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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, dezembro 20, 2011

Nós, blogueiros, não vivemos disso, mas sacrificamos nosso tempo para suprir o que o a imprensa se recusa a fazer, mesmo diante das evidências. Não temos – é verdade – os recursos e os meios práticospara ir mais fundo e cobrar explicações dos personagens, como podem as grandes redações.

A Falta que faz a imprensa só a CPI supre

A CPI da Privataria: para apurar os fatos que a imprensa finge não ver
Vejo comentários de muitos jornalistas bem situados profissionalmente que, numa  afetada autoridade de Pilatos no Credo, dizem faltar  uma apuração mais profunda aos episódios descritos no “A Privataria Tucana”, que levem a plena comprovação dos indícios de crime ali apontados e materializados em documentos.
Estariam cobertos de razão, se não fosse uma “pequena” circunstância: a de que, dentro da legalidade, só duas formas existem de esclarecer situações deste tipo: o Judiciário e a imprensa.
Ao primeiro, claro, é próprio o ritmo da lei, seus prazos e meandros. Como é exclusivo, também, seu poder de condenar e punir, que a imprensa não pode e não deve usurpar.
Mas à imprensa, se quer – como diz – representar o clamor público pela gestão dos bens públicos, tem outra mecânica, mais célere, mais ágil e que, como é natural, também provoca julgamentos de natureza política.
É simples demonstrá-lo. Qual dos ministros atingidos pela onda de denúncias foi, até agora, condenado pelos atos brandidos nas manchetes de jornal como crimes? No entanto, sua desconstrução política foi completa e todos eles, hoje, sob esta ótica, são ruínas.
Se é que vão chegar a existir, os processamentos judiciais dos supostos “malfeitos” levarão anos. E não é de duvidar que, sem a pressão da mídia sobre eles, dissolvam-se.
No caso do livro de Amaury Ribeiro Júnior, têm razão estes comentarista, sim. Falta uma apuração mais extensa. Mas perdem a razão quando não dizem claramente que esta, imediatamente, é competência do jornalismo, é a grande mídia brasileira, neste caso, se recusa a investigar e publicar qualquer coisa: o que está no livro e as extensões que a partir dele se traçam.
Nem, aliás, o que ela mesma já considerou tema digno de suas matérias.
Os exemplos são muitos; elenco apenas alguns que, apenas a partir de documentos disponíveis ao público, este Tijolaço foi capaz de estabelecer.
É um fato que a Decidir.Com teve acesso aos cadastros bancários de uma gigantesca multidão de correntistas brasileiros. É um fato que a Decidir.Com era dirigida pela Sra. Verônica Serra. É um fato que está sendo processada criminalmente por isso. Tudo isso está documentado no livro de Amaury Ribeiro Jr. A própria Folha, como se publicou aqui, serviu-se deste acesso irregular aos cadastros bancários para apontar 18 deputados que emitiram cheques sem fundos, em reportagem que já antecipa o fato de ser irregular este acesso.
No entanto, o nome da responsável por essa violação, suas conexões com capital caribenho e a notícia de que há um processo criminal a respeito não foram publicadas, a não ser pela CartaCapital – em matéria de Leandro Fortes – , no livro de Amaury e nos “blogs sujos”.
Como é fato que o marido de Verônica Serra, apontado no livro como sócio de empresas em paraísos fiscais e de outras, aqui, inclusive ao lado de Verônica, foi condenado e executado por dívidas com o INSS  e ela própria participavam de empresas relacionadas ao mesmo Citco Building, em Tortola, nas Ilhas Virgens. E que “funcionavam” na mesma PO Box 662 daquele endereço, sede também dos negócios do malsinado Ricardo Sérgio.
E assim como é também fato que a Citco, titular do endereço, tem uma empresa aqui no Brasil, num escritório à Avenida Bernardino dos Santos, no Paraíso, onde repousam, também, a Rádio Holdings, do filho do presidente Fernando Henrique Cardoso, Paulo Henrique, acusada de associação irregular com a Disney na Rádio Itapema FM, cuja sede é na mesma sala, gerida por dois contadores que movimentam empresas de paraísos fiscais e internacionais de toda a espécie, inclusive o JP Morgan, cujo braço de investimentos One Equity tem como representante a Pacific Investimentos de Verônica Serra?
Mas estes fatos, originários ou derivados de buscas feitas a partir do livro de Amaury, só surgem por obra da blogosfera, prque não aparecem na grande mídia.
Portanto, soa hipócrita querer pontificar dizendo: não entramos em disputas partidárias, vamos aos fatos.
Os fatos estão aí, e a mídia não vai.
Nós, blogueiros, não vivemos disso, mas sacrificamos nosso tempo para suprir o que o a imprensa se recusa a fazer, mesmo diante das evidências. Não temos – é verdade – os recursos e os meios práticospara ir mais fundo e cobrar explicações dos personagens, como podem as grandes redações.
Coisas simples, assim:
- Alô, é D. Veronica Serra? Boa tarde, aqui é Fulano, da Folha,(ou do Globo, do Estadão) . Eu gostaria que a senhora me falasse a respeito do caso do sigilo bancário que foi parar no site da Decidir, quando a senhora era diretora da empresa, como foi publicado em janeiro de 2001, na Folha. Como é que foram obtidos aqueles dados?
Pois é…
Portanto, restanos a terceira forma de apurar estes fatos dentro da legalidade: uma Comissão Parlamentar de Inquérito.
Em geral, as CPIs surgem de escândalos publicados pela imprensa. A CPI da Privataria, ao contrário,  surgirá de um escândalo que a grande imprensa não vê e ainda condena quem o vê.
A imprensa brasileira troca, neste caso, sua condição de testemunha pela de ré.

Vale vende quatro dos 19 navios do Almirante Agnelli

Os "Vale Itália" e "Vale Rio de Janeiro": nem chegaram, já vão
Deu agora à noite no Valor Econômico:
“A Vale já começou a tocar a nova estratégia da empresa desenhada por Murilo Ferreira, presidente executivo da companhia, para a área de navegação de longo curso. A mineradora acaba de vender a armadores asiáticos quatro dos 19 navios encomendados a estaleiros coreanos e chineses na gestão anterior de Roger Agnelli, confirmou fonte da companhia ao Valor.
A meta da Vale para 2012, adiantou o interlocutor, é colocar os restantes 15 supermineraleiros a venda, mas sempre com contrato de longo prazo vinculado a transação. A nova estratégia foi aprovada na semana passada pelo conselho de administração.
O recente episódio do supernavio Beijing, contratado pela Vale da coreana STX Pan Ocean, que quase afundou quando carregava minério de ferro da empresa no píer I do porto de Ponta Madeira, em São Luís, no Maranhão, e mais a surpreendente resistência dos portos chineses em receber as embarcações da Vale foram a gota d’água para Ferreira colocar em prática a nova logística de transporte marítimo no mercado transoceânico de minério.”
A operação, na verdade, não será totalmente de venda de navios, mas de repasse ou cancelamento de seus contratos de construção, sobretudo no caso dos contratados junto ao sul-coreano STX. Embora a materia não informe, os quatro navios vendidos devem ser o Vale Brasil, Vale Rio de Janeiro, Vale Itália, além do Vale Beijing, que está avariado em São Luis. Há pelo menos outros dois já lançados, em acabamento.
Uma operação totalmente desastrosa, feita de velocidade e em escala totalmente imprudentes – os 19 navios são todos da classe Chinamax, os maiores do mundo, com 400 mil toneladas de porte bruto – movida pela voracidade de exportar rapidamente tanto minério quanto possível, da mesma forma como Roger Agnelli se livrou, em apenas dois anos – entre 2001 e 2003 – da frota própria da Vale, a Docenave.
Esse era o “ídolo” empresarial dos neoliberais, o homem da “eficiência”, com a experiência de uma almirante de banheira e sua frota de patinhos de borracha.
*Tijolaço

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