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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, novembro 13, 2012

A RECORDAÇÃO DE CHE, SEGUNDO SARAMAGO:

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"A Portugal infeliz e amordaçado de Salazar e de Caetano, chegou um dia o retrato clandestino de Ernesto Guevara. Esse retrato chegou e nos comoveu a todos... Existia una esquerda ativa, séria e trabalhadora que o viu como uma referência... E também havia, por cima, ou por baixo, como se queira entender, uma esquerda que podemos chamar de intelectual que às vezes com boa fé convertia Che numa espécie de ícone. Isso ocorreu muito menos entre gente da classe operária, que desde então chamávamos de esquerda afetiva, que no fundo seguiram Che e a Revolução Cubana como se fossem modas.
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"Não quer dizer que não havia aí inclusive alguma ou muita sinceridade, porém também havia um pouco de oportunismo. Quando o tempo passou e Che tinha morrido, e as coisas se normalizaram de alguma forma, a esquerda deixou de parecer a muita gente essa espécie de aurora, de algo que iluminava todo o espaço. Foi então quando escrevi que o retrato de Che desapareceu da parede e em alguns casos se jogou no lixo. Esse texto é ao mesmo tempo uma homenagem a Che Guevara, e também, um olhar irônico sobre a instabilidade das ideologias, em que por vezes se dá mais valor ao superficial que ao profundo".
Era a vida que tinha mudado. Eles mesmos se viram mudados e sem demasiadas idéias progressistas. E, portanto, o retrato de Che Guevara deixou de representar para eles o que representava antes. “Cansaram-se e no lugar de Che, puseram outra coisa”.
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"Se pudesse falar com eles, estou seguro de que no teriam nenhuma dúvida em reconhecer que se houve uma pessoa nos tempos recentes que deu ao mundo um exemplo de dignidade, um ideal realmente supremo, esse foi Che. E o MELHOR DE TUDO é que a gente também se encontra continuamente com MENINOS E MENINAS QUE SABEM TUDO o que há que saber sobre a vida e sobre as ações de Che Guevara, e que VESTEM SUA CAMISETA, MAS DE CORAÇÃO".
*MariaLeite

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