Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, junho 17, 2015

MINHA TESE ANULARIA A OPERAÇÃO LAVA JATO”

KAKAY: “MINHA TESE ANULARIA A OPERAÇÃO LAVA JATO”



Criminalista questiona a validade das investigações e critica a atuação do juiz Sérgio Moro, responsável pelo caso: "juízes midiáticos estão entre as piores coisas que existem"; "Ele é competente, porém se comporta como um juiz vingador, jogando o poder judiciário contra a população", comenta ainda; Kakay também diz que o acordo de delação premiada assinado pelo doleiro Alberto Youssef, que era seu cliente, é "absurda", uma vez que Youssef já quebrou outro acordo de delação, no caso Banestado.

Por Karolina Bergamo*, da Revista Fórum

O nome dele está sempre presente em assuntos polêmicos e nos principais escândalos de corrupção do país. Isso porque Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, é o advogado criminalista mais requisitado entre os políticos que precisam de ajuda com questões legais. Na operação Lava Jato, é responsável por intervir a favor de Roseana Sarney (PMDB-MA), ex-governadora do Maranhão, de Edison Lobão (PMDB-MA), ex-ministro e senador, e de Aécio Neves (PSDB-MG), também senador. Na primeira fase da investigação, fez a defesa de Alberto Youssef, porém deixou a função por discordar do fato de o doleiro ter assinado o acordo de delação premiada com o Ministério Público.
Em entrevista coletiva concedida na manhã de sábado (13), em São Paulo, Kakay afirmou que teria conseguido a anulação da investigação com sua "tese imbatível", se tivesse permanecido como advogado de Youssef. Em setembro do ano passado, o criminalista entrou com um habeas corpus pedindo a anulação da operação. Ele alegou que o juiz federal responsável pelo caso, Sergio Moro, não teria competência legal para julgar o doleiro, pois havia declarado "foro íntimo" – por motivos pessoais, não se sentia apto a julgar o réu – no caso Banestado, em 2003.
Ele afirma ainda que Youssef já tinha quebrado um acordo de delação, logo, não teria mais direito a assinar outros: "Essa delação é absurda." A tese de Kakay ainda sobrevive e está sendo usada na defesa de outros réus, como, por exemplo, do presidente da empreiteira OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, acusado de fazer parte do cartel de empresas que se revezava na assinatura dos contratos com a Petrobras.
O advogado ainda criticou a atuação de Moro no caso, dizendo que "juízes midiáticos estão entre as piores coisas que existem". "Se eu decidir falar mal dele em uma praça, com certeza apanho. Ele é competente, porém se comporta como um juiz vingador, jogando o poder judiciário contra a população. Prende, e quando o tribunal solta, este ainda fica parecendo que está do lado errado na história. Tudo o que eles fazem vira verdade absoluta", destacou.
Outro problema apontado por Kakay é o fato de Moro estar agora atuando apenas em uma causa, a Lava Jato. De acordo com ele, essa é uma característica de tribunais de exceção. "Juiz de exceção só existe em ditaduras. Estamos vivendo uma ditadura do Ministério Público, e a mídia não está atenta à situação, pois os jornalistas não conhecem o Direito", opinou.
*Entrevista coletiva concedida aos 20 estudantes de jornalismo que participam do Curso de Direito de Defesa e Cobertura Criminal, promovido por Abraji, Instituto de Defesa do Direito de Defesa – IDDD e OBORÉ – Projetos Especiais em Comunicações e Artes, em São Paulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário