A Falta que faz a imprensa só a CPI supre
Estariam cobertos de razão, se não fosse uma “pequena” circunstância: a de que, dentro da legalidade, só duas formas existem de esclarecer situações deste tipo: o Judiciário e a imprensa.
Ao primeiro, claro, é próprio o ritmo da lei, seus prazos e meandros. Como é exclusivo, também, seu poder de condenar e punir, que a imprensa não pode e não deve usurpar.
Mas à imprensa, se quer – como diz – representar o clamor público pela gestão dos bens públicos, tem outra mecânica, mais célere, mais ágil e que, como é natural, também provoca julgamentos de natureza política.
É simples demonstrá-lo. Qual dos ministros atingidos pela onda de denúncias foi, até agora, condenado pelos atos brandidos nas manchetes de jornal como crimes? No entanto, sua desconstrução política foi completa e todos eles, hoje, sob esta ótica, são ruínas.
Se é que vão chegar a existir, os processamentos judiciais dos supostos “malfeitos” levarão anos. E não é de duvidar que, sem a pressão da mídia sobre eles, dissolvam-se.
No caso do livro de Amaury Ribeiro Júnior, têm razão estes comentarista, sim. Falta uma apuração mais extensa. Mas perdem a razão quando não dizem claramente que esta, imediatamente, é competência do jornalismo, é a grande mídia brasileira, neste caso, se recusa a investigar e publicar qualquer coisa: o que está no livro e as extensões que a partir dele se traçam.
Nem, aliás, o que ela mesma já considerou tema digno de suas matérias.
Os exemplos são muitos; elenco apenas alguns que, apenas a partir de documentos disponíveis ao público, este Tijolaço foi capaz de estabelecer.
É um fato que a Decidir.Com teve acesso aos cadastros bancários de uma gigantesca multidão de correntistas brasileiros. É um fato que a Decidir.Com era dirigida pela Sra. Verônica Serra. É um fato que está sendo processada criminalmente por isso. Tudo isso está documentado no livro de Amaury Ribeiro Jr. A própria Folha, como se publicou aqui, serviu-se deste acesso irregular aos cadastros bancários para apontar 18 deputados que emitiram cheques sem fundos, em reportagem que já antecipa o fato de ser irregular este acesso.
No entanto, o nome da responsável por essa violação, suas conexões com capital caribenho e a notícia de que há um processo criminal a respeito não foram publicadas, a não ser pela CartaCapital – em matéria de Leandro Fortes – , no livro de Amaury e nos “blogs sujos”.
Como é fato que o marido de Verônica Serra, apontado no livro como sócio de empresas em paraísos fiscais e de outras, aqui, inclusive ao lado de Verônica, foi condenado e executado por dívidas com o INSS e ela própria participavam de empresas relacionadas ao mesmo Citco Building, em Tortola, nas Ilhas Virgens. E que “funcionavam” na mesma PO Box 662 daquele endereço, sede também dos negócios do malsinado Ricardo Sérgio.
E assim como é também fato que a Citco, titular do endereço, tem uma empresa aqui no Brasil, num escritório à Avenida Bernardino dos Santos, no Paraíso, onde repousam, também, a Rádio Holdings, do filho do presidente Fernando Henrique Cardoso, Paulo Henrique, acusada de associação irregular com a Disney na Rádio Itapema FM, cuja sede é na mesma sala, gerida por dois contadores que movimentam empresas de paraísos fiscais e internacionais de toda a espécie, inclusive o JP Morgan, cujo braço de investimentos One Equity tem como representante a Pacific Investimentos de Verônica Serra?
Mas estes fatos, originários ou derivados de buscas feitas a partir do livro de Amaury, só surgem por obra da blogosfera, prque não aparecem na grande mídia.
Portanto, soa hipócrita querer pontificar dizendo: não entramos em disputas partidárias, vamos aos fatos.
Os fatos estão aí, e a mídia não vai.
Nós, blogueiros, não vivemos disso, mas sacrificamos nosso tempo para suprir o que o a imprensa se recusa a fazer, mesmo diante das evidências. Não temos – é verdade – os recursos e os meios práticospara ir mais fundo e cobrar explicações dos personagens, como podem as grandes redações.
Coisas simples, assim:
- Alô, é D. Veronica Serra? Boa tarde, aqui é Fulano, da Folha,(ou do Globo, do Estadão) . Eu gostaria que a senhora me falasse a respeito do caso do sigilo bancário que foi parar no site da Decidir, quando a senhora era diretora da empresa, como foi publicado em janeiro de 2001, na Folha. Como é que foram obtidos aqueles dados?
Pois é…
Portanto, restanos a terceira forma de apurar estes fatos dentro da legalidade: uma Comissão Parlamentar de Inquérito.
Em geral, as CPIs surgem de escândalos publicados pela imprensa. A CPI da Privataria, ao contrário, surgirá de um escândalo que a grande imprensa não vê e ainda condena quem o vê.
A imprensa brasileira troca, neste caso, sua condição de testemunha pela de ré.
Vale vende quatro dos 19 navios do Almirante Agnelli
“A Vale já começou a tocar a nova estratégia da empresa desenhada por Murilo Ferreira, presidente executivo da companhia, para a área de navegação de longo curso. A mineradora acaba de vender a armadores asiáticos quatro dos 19 navios encomendados a estaleiros coreanos e chineses na gestão anterior de Roger Agnelli, confirmou fonte da companhia ao Valor.
A meta da Vale para 2012, adiantou o interlocutor, é colocar os restantes 15 supermineraleiros a venda, mas sempre com contrato de longo prazo vinculado a transação. A nova estratégia foi aprovada na semana passada pelo conselho de administração.
O recente episódio do supernavio Beijing, contratado pela Vale da coreana STX Pan Ocean, que quase afundou quando carregava minério de ferro da empresa no píer I do porto de Ponta Madeira, em São Luís, no Maranhão, e mais a surpreendente resistência dos portos chineses em receber as embarcações da Vale foram a gota d’água para Ferreira colocar em prática a nova logística de transporte marítimo no mercado transoceânico de minério.”
A operação, na verdade, não será totalmente de venda de navios, mas de repasse ou cancelamento de seus contratos de construção, sobretudo no caso dos contratados junto ao sul-coreano STX. Embora a materia não informe, os quatro navios vendidos devem ser o Vale Brasil, Vale Rio de Janeiro, Vale Itália, além do Vale Beijing, que está avariado em São Luis. Há pelo menos outros dois já lançados, em acabamento.
Uma operação totalmente desastrosa, feita de velocidade e em escala totalmente imprudentes – os 19 navios são todos da classe Chinamax, os maiores do mundo, com 400 mil toneladas de porte bruto – movida pela voracidade de exportar rapidamente tanto minério quanto possível, da mesma forma como Roger Agnelli se livrou, em apenas dois anos – entre 2001 e 2003 – da frota própria da Vale, a Docenave.
Esse era o “ídolo” empresarial dos neoliberais, o homem da “eficiência”, com a experiência de uma almirante de banheira e sua frota de patinhos de borracha.
*Tijolaço
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