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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, dezembro 01, 2011

Uma visão da China:

 Os anos dourados para os Brics ainda estão por vir

Bandeira chinesa (AP)
Para especialista, China precisa cooperar mais com Brics, assim como grupo precisa dos chineses
Passaram-se dez anos desde o surgimento do conceito de Brics, um período muito curto se comparado com a história da humanidade como um todo. No entanto, a economia e a política mundiais passaram por um tremendo passeio de montanha-russa nesse tempo.
As velhas economias desenvolvidas estão agora perturbadas por crises e estão perdendo seu brilho. Enquanto isso, as nações do grupo Brics estão se desenvolvendo rapidamente e fornecendo grandes contribuições para a economia mundial. Com a formação da nova ordem internacional, os Brics se tornarão uma importante força emergente para ser considerada.

Frota combinada

Desde o início do século 21, os potenciais conflitos que borbulhavam por muitos anos se tornaram mais visíveis, e as crises que assolam a situação econômica e política mundial estão ficando mais sérias.
Embora nenhuma guerra em escala mundial tenha sido deflagrada, os conflitos militares regionais nunca pararam. Seguindo-se à tempestade financeira da Ásia, uma crise financeira global foi iniciada pelo distúrbio do subprime dos EUA. Enquanto as pessoas ainda esperam que a crise financeira tenha um fim, a crise da dívida europeia começa a se espalhar.
Enquanto o mundo enfrentava dificuldades políticas e econômicas, os países emergentes Brasil, Rússia, Índia e China - com seus recursos especiais e vantagens de população e mercado - aproveitaram a oportunidade e intensificaram imensamente os seus respectivos poderes nacionais.
Os quatro integrantes do grupo Bric - Brasil, Rússia, Índia e China - eram como uma frota combinada navegando pelos continentes. Depois que a África do Sul uniu-se ao grupo, os Brics estenderam a sua influência.

Uma década de desenvolvimento

A China precisa intensificar a cooperação com o grupo dos Brics, assim como o grupo precisa da participação chinesa.
A política de reformas que a China adotou nos últimos 30 anos permitiu ao país modificar-se a ponto de ficar irreconhecível - a China do século 21 é completamente diferente da China de 30 anos atrás. Nos últimos dez anos em particular, a China atingiu o que países desenvolvidos atingiram em várias décadas, ou até mesmo séculos.
O PIB da China cresceu de menos de 10 trilhões para quase 40 trilhões de yuans, pulando da 6ª para a 2ª posição no ranking mundial. O seu comércio exterior foi de menos de US$ 500 bilhões para quase US$ 3 trilhões, também chegando a segundo lugar no mundo.
O que é mais importante, a China se transformou de um país que tinha de importar capital, tecnologia e know-how em uma nação que exporta capital e manufaturas, fortalecendo ainda mais a influência do país na arena internacional.

Desafios para a China

Reunião de cúpula dos Brics durante encontro do G20 (Reuters)
Fubin diz que emergentes aproveitaram instabilidade dos países ricos e ganharam importância
No entanto, a China também enfrenta dificuldades no seu desenvolvimento: a apreciação do yuan tem sido muito acelerada, prejudicando as nossas exportações; a dependência das importações de petróleo é muito grande, e a população é imensa.
Existe o problema estrutural de encontrar as pessoas certas para os empregos certos, e a pressão do desemprego é forte. O aumento nos preços da habitação se soma à inflação alta, e o mercado de ações é volátil. O desafio ambiental também é sério.
Nós acreditamos que a China é capaz de resolver estes problemas. Nós temos vantagens especiais, tais como ricos recursos humanos de qualidade crescente, raros recursos naturais e de alta tecnologia e um grande mercado consumidor interno.
Além do mais, a China tem continuamente adotado uma política externa de benefícios mútuos, e mantido uma boa cooperação econômica e política com outros países, incluindo países desenvolvidos e, particularmente, com seus vizinhos. A influência da China no mundo está se fortalecendo, e o papel do país no grupo dos Brics está aumentando.

Boas perspectivas

Outros países do grupo dos Brics também estão obtendo rápido progresso. O crescimento anual do PIB da Índia é maior que 6,5%. A Rússia está acordando depois de um período de "choque". O PIB do Brasil está liderando a América do Sul, e depois que a África do Sul uniu-se ao grupo, o grupo ganhou mais representatividade global.
Nos Brics estão 42% da população do planeta e 30% dos seus territórios. Espera-se que, em 2015, o PIB dos Brics chegue a 22% do PIB mundial.
Com o desenvolvimento de seu poderio econômico, os Brics estão destinados a exercer um papel cada vez maior no cenário internacional.
* Professor da Academia Chinesa de Ciências Sociais e diretor do Instituto Chinês para a Pesquisa Econômica do Carvão, da Universidade Central de Finanças e Economia (China).

http://www.bbc.co.uk/worldservice/includes/core/2/screen/extras/slide_show/brics/img/portuguese/slide01.jpg*amoralnato

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