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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, dezembro 19, 2011

OS 35 ANOS DA CHACINA DA LAPA



Nesta sexta-feira, 16 de dezembro, completam-se 35 anos da chamada “Chacina da Lapa”, o assassinato de três dirigentes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) por agentes do DOI-Codi (centro de repressão do Exército): Pedro Pomar, João Baptista Drummond e Ângelo Arroyo. Drummond foi morto primeiro, depois de ter sido preso e submetido a torturas; Pedro Pomar e Arroyo foram fuzilados sem esboçar qualquer reação quando os agentes invadiram o aparelho, uma casa no bairro da Lapa, onde os membros do Comitê Central do PCdoB estavam reunidos.


Corpos dos dirigentes do PCdoB mortos na Lapa
 Os dirigentes Aldo Arantes, Elza Monnerat, Haroldo de Lima, Joaquim de Lima e Maria Trindade, foram presos e torturados. A ação foi possível graças à traição de Jover Telles, membro do Comitê Central que tinha sido preso e cooptado pela repressão. A Chacina da Lapa foi o golpe de misericórdia na liderança da Guerrilha do Araguaia, cujos integrantes tinham sido quase todos exterminados pelo Exército.

General Dilermando
O curioso é que este episódio – o último de matança sistemática de militantes revolucionários pelos órgãos repressivos da ditadura militar – ocorreu sob o comando do general “aberturista” Dilermando Gomes Monteiro, então comandante do II Exército, sediado em São Paulo. No início de 1976, ele havia substituído o facínora colega de farda e patente Ednardo D’Ávila Melo, defenestrado do comando daquela unidade pelo general-ditador Ernesto Geisel. O afastamento ocorrera depois das mortes seguidas, nas dependências do DOI-Codi, de Manuel Fiel Filho, em janeiro daquele ano, e de Vladimir Herzog, em outubro de 1975. Dilermando fazia parte do grupo que apoiava a abertura “lenta, gradual e segura” de Geisel contra a linha-dura, que queria manter a repressão “à outrance”.

Geisel enfrentou a linha-dura

Agência Estado
A morte de Manoel Fiel Filho (detalhe) na prisão leva Geisel a demitir o general Ednardo D' Ávila Melo
Um basta à linha dura
Nova morte no Doi-Codi leva à queda do comandante do II Exército

No dia 17 de janeiro, três meses depois do assassinato do jornalista Vladimir Herzog nas dependências do Doi-Codi em São Paulo (outubro de 1975), o metalúrgico Manoel Fiel Filho foi encontrado morto em sua cela, no mesmo local, um dia depois de ser preso sob a acusação de subversão. Como no caso de Herzog, o II Exército distribuiu nota afirmando que ele se enforcara na prisão. Dessa vez, no entanto, o presidente Ernesto Geisel dá um basta à linha dura e demite o comandante do II Exército, general Ednardo D'Ávila Melo. O episódio marcou o começo do fim do predomínio dos porões da repressão dentro do próprio regime militar.

Analistas especulam que a mão pesada da repressão naquele episódio tenha ocorrido devido à necessidade de Geisel mostrar firmeza frente à oposição armada – mesmo com esta completamente dizimada – depois do afastamento de Ednardo e da neutralização do centro de torturas do DOI-Codi em instalado na rua Tutóia, em São Paulo. A linha-dura estava ferida, mas ainda tinha músculos e força dentro do Exército..
Tanto que essa corrente só deixaria de representar ameaça ao projeto de poder dos “aberturistas” um ano depois, em outubro de 1977, quando Geisel demitiria o ministro do Exército, general Sylvio Frota, líder máximo da linha-dura e autodesignado candidato à sucessão presidencial.
http://www.politicaparapoliticos.com.br/resources/imagens/especial/7226-sylvio_frota1.jpg
General Sylvio Frota
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi02AzzXzVdJYoWcVjoHvsz_ROyLowkjSBi0KLmkRZV6UXzdgVY3xYnfr3T6UCZ5u5o0mbllXByiDTvUsv4vGyKQqnwduG8cbI3HuUOkQR6h8lw7EEFOoqaJo5oBSvA7ApmQJshMuegOGgW/s1600/Atentado+Riocentr-+Demiss%C3%A3o+Sylvio+Frota+1977.jpg
Derrotado internamente, esse setor partiria para ações terroristas, como o seqüestro de D. Adriano Hipólito, bispo de Nova Iguaçu, os atentados a bomba contra a ABI, a OAB e as bancas que vendiam jornais alternativos. O ápice dessas ações ocorreria em 1981, com a tentativa de fazer explodir o Riocentro que levaria ao afastamento do mago dos aberturistas, Golbery do Couto e Silva, então chefe da Casa Civil.
http://www.luizberto.com/wp-content/Terror-no-Riocentro-1981.jpeg
Terrorista morre ao explodir sua própria bomba acidentalmente, artefato concebido para ser detonado  contra o povo em evento no Rio Centro. O ato sanguinário do  terrorista era obediencial  a   orientação dos golpistas da linha dura.

Hoje, os remanescentes desse bando de assassinos psicopatas estão nos Clubes Militares e nos Ternumas da vida.

Seria bom que a Comissão da Verdade esclarecesse esses fatos e tirasse o sossego dessa canalha...



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