de buscar banir quaisquer suspeitas sobre as atividades Wiliam Waack, manifestam elas mesmas surpresa com a repercussão do assunto.
Na defesa do colega jornalista, Marina e Natália, colocam na berlinda os ex-ministros Nelson Jobim e José Dirceu não deixando dúvidas sobre a opinião de que sobre esses sim deveria recair a condenação dos leitores e internautas. Inferem que por serem homens de Estado deveriam pautar suas condutas por maior recato nas interações com governos estrangeiros.
Usam em favor do jornalista a imagem do mecânico com mãos sujas de graxa para insinuarem que era da natureza do trabalho de Waack falar sobre aquilo que seria seu ofício, informar.
Arrolam testemunha o ex- presidente do Instituto Fernando Henrique Cardoso, Sérgio Fausto, e criam uma distinção retórica (que dá título ao artigo) entre “interlocutor” e “informante” para fazer crer que Waack seria uma espécie de consultor esporádico do governo americano e não fonte permanente de informação.
Enfim, uma dedicada peça de defesa ao colega de profissão cujos malabarismos conceituais dispensam consideração.
Chegam até a deslocar o foco da celeuma para uma questão conexa que pouca relação tem com o que está em discussão: cabe a um jornalista com posições políticas definidas, moderar debates políticos ocultando suas opções partidárias, perguntam elas? Pergunta irrelevante tendo em vista que as posições políticas manifestas por Waack nos programas que comanda coincidem em gênero e grau com as da emissora para a qual trabalha. O que pensa ou o que não pensa pessoalmente o jornalista soa nesse sentido secundário.
É todo o contexto que deve ser considerado. A impropriedade de que um jornalista que conduz dois programas de grande penetração na TV brasileira, freqüente colóquios com representantes de governo estrangeiro e interfira com seus posicionamentos na disposição de multinacionais estrangeiras em contribuírem com uma ou outra das candidaturas concorrentes em pleitos nacionais, como o de 2010 que levou a desafeta do jornalista Dilma Russef à presidência da República.
Se contatos com governos estrangeiros mantiveram também agentes ou ex-agentes do Estado, agiram eles sim de acordo com a natureza de suas atividades.
Se exorbitaram no que lhes era dado falar, cabia ao governo demiti-los. O que, de um modo ou outro, parece ter ocorrido. Mas que sanção sofreu Waack ao criar condições políticas favoráveis a uma única candidatura? Qual a extensão e a natureza desses contatos?
Evidente que essas dúvidas não podem ser esclarecidas pelo libelo de defesa que fazem as colegas jornalistas de Waack. Em última instância, apenas os Órgãos de Segurança brasileiros poderão esclarecê-las.
Que fique claro para Waack: não foi o inofensivo Blog de um cidadão sem filiação partidária que expôs o jornalista, mas os documentos do Wikileaks e o enfoque que pretenderam dar ao episódio os grandes adversários da emissora  para que trabalha.
Quer prender, quer arrebentar quem expressa livremente suas opiniões para salvaguardar seu pretenso direito de fazer um jornalismo questionável em termos dos interesses nacionais? Que o faça! Mas qualquer um também terá o direito de pedir que se o investigue pela dúvida de extrapolar seu papel de informar àqueles, que a princípio, seria pago para informar.


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