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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, novembro 18, 2012

EQUADOR - Correa: Sem FMI nem Banco Mundial, "estamos melhor que nunca"

do Um Sem-Mídia
O presidente do Equador esteve numa Universidade em Sevilha para explicar como o país saiu da crise, auditando e reestruturando a dívida, expulsando a missão externa do Banco Mundial e FMI e orientando a política para o emprego.
Rafael Correa na visita de Estado a Espanha esta semana. Foto Presidencia do Equador.
O auditório da Universidade Pablo de Olavide, em Sevilha, foi pequeno para receber a conferência de Rafael Correa, que acabou por ser transmitida em vídeo para outras duas salas e mesmo assim deixou muita gente de fora.
Citado pelo site espanhol publico.es, o presidente equatoriano descreveu o que considera a "longa noite neoliberal" que afundou o país na década de 90, coordenada por políticos corruptos, banqueiros insaciáveis e governos obedientes às receitas do FMI e do Banco Mundial. E foi mais atrás, a 1982, quando o Equador se viu incapaz de pagar a fatura do endividamento agressivo dos anos do boom do preço do petróleo. Aí "entrou em funcionamento a lógica financeira do FMI que prioriza acima de tudo o pagamento da dívida", recordou Correa. A espiral do endividamento para pagar juros das dívidas anteriores levou ao empobrecimento do país. "O objetivo da economia passou a ser o pagamento da dívida do próprio estado e dos bancos", acrescentou, comparando a situação do Equador de então com "o círculo infernal em que estão agora a Grécia e Portugal".
Correa também disse aos estudantes que quando veio a Portugal há dois anos, advertiu José Sócrates do risco semelhante que Portugal corria, um prognóstico que se cumpriu. "Impuseram-nos leis que diziam aumentar a competitividade e a flexibilidade do trabalho, que é o mesmo que explorar os trabalhadores" e "diabolizavam a despesa pública quando era para pagar aos professores, mas não para comprar armas", contou Correa, sendo aplaudido pelos estudantes.
O colapso bancário no início deste século teve também uma resposta semelhante ao que se passa hoje na Europa. "Os políticos, que não representavam os cidadãos mas sim os poderes económicos, fizeram todos os possíveis para que fosse o povo a pagar a crise", declarou o presidente equatoriano.
Com a eleição de Correa em 2007, foram tomadas de imediato medidas para inverter o rumo do país para a catástrofe económica: reformou o banco central, auditou e reestruturou a dívida, eliminou a parcela considerada ilegítima pelos auditores e comprou as obrigações de dívida do Estado aos credores por 35% do seu valor nominal. Em seguida, pagou a parcela restante, "para nos livrarmos dos condicionamentos do FMI, como fez o Brasil ou a Venezuela".
"Expulsei de Quito a missão do Banco Mundial e desde há seis anos que a burocracia financeira internacional não regressou ao meu país. Agora estamos melhor que nunca", concluiu Correa.
*GilsonSampaio

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