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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, dezembro 15, 2011

Kassab aluga 10 mil tablets pelo preço de compra de 53 mil

SP aluga 10 mil tablets por valor que compraria 53 mil 
Contrato de R$ 138,9 milhões foi fechado pela Prodam com empresa cujo dono é foragido da Justiça por caso de fraude no RN
DIEGO ZANCHETTA , RODRIGO BURGARELLI - O Estado de S.Paulo
A Prefeitura de São Paulo vai gastar R$ 138,9 milhões para alugar, por três anos, 10.421 tablets para fiscais e profissionais de várias áreas do governo. Os aparelhos serão utilizados, por exemplo, pelos agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e por fiscais da Vigilância Sanitária, que agora poderão emitir recibo de auto de infração pelo aparelho. O contrato já foi homologado pela Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Município (Prodam) e os equipamentos deverão começar a ser entregues em cerca de 30 dias.
Chama, porém, a atenção o valor pago pelo aluguel de cada aparelho. O preço por unidade será mais de cinco vezes maior do que se o mesmo equipamento descrito no contrato fosse comprado pela administração, mesmo considerando preços de varejo. Se o mesmo valor fosse gasto para comprar os tablets mais caros do mercado, seria possível adquirir mais de 53 mil unidades.
Mesmo assim, a Prefeitura assinou contrato com a empresa e vai pagar quase R$ 14 mil por três anos de aluguel de cada tablet. O preço do modelo mais caro comercializado no Brasil, um iPad 2 com 64 gigabytes de memória e conexão 3G, é de R$ 2,6 mil, segundo o site da fabricante Apple - mais de cinco vezes menor do que o valor a ser pago pela Prefeitura no aluguel.
O tablet que será fornecido à administração, porém, deverá ser ainda mais barato do que o iPad, já que as especificações exigidas no edital são diferentes das do aparelho da Apple - ele deve ter entrada USB e funcionar com sistema operacional Windows, o que só é encontrado em aparelhos mais baratos.
Impressora. Quatro mil aparelhos serão utilizados pelos agentes da CET, que também terão impressoras portáteis (7 mil delas foram alugadas, por R$ 74 milhões) para imprimir multas no momento da aplicação da penalidade.
As outras unidades vão para órgãos como a Secretaria Municipal de Saúde, de Parceria, de Esportes, de Assistência Social e para a própria Prodam.
O governo argumenta que o uso dos tablets vai agilizar o serviço de fiscais que aplicam multas de posturas, como as infrações à lei do silêncio. O contrato também prevê assistência técnica 24 horas e substituição em caso de mau funcionamento ou quebra por acidente.
Inspeção. Outro problema envolve a empresa que vai fornecer os computadores à Prefeitura, a Neel Brasil. O proprietário, Carlos Alberto Zafred Marcelino, é foragido da Justiça.
Ele é acusado de envolvimento na fraude da inspeção veicular denunciada pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte. Marcelino é também sócio do consórcio que ganhou a licitação da inspeção naquele Estado. Segundo a Promotoria, há provas de que ele "participou ativamente da fraude à concorrência" direcionando o edital.
Ele também teria agido em conjunto com o lobista Alcides Fernandes Barbosa para impedir que a Controlar - cujo contrato de inspeção veicular em São Paulo também está sendo questionado na Justiça - participasse da licitação no Rio Grande do Norte.
Por causa dessas acusações, a Justiça daquele Estado expediu mandado de prisão preventiva contra Marcelino, que ainda não apareceu.

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