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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, junho 15, 2015

Tudo que é diferente dá trabalho. Tudo que é mestiço é anticolonial. Definitivamente não se mata uma ideia,

Paulo Fonteles Filho: Malafaia e Feliciano reinventam os tribunais inquisidores




                                                   Os       Anticristos¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨


Por Paulo Fonteles Filho, no seu Blog 

Há mais de dois mil anos, Roma, a cidade eterna, tinha os domínios do mundo. Escravizava povos e sociedades, no Oriente, tinha o terrível Herodes à seu serviço, muitos serviam de espiões, milhares de crianças foram mortas porque se anunciava o Messias.
anticristos
Toda criança morta, não importa se judeu ou árabe era pela simples ameaça do Messias. Decerto que o sorriso de uma criança é uma ameaça para um tirano e isso vale para aqueles tempos, como para os atuais.
O fato é que o Messias, por sorte ou graça divina, como queiram, se tornou num dos homens mais importantes da história universal e a fase mais bela de sua igreja foi quando perseguida e vivia nas catacumbas, em luta pela justiça e liberdade, às vezes com armas nas mãos.
Crucificaram o homem e lhes deram a longevidade, tenho dúvidas sobre a eternidade.
A questão é que ele está aqui entre nós, seja pela fé ou pela história. Sua mais brilhante passagem foi no socialista-primitivo discurso de “O Sermão da Montanha”: ‘bem-aventurados aqueles que têm fome e sede de justiça, porque deles será o reino dos céus’, me desculpe se não for assim.
A questão central é que lhe mataram mil vezes e mataram de verdade só que o homem não morreu, resiste até hoje. Quem me conhece sabe no que acredito e como preconizava Máximo Gorki, o escritor russo, creio nos livros e na vida.
Não se mata uma ideia. A grande fixação dos direitistas é sempre matar uma ideia. Toda ideia é subversiva para um recalcitrante. Tudo que é diferente dá trabalho. Tudo que é mestiço é anticolonial. Definitivamente não se mata uma ideia, mas a velhacaria um dia desaparece, aliás, apodrece.
Acontece que em cada palavra, cada pregação ou post nas redes sociais, os pastores Marcos Feliciano e Silas Malafaia, como se tivessem uma procuração digna das tábuas de Moisés destilam um ódio – irmão siamês da violência – próprio desta quadra histórica tão marcada pelo recrudescimento de forças tão obtusas que nos fazem crer que a mentalidade da idade média é a grande vedete da direita.
A reinvenção dos tribunais inquisidores é sempre uma boa pedida para o estabelecimento da barbárie. Agora os alvos são os homossexuais, os terreiros da religiosidade profunda — forjada nos navios negreiros – os símbolos da própria Igreja Católica e a esquerda.
Amanhã, se não forem duramente desmistificados, serão as ciências, as artes, o bom senso e o pensamento social avançado o alvo das pregações que faria todo Cristo, o humano ou divino, corar de tanta indignação, porque sua tez histórica — de homem perseguido, caluniado e morto na cruz — foi o da justiça e na prosperidade espiritual da humanidade.
Vai me parecendo cada vez mais que esse fanatismo polaroide, onde a salvação tilinta nas mesmas trinta moedas de Judas — porque é no lombo da ignorância que ocorre o milagre da multiplicação das poucas e milhardarias fortunas — que haveremos de travar a civilizatória luta contra os Pilatos e Herodes da contemporaneidade.
A coisa é tão séria que, se eles vencerem no imaginário dos brasileiros, não seria surpresa se mandarem queimar os livros, como decretavam as hienas de Hitler. A Bíblia também seria torrada na catarse fascista, seja pela sua qualidade literária ou por narrar a história de parte expressiva dos povos.
A Renascença, os sonhos de Da Vinci e as convicções de Giordano Bruno há mil anos têm nos ensinado como enfrentar os heróis do obscurantismo.
Não passarão!

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