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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, junho 30, 2015

A cara fascista o fundamentalismo religioso é oposição à liberdade. Portanto, deve ser sistematicamente combatido

A cara fascista da intolerância religiosa de matriz cristã



Fátima-Oliveira
cristianismo é uma religião monoteísta, e o Deus dos cristãos é o mesmo. O que muda é a prática de seitas e igrejas, sejam católicas ou evangélicas – tradicionais ou neopentecostais. Muda tanto que dá a impressão de que cultuam deuses diferentes. Uns até dizem “meu Deus é o Deus da palavra”.
Por Fátima Oliveira, do O Tempo 
Cada facção cristã diz deter o monopólio da verdade. Não é apenas complexo, é também complicado, porém respeito a opção religiosa de qualquer pessoa, que considero algo da intimidade de quem crê.
Jamais sou omissa quando algum credo se acha no direito de ser “espada do mundo”, “medida do tamanho” e tem a arrogância de medir as pessoas pela fita métrica de sua fé e deseja que as leis de um país laico reflitam a agenda moral de sua religião.
“O fundamentalismo religioso está presente em diferentes doutrinas. Na tradição guerreira dos filhos de Abraão – judeus, cristãos e muçulmanos –, as vertentes fundamentalistas se sustentam na convicção tribal de serem, cada um desses, o povo escolhido, presenteado com a revelação de um único e verdadeiro Deus” (campanha “Contra os fundamentalismos, o fundamental é a gente!”).
Há facções cristãs que aspiram a viver numa teocracia e tentam, até pela violência letal, obrigar (eu disse obrigar, e não convencer!) que todos professem a sua fé! São desejos de ares fascistas e misóginos que tentam solapar a democracia, impondo uma agenda moral centrada nos corpos das mulheres.
Não importa a matriz, o fundamentalismo religioso é oposição à liberdade. Portanto, deve ser sistematicamente combatido por quem ama a liberdade tão bem versejada pelo poeta Paul Éluard (1895-1952): “Nos meus cadernos de escola/ Sobre a carteira nas árvores/ Sobre a neve sobre a areia/ Grifo teu nome…/ E pelo poder de um nome/ Começo a viver de fato/ Nasci pra te conhecer/ E te chamar/ liberdade”.
O ódio do fundamentalismo religioso à liberdade deságua em crimes como o apedrejamento de uma menina de 11 anos, Kailane Campos, no Rio de Janeiro, quando se dirigia a uma casa de candomblé; na angústia da ialorixá baiana mãe Dede de Iansã (Mildreles Dias Ferreira), 90, fulminada por um infarto após uma noite inteira ouvindo ofensas na porta de sua casa; e é também o que move cristãos na perseguição às religiões de matriz africana, queimando seus templos e expulsando seus fiéis dos lugares onde vivem.
Há notícias sobre pastores evangélicos presos por tráfico de armas e de “traficantes evangélicos” que não apenas expulsam de favelas adeptos do candomblé, mas ainda têm a pachorra de proibir o uso de roupa branca nos territórios que controlam!
É patente que não combina com o “Deus da palavra” ser um pastor traficante de armas ou um evangélico traficante de drogas, pois são farsas que usam o nome de Deus como disfarce e dão margem a que indaguemos: não se faz mais protestante como antigamente, gente de vida limpa, honrada e exemplar?
Merece estudos sociológicos a intolerância religiosa dos bandidos evangélicos, que, tal qual a dos evangélicos ditos do “bem”, caminha de braços dados com a sede de mando nos Três Poderes da República: Legislativo, Executivo e Judiciário – já são perceptíveis juízes que pautam suas sentenças pela Bíblia!
A intolerância religiosa de facções evangélicas, que se pautam pela teologia da prosperidade no Brasil, a rigor, virou caso de polícia há muito tempo, e as autoridades não estão nem aí, desrespeitando o republicanismo e permitindo o fortalecimento de uma guerra religiosa que nem é em nome de Deus, mas de uma agenda moral.
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