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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, dezembro 08, 2011

A liberdade de (ex)pressão de uma mídia decadente

Em algum momento entre o segundo mandato de FHC e a vitória em 2002, o PT compreendeu que a miscigenação política era inevitável e abriu-se para as alianças que finalmente conduziram Lula ao Palácio do Planalto. Se os dissidentes do PSOL de Heloísa Helena vivem hoje no limbo da política, devem isso a uma espécie de esquerdismo infantil que não virou o milênio. Atualmente, para a saúde da governabilidade, as alianças são vitais. Mesmo que os aliados sejam quase intragáveis ou eventualmente se transformem em escorpiões venenosos.


O custo-benefício das alianças petistas dos últimos 10 anos está aí. Contabilizando-se perdas e danos, o governo Lula-Dilma mudou o Brasil para melhor, dando esperança para milhões de brasileiros excluídos durante séculos. Isso é fato incontestável, reconhecido mundialmente.


À partir de 2005, quando a imprensa das elites vestiu-se de partido político, criou um bolo feito com farinha de caixa 2 de campanha eleitoral e o batizou de “mensalão”, qualquer repórterzinho vadio revira as cestas de lixo do passado, retira papéis amassados e os reveste de algum ineditismo que serve aos propósitos do seu patrão. Na terra sem lei que tornaram-se as redações dos jornalões, a justiça é literalmente cega e a “liberdade de expressão” garante a liberdade de mentir, deturpar os fatos, acusar sem provas, desqualificar e chacinar oponentes à vontade. A liberdade de expressão justifica até a invasão do quarto de hotel de um cidadão para plantar provas que sirvam de matéria prima para mais um “escândalo”. Além disso, neste puteiro jornalístico há a liberdade de omitir: falam o que querem e calam, também, no que querem. Em nada lembram a “concessão de utilidade pública” que a Constituição Brasileira os obriga a ser.


Não há espaço para a verdade nesta terra sem marco regulatório das comunicações. É um insulto aos brasileiros, a facilidade com que os governos paulistas obstruem qualquer investigação em sua roupa suja com a conivência descarada da imprensa parceira e umbilical. Já virou refrão: nenhum político do PSDB é corrupto ou merece ser investigado; nenhuma das obras faraônicas que se arrastam há vários mandatos em São Paulo tem alguma irregularidadezinha sequer; obras de bilhões de reais, sobrefaturadas seguidamente, sem nenhum centavo desviado. Para o PiG, não existem corruptores, só corruptos. E, em caso de acidente de percurso envolvendo algum “parceiro”, há o socorro instantâneo, capaz de produzir dois Habeas Corpus em menos de 48 horas.


Na ditadura midiática do PiG, qualquer cidadão pode ser acusado de alguma irregularidade num piscar de olhos. Com a lentidão de lesma perneta no andamento dos processos, o desgraçado levaria décadas para provar sua inocência, perdendo-se no labirinto surreal do judiciário, suas instâncias, recursos, apelações e todas as abobrinhas relacionadas. Isso sem falarmos no campo moral e ético onde, mesmo estritamente dentro da lei, pode ser acusado, julgado e condenado à revelia dos juízes.


Deixando paixão ou mágoa de lado, em que resultaram as trocas seguidas de ministros do governo Dilma?


Excluindo-se o caso de Orlando Silva – que expôs a ostensiva falta de escrúpulos da oposição e sua mídia ao darem crédito a um criminoso trazido ao Congresso Nacional para fraudar a verdade – os substitutos parecem ser melhores que os substituídos.


Fala-se de paralisia do governo, que Dilma está ou caminha para ser acuada peloPiG. Será mesmo? Uma mulher que passou por tudo que ela passou e chegou onde está, vai assistir ao cêrco ao seu governo passivamente? Ou será que, acuada, vira onça e leva a voto o texto do Marco Regulatório talhado na Constituição Brasileira desde 1988? A ver.


Até agora, a troca de ministros não desfigurou o governo, não mudou rumos nem resultou em concessões à oposição. Os ministérios têm metas estabelecidas, afinadas com o plano de governo do terceiro mandato petista. Trocar o comando de um ministério não modifica seu roteiro.


É claro que é odioso ver a facilidade com que o PiG consegue derrubar um ministro. É claro, também, que é decepcionante descobrir que o ministro esteve ou está vinculado a algum tipo de irregularidade. Porque somos guiados por ideais de justiça social e desejamos que milhões de brasileiros finalmente obtenham a cidadania que as elites lhes negaram por séculos. Receamos que o PiG consiga realizar seu objetivo maior, sua razão de existir. Sabemos também – as notícias pioram dia após dia – que a crise econômica mundial é resultado da falência de um modelo capitalista voraz, baseado na libertinagem financeira neoliberal, eterno hino do PSDB. Por tudo isso, depositamos nossas esperanças no governo do PT que é aquele que mais se aproxima do possível, embora esteja muito distante, ainda, do ideal.


O PiG omite, sistematicamente, as realizações do governo petista no intuito de diminuí-lo. Resta-nos acessar o Blog do Planalto para saber que, longe de qualquer paralisação, há muita ação governamental e muitas realizações. Eis alguns exemplos que a mídia esconde porque não consegue desqualificar:


O PAC 1, já tem 94% de seus projetos concluídos; o ProUni já alcançou 5,95 milhões de matrículas; a redução do desmatamento da Amazônia é uma constante que Marina Silva nem chegou perto de alcançar quando ministra de Lula; o programa Brasil Sem Miséria caminha para resgatar, até 2014, 16,5 milhões de brasileiros que vivem na indigência; o Pronatec já garantiu verbas que vão gerar escolas técnicas e capacitar mais de 15 milhões de jovens; o Enem que bate recordes anualmente, chegou a 4 milhões de provas este ano e coloca centenas de milhares de pobres nas universidades federais. Há ainda a reativação da Indústria Naval, o Minha Casa, Minha Vida, o Bolsa Família


Pergunte aos beneficiarios de todas essas ações se estão interessados na troca do ministro fulano de tal… Obviamente que não lhes interessam os problemas “internos” do governo Dilma. Afinal, ela foi eleita, inclusive, para resolvê-los.


Publicar factóides, desprovidos de qualquer fundamento na capa de um jornal ou revista, não os tornará reais. Nós, que passamos boa parte de nossos dias acompanhando os movimentos do PiG, somatizamos. Mas, quem mais leva-o a sério? Podem atingir parte da classe média mais propensa a engolir tudo que se fala contra o PT, mas não convencerão o povo que suas conquistas são ilusão.


Outro delírio que qualquer estatística, mesmo que superficial derruba: classificar os ministros que caíram como “herança maldita” de Lula. Quantas vezes será preciso repetir? Dilma é Lula, Lula é Dilma. O Brasil segue nos trilhos do MESMO projeto de governo. E se há herança, ela é extremamente benigna: basta comparar o país que Lula recebeu com aquele que entregou. Tabelas e gráficos tratando disso, muito bem embasados, encontram-se aos montes na Internet.


Vem aí a reforma ministerial. Deveriam, eles sim, a base aliada, cuidar de seus quintais escolhendo melhor seus quadros. Porque é gritante a intenção do PiG de enfraquecer e/ou derrubar a presidenta começando por desconstruir a base aliada que é sua sustentação.


O governo Dilma está longe de enfraquecer. Até agora, nenhum partido rompeu aliança. As pesquisas mostram que a presidenta se mantém estável e, por mais que o PiG tente, o sentimento popular é o de que a presidenta continua a desfazer-se das “maçãs podres” sem hesitar. O que é absolutamente verdadeiro. Seu governo é reconhecidamente eficiente. Agrada ao povo, aos empresários, mostra total controle sobre a inflação e os perigos da crise internacional. Enfim, as metas seguem o cronograma sem abalos.


E mais: pensam que Lula está paralisado numa cama de hospital comendo papinha? O “cara” está muito vivo e esperto. Enquanto eles brincam de derrubar peão e filmar para ter o que mostrar nos programas eleitorais da TV, Lula prepara mais um cheque-mate ao seu rei em São Paulo. Jogada que começará em 2012 e os atingirá em cheio em 2014. Quem viver, novamente verá.

Há dois aspectos interligados que corroem implacavelmente o PiG. Definha dia-a-dia em audiência que a Internet e outras mídias lhe roubam. Consequentemente, definha em publicidade e demite funcionários. Só há uma coisa que cresce para o PiG: a cada dia, mais gente entende e adota a definição da qual jamais se livrará: é e sempre será o Partido da Imprensa Golpista.


*Oterrordonordeste

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