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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, setembro 08, 2012



Leilão do Pinheirinho é ilegal, diz advogado


 

Destroços do que foi o assentamento Pinheirinho, em São José dos Campos, que sofreu reintegração de posse no início do ano Foto: Murilo Machado

Por Marcello Pellegrini

Foi aberto nesta segunda-feira 3 o edital para o leilão do terreno do Pinheirinho, como ficou conhecida a área de 1,3 milhão de metros quadrados pertencente à massa falida da empresa Selecta, do ex-investidor Nagi Nahas, no município de São José dos Campos. No local viviam cerca de 9 mil pessoas, despejadas durante uma violenta reintegração de posse efetuada pela Polícia Militar e pela Guarda Civil em janeiro. Na época, as casas foram demolidas com tratores e as famílias, levadas a abrigos provisórios. De acordo com o edital do leilão, os interessados no imóvel - avaliado em 187,4 milhões de reais – podem apresentar lances até o dia 3 de outubro. Apesar disso, o leilão pode ser invalidado antes de o leiloeiro bater o martelo.


Destroços do que foi o assentamento Pinheirinho, em São José dos Campos, que sofreu reintegração de posse no início do ano Foto: Murilo Machado
Segundo uma ação movida na 18ª Vara Cível de São José dos Campos, o processo de leilão do terreno é ilegal, pois o imóvel ainda está em litígio. O advogado Denis Pizzigati Ometo, defendensor dos moradores, afirma que ainda não existe uma decisão definitiva da Justiça sobre o imóvel disputado pelo empresário Nagi Nahas e as famílias de moradores sem-teto que ocuparam durante anos a região do Pinheirinho.

“A reintegração de posse foi feita com base em uma liminar e não baseada em um julgamento”, explica Ometo. “Enquanto não houver uma decisão final sobre o direito de posse do terreno, o juiz não pode permitir a venda”, argumenta.

Por meio da venda, espera-se que sejam quitadas as dívidas acumuladas antes e depois da falência da Selecta. Entre os credores da antiga companhia de Nahas está a prefeitura de São José dos Campos, que espera receber 28 milhões de reais, sendo 17 milhões relativos aos débitos com o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).

De acordo com o edital, o leilão da venda do imóvel será presencial e acontecerá no dia 3 de outubro, às 14 horas , na capital paulista.

Contudo, para o advogado Denis Ometo, o negócio é de alto risco. “É importante avisar aos interessados na compra do terreno que há o risco de se perder dinheiro ao adquirir algo que não se sabe se poderá, de fato, ser seu”, adverte. Segundo ele, a Justiça pode decidir que o imóvel pertence às famílias de sem-teto. Caso isso aconteça, o dinheiro do leilão será devolvido apenas com as correções inflacionárias do período, o que pode significar um péssimo investimento.

Reintegração de posse

Em janeiro deste ano, o processo de reintegração de posse da área resultou em confronto jurídico – por meio de liminares da Justiça Federal e Estadual que permitiam e negavam a reintegração – e físico, entre policiais militares e a guarda municipal contra centenas de moradores.

O processo de reintegração foi denunciado por entidades civis e ONGs à Comissão de Direitos Humandos da Organização dos Estados Americanos (OEA). Atualmete, tanto o processo de litígio do terreno quanto o processo por violação de Direitos Humanos não foram julgados pela Justiça.

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