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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, dezembro 05, 2014

Netanyahu nas cordas? Palestinos derrubam mais um governo israelense

 [*] Gilad AtzmonCounterpunch
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Por Karras

Vez ou outra, líderes políticos e militares israelenses são derrotados pelas próprias guerras israelenses. A Primeira-Ministra Golda Meir e seu comandante do exército (David “Dado” Elazar) foram mandados de volta para casa depois dos erros estúpidos de 1973 (Guerra do Yom Kippur). O Primeiro-Ministro Menachem Begin perdeu a sanidade depois da primeira guerra no Líbano (1982). O Ministro da Defesa, Amir Peretz e seu comandante do exército Dan Halutz’ foram tratados com dureza pela mídia israelense depois da derrota de Israel no Líbano, em 2006. O Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu paga agora o preço do mais recente desastre israelense em Gaza e do levante de palestinos que veio imediatamente depois.

Nações fortes tendem a unir-se em torno dos comandantes em tempos de crise. Os israelenses não, são como crianças mimadas. Preferem virar-se contra os comandantes em tempos de conflito, mas não porque anseiem por paz. É exatamente o contrário: querem vitória conclusiva; rios de sangue árabe pelas ruas. Bibi não lhes deu o que queriam. Aos olhos de muitos patriotas israelenses, Bibi é mole.

Israel não se saiu bem na mais recente rodada de violência. O exército de Israel não conquistou um, que fosse, objetivo militar importante. Depois de poucos dias, o exército israelense teve de retirar-se, humilhado e exaurido. Os militares israelenses já admitiram que não souberam dar resposta militar à balística palestina, aos tuneis e a coragem sem fim dos palestinos. Além do mais, o conflito em Gaza respingou sobre a Cisjordânia e cidades israelenses. Na verdade, o gabinete de Netanyahu demorou a reagir. Parecia colhido de surpresa pelos eventos. Agora, muitos israelenses já admitem abertamente que o futuro do Estado Judeu é mais sombrio a cada dia.

Por Latuff
establishment político israelense seguiu rapidamente a maré de opinião pública – com total radicalização. Os falcões querem que o estado admita que é um “lar judeu”, em vez de uma “democracia judaica” (expressão que, só ela, já é uma contradição entre os termos). Os centristas e a esquerda israelense insiste que Israel tem de manter a mentira “democrática”. Soa bem e os Goyim acreditam, como argumentaram.

Hoje (3/12/2014) cedo, o Primeiro-Ministro Netanyahu anunciou novas eleições, depois de demitir dois ministros chaves de seu governo – Yair Lapid, líder do partido Yesh Atid e Ministro das Finanças; e Tzipi Livni, líder do Hatnua e Ministra da Justiça.

Livni e Lapid opuseram-se à Lei Nacional de Israel e deram a Netanyahu oportunidade de ouro para se reafirmar como devotado judeu nacionalista patriótico. Acho que Netanyahu sobreviverá a esse round político.

Mas há um ponto, nessa história, pequeno, mas significativo. Há sete meses, era Netanyahu que pressionava cada vez mais a Autoridade Palestina, o Hamás e a população palestina, num esforço para quebrar o governo de unidade dos palestinos. Seis meses de violência depois, uma guerra em Gaza e uma 3ª Intifada em produção, os palestinos mostram-se mais unidos que nunca. E o governo de Netanyahu está caindo aos pedaços.
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[*] Gilad Atzmon (músico e escritor) nasceu em Israel em 1963 e estudou na Academia Rubin de Música, Jerusalém (Composição e Jazz). Multi-instrumentista, toca saxofones, clarinete e instrumentos de sopro étnicos. Seu álbum Exile foi o álbum de jazz BBC do ano em 2003. Ele foi descrito por John Lewis noThe Guardian como “o mais hardest-gigging homem do jazz britânico”. Atzmon viaja extensivamente pelo mundo tocando em festivais, salas de concertos e clubes. Até 1994, foi produtor-arranjador de vários projetos de dança e rock israelenses, realizando na Europa e nos EUA a reprodução de música étnica, bem como rock e jazz. Anima seu blog com vários artigos políticos.

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