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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, junho 13, 2015

O Legado do Mensalão, dez anos depois

Mídia PT Joaquim Barbosa
Passados dez anos, é possível enxergar com clareza as consequências do Mensalão.
São, numa palavra, terríveis.
O Mensalão é um marco tenebroso no processo de partidarização da Justiça. Se, até ali, havia pelo menos pudor em julgamentos de cunho político, o Mensalão escancarou o caráter ferozmente antipetista e plutocrata da Justiça.
O PT se deu mal com isso, naturalmente. Lideranças suas como Zé Dirceu foram arremessadas aos leões sem que sequer provas fossem consideradas necessárias.
Mas pior ainda ficou a imagem da Justiça, sobretudo o STF, e dentro dele particularmente Joaquim Barbosa. Porque Justiça sem parcialidade simplesmente não é Justiça.
Os juízes do STF deram ao país um espetáculo patético. Inventaram besteiras como a “dosimetria”, pela qual um acusado recebeu pena três vezes maior do que a que recaiu sobre o assassinato serial da Noruega.
Suas falas, pomposas e confusas, não escondiam a pobreza de pensamento.
Um juiz começou um pronunciamento dizendo que não passava dia sem que um novo escândalo eclodisse na imprensa.
Sabe-se hoje quantos “escândalos” foram e são inventados pela imprensa quando se trata de sabotar governos populares.
Foi assim com Getúlio e o “Mar de Lama” de que falava o Corvo, Carlos Lacerda. Foi assim como João Goulart. Foi assim com Lula. E é assim com Dilma.
Na ditadura militar, aquele juiz teria ficado pascaciamente tranquilo ao abrir os jornais e não encontrar escândalo nenhum.
O general Médici, numa frase antológica, afirmou certa vez que era bom, depois de saber dos dramas internacionais, ver o Jornal Nacional porque ali tudo estava lindo no Brasil.
Ninguém de mediana inteligência deve invocar a mídia para falar de roubalheira no Brasil, tantas vezes ela mente, distorce, inventa, amplia ou diminui conforme sua conveniência.
Mas aquele juiz parecia a Velhinha de Taubaté, com fé cega e obtusa nas manchetes de jornais e revistas.
Não foi apenas a Justiça que parou de fingir imparcialidade a partir do Mensalão. O mesmo movimento foi feito pela imprensa.
A Veja foi a primeira grande publicação a abandonar o compromisso com a seriedade em nome de sua cruzada antipetista.
Na edição impressa, o tom foi dado por Diogo Mainardi. Na edição digital, por Reinaldo Azevedo.
Logo Mainardis e Azevedos multiplicaram-se pelas demais empresas jornalísticas.
Nasceu ali um novo tipo de jornalista: aquele de quem se espera que bata incessamente em Lula e no PT.
Não se cobra deles precisão, qualidade, lógica. Nada. Basta atacar o PT e seus expoentes. É o suficiente para serem bem pagos e terem refletores à disposição.
De Sheherazade a Villa, de Augusto Nunes a Sardenberg, de Constantino a Setti, e por aí vai, foram se espalhando pelas publicações vozes que em geral em tom incandescente reproduziam os interesses dos donos das empresas jornalísticas.
Tais interesses, para simplificar, se traduziam e traduzem em atacar o PT e poupar os amigos.
Não é apenas uma questão ideológica. É de dinheiro vivo também.
O governo federal tem, no Brasil, uma massa de recursos que sempre foi mordida sem cerimônia pelos barões da mídia.
Publicidade, empréstimos maternais em bancos oficiais, compras de livros de subsidiárias das empresas jornalísticas – a lista de mamatas é longa.
A dependência dos privilégios enche de pânico os empresários do setor a cada eleição: e se o presidente eleito decide cortar a verba publicitária?
E então o apoio total vai para candidatos como Aécio. Até a moribunda Abril respiraria por mais alguns anos caso Aécio tivesse vencido: os favores oficiais logo apareceriam, em troca de cobertura amiga.
O Mensalão significou, portanto, não apenas uma Justiça partidarizada – mas uma imprensa brutalmente parcial.
Mas o brasileiro é mais resistente do que as pessoas pensam. A aliança entre a Justiça e a mídia desde o Mensalão não levou ao poder, pelas urnas, nenhum conservador.
O povo não é bobo.
*LuizMuller

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