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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, junho 10, 2015

HSBC é crise que vem de longe. Faz tempo que o banco do ópio vai muito mal



Por: Fernando Brito
Apresentada como sendo um sinal da crise brasileira, pouca atenção se dá ao fato de que a crise do HSBC nada tem a ver com nosso país e, sequer, é motivada pelo enfraquecimento da instituição com a revelação – oh! – de que mantinha contas irregulares na Suíça, cujos titulares são zelosamente protegidos por uma “ética” jornalística que se gradua pela renda e pela orientação política de quem desliza para fora da lei.
A crise do banco é muito profunda e vem desde 2008, quando teve perdas imensas com a crise 
mundial – calculadas em US$ 18,7 bilhões no mercado norte-americano – e começou a “passar a 
tesoura” em seus negócios e, claro, em seus funcionários.
Ali começava a história do “fim” – ao menos como grande banco de varejo – do braço brasileiro do 
chamado “banco do ópio”, que nasceu nas possessões inglesas Hong Kong e Xanghai, em 1865, para 
financiar a colheita e o comércio de ópio na China e na Índia, liberado após a Guerra do Ópio, 
terminada pouco anos antes, com a ocupação de Pequim por tropas inglesas e a imposição do 
Tratado de Tianjin, que liberou o tráfico de ópio – consumido em grande escala pelos chineses – e a 
entrada de “missionários”. Tianjin faz parte do que os chineses chamam de “tratados iníquos” e do 
“século da humilhação”.
Ironico que, 150 anos depois, durante a primeira década do século 21, o banco tenha voltado a se 
envolver com o tráfico de drogas, como revelou a investigação do Senado dos EUA que a fez 
O HSBC, que nasceu sob as bênçãos de FHC, com a liquidação do Bamerindus, vai ser agora 
disputado ferozmente pelo Bradesco, pelo Santander e pelo Itaú, salvo se surgir um estrangeiro como 
Citibank ou o banco do bilionário Carlos Slim, o Inbursa.
Com ele, o comprador leva pouco mais de 2% do mercado bancário brasileiro, a sétima fatia do setor 
e uma clientela física de alta renda (um quarto dos negócio do HSBC), a única em que o escândalo 
da Suíça – legalmente encerrado, com o pagamento de indenização ao país, coisa que aqui acham 
pecado e lá uma virtude – pode ter, de fato, alguma perda de prestígio.
Não é, portanto, um reflexo da “perda de confiança” no Brasil.
É parte de um corte de US$ 140 bilhões na sua divisão de globalbanking & markets.
Um pedaço de carne financeira pelo qual a banca privada saliva de apetite, porque dinheiro é – e 
sempre foi – a mais ansiosa substância alucinógena.

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