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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, dezembro 19, 2014

PUTIN AFIRMA QUE EUA QUEREM FAZER DA RUSSIA UM "TROFEU DE CAÇA"


'Por acaso não é um muro o escudo antimísseis ao lado de nossas fronteiras; por acaso não é um muro (...) a ampliação da Otan para o Leste', indagou o líder do Kremlin em entrevista coletiva hoje
  



por EFE* 


Putin: sanções ocidentais causaram em torno de 25% a 30% dos problemas econômicos que o país sofre atualmente
Moscou – O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta quinta-feira (18) que o Ocidente "decidiu que é um império e que todos os demais são vassalos", aos quais é preciso achatar, e opinou que querem transformar o "urso russo" em um "troféu de caça". Em entrevista coletiva, Putin acusou os parceiros ocidentais de querer erguer um novo Muro de Berlim, desta vez "virtual", com suas medidas contra a Rússia.

"Por acaso não é um muro o escudo antimísseis ao lado de nossas fronteiras? Por acaso não é um muro (...) a ampliação da Otan para o Leste, algo que nos prometeram que não aconteceria depois da queda do muro de Berlim", perguntou o líder do Kremlin. Putin voltou a se referir às sanções do Ocidente contra Moscou, adotadas pelo papel da Rússia na crise da Ucrânia, como uma nova tentativa dos Estados Unidos e Europa de "arrancar as garras e os dentes do urso" russo para que se transforme "em um troféu de caça".

 

"Às vezes penso se não seria melhor que o urso ficasse tranquilo, comendo favas e mel. Talvez assim o deixassem em paz. Não o deixarão! Porque sempre tentarão colocar uma corrente nele. E quando o prenderem, lhe arrancarão os dentes e as garras, que hoje são (nossa) força de contenção nuclear", disse o líder russo.

Ao mesmo tempo, Putin reconheceu que as sanções ocidentais já prejudicaram a economia russa, e são causadoras de "em torno de 25% a 30% dos problemas econômicos que o país sofre". Por outro lado e após admitir a presença de voluntários russos no leste da Ucrânia, combatendo o bando rebelde, Putin reiterou que "na consciência social" da Rússia, o conflito armado nas regiões rebeldes ucranianas "é uma operação de castigo realizada pelas atuais autoridades de Kiev".

"Não foram os milicianos do leste que enviaram suas unidades a Kiev, mas as autoridades de Kiev que levaram suas forças armadas para o leste", ressaltou o chefe do Kremlin, que voltou a qualificar de "golpe de Estado" a reviravolta de poder vivida na Ucrânia no início deste ano.

  

Razões da crise

Ao que parece, a Rússia está, economicamente, nas cordas. O rublo perdeu cerca de 50% de seu valor frente ao dólar, desde junho. O aumento dos preços de produtos importados elevou a inflação a 9,1% ao ano. A causa nítida é uma queda abrupta e estranha nos preços internacionais do petróleo — de cerca de US$ 100 o barril, há um mês, para US$ 60 hoje. Como gás e óleo respondem por cerca de 75% das exportações russas, teme-se que o país perca condições de gerar divisas necessárias para cumprimento de seus compromissos comerciais e financeiros com o exterior.
O petróleo caiu devido a uma decisão unilateral da Arábia Saudita — maior exportador mundial do combustível e principal aliado dos EUA no Oriente Médio, ao lado de Israel. Há cerca de dois meses, o governo de Riad agiu em sentido diametralmente oposto ao que recomendaria a lógica comercial mais óbvia. Numa conjuntura em que a economia global e o consumo de petróleo refluem, ele decidiu elevar fortemente a extração do produto, derrubando os preços.
Putin

As razões são controversas. A explicação mais tradicional sugere que se trata de uma tentativa de inviabilizar (por concorrência) a exploração de petróleo em rochas de xisto, que cresceu muito nos Estados Unidos, mas é custosa — além de ambientalmente devastadora. Cada vez parece mais crível, no entanto, que a derrubada dos preços foi ditada por interesses geopolíticos. Os três países mais prejudicados pelo petróleo baixo são Irã (o grande adversário regional da Arábia Saudita no Oriente Médio), Rússia e Venezuela (que Washington busca insistentemente colocar em dificuldades).
Se Moscou seguir a ortodoxia econômica, sua resposta pode provocar graves problemas internos na Rússia. Implicaria elevar as taxas de juros (houve uma alta emergencial para 17% ao ano, ontem), gastar boa parte das reservas internacionais de divisas (para comprar rublos e tentar sustentar seu preço), tornar o país vulnerável a outros ataques.
* Com Antonio Martins, do Outras Palavras.

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