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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, novembro 07, 2012

Os negócios da oligarquia midiática brasileira ou por que a Veja odeia tanto o ENEM e o PROUNI: Grupo Abril, empresa que edita a revista Veja, compra o Anglo e se torna gigante do ensino privado no Brasil




Abril compra o Anglo e se torna a segunda maior da área de educação

Expansão. Sistema educacional estava à venda havia dois anos e vinha sendo disputado também pelo grupo Pearson, dono do jornal 'Financial Times', e pela editora espanhola Santillana; negócio envolve o Anglo Sistema de Ensino, o Anglo Vestibulares e a SIGA

de Naiana Oscar - O Estado de S.Paulo


Depois de uma disputa acirrada, o Grupo Abril anunciou ontem a compra do Anglo - rede de educação especializada em cursos preparatórios para o vestibular -, tornando-se a segunda maior empresa do setor no País, à frente do Objetivo e atrás apenas da Positivo. O grupo criado a partir dessa aquisição deve faturar este ano cerca de R$ 500 milhões. O valor do negócio não foi divulgado.

Único sistema de ensino de grande porte que permanecia sendo controlado integralmente pela família fundadora, o Anglo estava à venda havia dois anos. "Não porque a empresa passasse por dificuldades, mas porque, com a consolidação do setor, o Anglo só conseguiria crescer se unindo a um grande player", explica Ryon Braga, da Hoper Consultoria, especializada em educação.

Além do Grupo Abril, por meio da empresa Abril Educação, o Anglo foi disputado por pelo menos outros dois grupos. A britânica Pearson, empresa do segmento editorial e de informação digital, que controla o jornal Financial Times, chegou a fazer uma proposta. Há uma semana, uma reportagem do próprio jornal dizia que a rede brasileira estava sendo avaliada em R$ 600 milhões. Além do Anglo, o Pearson também teria tentado comprar o Sistema Educacional Brasileiro (SEB), que controla escolas, oferece sistemas de educação e tem valor de mercado de R$ 715 milhões. A editora espanhola Santillana, com planos de expansão na América Latina, também estava entre os interessados no Anglo.

Nova empresa. O negócio anunciado ontem envolve o Anglo Sistema de Ensino, o Anglo Vestibulares e a SIGA, com cursos preparatórios para concursos públicos. O grupo conta com unidades próprias e parcerias com escolas em todo o País . A empresa fornece o material didático (as tradicionais apostilas) a e metodologia de ensino.

Os membros de uma das famílias fundadoras, Guilherme Faiguenboim e Assaf Faiguenboim, continuarão à frente das operações, que abrangem 484 escolas, em 316 municípios, com um total de 211 mil alunos. Outros 38 mil estudantes estão na rede pública, em 24 municípios. O faturamento da rede para este ano é estimado em R$ 150 milhões.

Todo o sistema Anglo foi adquirido pela Abril Educação, uma empresa que integra o Grupo Abril e é controlada exclusivamente pela família Civita. Até dois anos atrás, esse braço da companhia tinha a participação de um sócio estrangeiro - a Naspers, maior empresa de mídia da África do Sul, que adquiriu 30% das ações do Grupo em 2006. A família, no entanto, recomprou as participação acionária na Abril Educação em 2007.

A empresa, presidida pelo executivo Mauro Calliari, controla as operações das editoras Ática e Scipione, ambas fortes no segmento pedagógico. Juntas, as editoras contam com um portfólio de 3,5 mil títulos.

No mesmo ano em que recuperou o controle da empresa, a Abril estreou no sistema de ensino com a rede SER. Essa rede, semelhante à do Anglo, está em 350 escolas, com 85 mil alunos. Também oferece material didático e metodologia própria para os estabelecimentos associados. As duas marcas continuarão operando independentemente. Segundo esclareceu a Abril Educação, as duas redes não são concorrentes, já que o Anglo adota um esquema de franquia e a SER fornece apenas o material, sem atrelar a marca aos estabelecimentos.

Interesses. Em nota, Giancarlo Civita, um dos controladores da Abril Educação, afirmou que "a transação reforça o compromisso da empresa com a melhoria da qualidade de ensino e seu comprometimento na área de educação". Segundo o comunicado, o negócio permitirá à empresa "fortalecer sua presença junto às redes pública e privada de ensino". E o objetivo, garante a Abril na nota, é alcançar a liderança do mercado.

O sistema Anglo foi criado em 1894, em São Paulo, pelo português Antônio Guerreiro. Na década de 30, foi lançado o primeiro curso preparatório para o vestibular da USP e, pouco tempo depois, a empresa passou a adotar a apostila caderno, uma revolução no material didático.

Consolidação

RYON BRAGA
CONSULTOR DA HOPER, ESPECIALIZADA EM EDUCAÇÃO
"O Anglo estava à venda não porque a empresa passasse por dificuldades, mas porque, com a consolidação do setor de educação no Brasil, só conseguiria crescer se unindo a um grande player"


PARA LEMBRAR

Educação no radar dos investidores
Nos últimos anos, o mercado educacional no Brasil entrou no radar dos investidores. Grupos de private equity têm demonstrado interesse no setor, principalmente no ensino superior. Hoje, entre os cinco maiores grupos educacionais privados do País, quatro estão ligados a fundos de private equity. 
A ofensiva dos fundos teve início há sete anos, quando o Pátria Investimentos comprou parte da Anhanguera Educacional. A Estácio, do Rio de Janeiro, tem participação do GP Investimentos. A americana Laureate - que no Brasil controla, entre outras instituições, a Universidade Anhembi Morumbi - tem como acionista o fundo de private equity americano KKR, um dos maiores do mundo. No ano passado, foi a vez de o fundo Advent comprar parte da Kroton Educacional. Por enquanto, a única exceção entre as cinco maiores universidades do País é a Unip, do empresário João Carlos Di Genio.

A entrada dos fundos acelerou a consolidação do setor. Segundo a Consultoria Hoper, especializada em educação, hoje os 15 maiores grupos do setor concentram 30% dos 3,9 milhões de alunos do ensino superior. Há cinco anos, o porcentual não alcançava 20%. Para a consultoria, o setor pode movimentar US$ 2,5 bilhões nos próximos dois anos em fusões e aquisições. Com o aumento da concorrência e a queda na rentabilidade média, as instituições querem ganhar com a economia de escala. 

Fontehttp://www.estadao.com.br/noticias/impresso,abril-compra-o-anglo-e-se-torna-a-segunda-maior-da-area-de-educacao,580297,0.htm

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