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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, dezembro 10, 2011

"Privataria Tucana" trata de política e fala sobre lavagem de dinheiro no Brasil 

Ricardo Teixeira (à direita)
Lançado nesta sexta-feira (9), o livro "Privataria Tucana", de Amaury Ribeiro Jr., trata de política e fala sobre lavagem de dinheiro no Brasil. Além de mostrar casos envolvendo o PSDB, o resultado de dez anos de investigações apontou fatos importantes que explicam em parte o enriquecimento do presidente da CBF, Ricardo Teixeira. 
Segundo o blog Vi o Mundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha, que foi reproduzido pelo blog do Juca Kfouri, Ribeiro Jr. reuniu documentos públicos, conseguidos em cartórios e na Junta Comercial do Rio de Janeiro. 
Os papéis mostram que em maio de 1992 foi montada a empresa RLJ Participações. As testemunhas do contrato social são o advogado Alberto Ferreira da Costa e Guilherme Terra Teixeira, irmão de Ricardo Teixeira e que também foi ouvido pela Polícia Federal no processo que investiga se o salário do cartola na CBF é compatível com a declaração de bens apresentada em seu imposto de renda. 
Dois meses depois, a Sanud fez uma procuração em Vaduz, Liechtenstein, autorizando Alberto Ferreira da Costa a assinar pela empresa no Brasil. Segundo uma série de reportagens produzida pela TV britânica BBC, Teixeira teria recebido da Sanud quase R$ 15 milhões em propinas. Os 21 depósitos ocorreriam desde o início da década de 90 e viriam da empresa de marketing esportivo ISL. O dinheiro pode ter sido dado em troca do direito de transmissão dos jogos e dos contratos de patrocínio para as Copas do Mundo. 
O dinheiro era depositado na Sanud, empresa sediada no paraíso fiscal de Liechtenstein, na Europa. A Sanud, ligada a RJL (do presidente da CBF), é o principal elo do sistema de remessas de dinheiro para paraísos fiscais no exterior. Há cerca de dez anos, o Congresso brasileiro abriu duas CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito) envolvendo as empresas em 13 crimes, entre eles lavagem de dinheiro. 
Segundo os documentos mostrados pelo livro de Ribeiro Jr., a Sanud aparece como uma empresa que investiria no Brasil. Em setembro de 1992, a Sanud se torna sócia da RLJ, cerca de quatro meses depois da criação da empresa de Teixeira. 
Dois anos depois, em outubro de 1994, a RLJ muda a estrutura societária registrada na Junta Comercial do Rio de Janeiro. Quem passa a assinar pela empresa é o irmão de Ricardo Teixeira, Guilherme. 
Uma das CPIs que investigaram a CBF apontou que a Sanud fez empréstimos à RLJ, mas a RLJ nunca pagou por eles. Segundo o blog de Luiz Carlos Azenha, uma série de coincidências aparecem desde 1992 que apontam um esquema elaborado de lavagem de dinheiro. 
O mais importante aponta a data do primeiro pagamento da ISL à Sanud: 10 de agosto de 1992. As investigações provaram também que quanto mais a Sanud recebia de dinheiro de propina, maiores eram os investimentos da RLJ, de Ricardo Teixeira, no Brasil.

*esquerdopata

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