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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, novembro 17, 2012

YPo’i: fazendeiros envenenam rio utilizado por famílias Kaiowá, acusam indígenas

Portal Geledés




A Polícia Federal, Força Nacional e Fundação Nacional do Índio já foram notificadas da ocorrência. Uma amostra da água será encaminhada ao Ministério Público Federal de Mato Grosso do Sul. Em função do feriado e do final de semana, nada deverá ser encaminhado até segunda-feira.
Ruy Sposati, de Brasília
CIMI – Indígenas Guarani Kaiowá de YPo'i, em Paranhos, divisa do Mato Grosso do Sul com o Paraguai, denunciaram o envenenamento do córrego YPo'i, principal fonte de água da comunidade. Um vídeo com imagens do riacho contaminado, registrado por dois professores indígenas, foi publicado pelo conselho da Aty Guasu – assembleia dos Kaiowá e Guarani – na sexta-feira, 16.
Segundo relatos da comunidade, uma crosta de espuma branca se formou em toda a superfície da água, na manhã da quarta-feira, 14, fechando totalmente o rio. "As crianças estavam tomando banho quando viram a espuma branca", contam. "Ela tomou conta do córrego inteiro por dois dias".
"Nós seguimos a trilha do riacho até a fazenda, onde vimos dois tambores grandes. Não sabemos o que era. A gente foi pra tirar foto, mas fomos recebidos a bala. Começaram a atirar pra cima e saímos correndo".
Para a comunidade, esta foi uma ação deliberada dos proprietários das fazendas que incidem sobre a área indígena Kaiowá. "Agora não é época de passar veneno. Veneno se usa na época de colheita. E do outro lado é gado, e com gado não se usa veneno. Isso não foi um acidente", afirmam os indígenas.
Os Kaiowá de YPo'i – "rio estreito", em guarani – contam que esta não é a primeira vez que o único córrego da área, a 200 metros de distância do acampamento, é envenenado. "Logo quando a gente retomou, quando estávamos isolados, os fazendeiros jogaram gado morto no rio, querendo dificultar nossa vida", relatam.
A contaminação do rio seria uma continuação de um recado dado pelos fazendeiros aos indígenas. "Na semana passada, o fazendeiro comunicou à comunidade que nós não poderíamos mais cruzar [a saída da aldeia] pela plantação de soja pra sair pra Paranhos", contam.
"Esse córrego é a nossa principal fonte de água pra beber, tomar banho, fazer comida, lavar roupa. E agora a gente não pode usar. Ainda tem espuma boiando nos cantos. Estamos muito assustados".
Em nota, o conselho da Aty Guasu se disse "chocado e indignado com as ações cruéis dos fazendeiros (...)", e exigiu que "autoridades federais tomem prividências cabíveis". A Polícia Federal, Força Nacional e Fundação Nacional do Índio já foram notificadas da ocorrência. Uma amostra da água será encaminhada ao Ministério Público Federal de Mato Grosso do Sul. Em função do feriado e do final de semana, nada deverá ser encaminhado até segunda-feira.
Desde a reocupação do tekoha – "lugar onde se pode ser" em Guarani, forma como eles se referem a seu território tradicional originário -, em 2009, três Kaiowá já foram assassinados em YPo'i. Dois professores, os primos Genivaldo e Rolindo Vera, foram mortos três dias depois da retomada. O corpo de Rolindo permanece desaparecido. O de Genivaldo foi encontrado no córrego em questão, perfurado, com sinais de tortura e o cabelo raspado. Em 2010, Teodoro Recalde foi assassinado a golpes de facão por jagunços.
“Veneno fedido, química homicida, foi jogado pelos fazendeiros no córrego Ypo’i, em Tekoha Guarani-Kaiowá Ypo’i , Paranhos, MS. O fato cruel ocorreu no dia 14 de novembro de 2012. Enquanto as crianças e adultos Guarani e Kaiowá estavam tomando banho, compareceu espuma branca em cima do córrego, e  todos saíram correndo. As lideranças e comunidades comunicaram à Funai, PF e MPF, mas fim de semana foram feriados. Nós todas lideranças da Aty Guasu Guarani e Kaiowá estamos chocados e indignados com as ações cruéis dos fazendeiros que passaram praticar esse envenenamento dos nossos córregos que utilizamos dia-a- dia. Pedimos que autoridades federais tomem providencias cabíveis. Aguardamos as posições. Passamos os fatos e vídeos para todos (as). No celular, foi filmado por indígena de Ypo’i”.
Fonte: Combate ao Racismo Ambiental
*mariadapenhaneles

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