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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, maio 28, 2010

Calcula-se que em 2010, a comercialização de energia entre os países da América do Sul chegue a significativos 7% da energia gerada.








Matéria originalmente publicada no blog no Luis Nassif

Uma das maiores impropriedades da pré-candidatura de José Serra são os sucessivos ataques a países vizinhos – ao Mercosul, à Venezuela e, agora, à Bolívia.

Esse tipo de interferência não é adequada a quem se pretende futuro presidente da República. Mesmo porque, os interesses do Brasil na região independem de governos eventuais.

Desde os anos 90 há em curso um plano de integração continental capaz de impulsionar a região. Foram identificadas sete regiões no continente que, após a integração de infraestrutura, se transformarão em zonas de crescimento dinâmico.

Na verdade, grande desafio é acelerar essa integração.
Recentemente, Renato Queiroz e Thaís Vilela – do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – procederam a um amplo balanço sobre a integração energética do continente.

A integração energética é vantajosa por um conjunto de fatores.

1. Complementaridade dos recursos energéticos aproveitando, por exemplo, a diversidade hidrológica entre os países;

2. Possibilidade de aplicação de tarifas mais competitivas; e

3.sobretudo do ganho da diversificação da matriz energética dos países

Os obstáculos são de ordem legal e política. O primeiro, o da insegurança política e jurídica. Em 2006, a Bolívia mudou as regras de comercialização do seu gás. Em 2007 houve a interrupção do fornecimento de 2 mil MW da Argentina. Houve a renegociação dos contratos de Itaipú, solicitado pelo Paraguai e o racionamento de energia elétrica da Venezuela, afetando o suprimento de Roraima, e a redução drástica de fornecimento de GN pela Argentina ao Chile

Dizem os dois especialistas: “há de haver um reconhecimento de que os países possuem culturas empresariais distintas, diversidade de padrões culturais e, também, eventos históricos que deixaram ressentimentos entre os países da região. As probabilidades de avanço no processo podem ocorrer em um ambiente cooperativo, em que a premissa maior é a integração energética da região e, não somente, os interesses em projetos de cada país”.

Já existem fóruns de debates apropriados para essas negociações, como a CIER (Comisión de Integracion Electrica Regional) a IIRSA (Iniciativa de Integração da Infraestrutura Regional Sul-americana) e a criação da União das Nações da América do Sul (UNASUL), espelhando-se na União Européia.

No gás natural e na eletricidade, há fatores que favorecem a integração. Em relação à eletricidade, as interconexões elétricas podem ser facilitadas com a implantação de hidroelétricas binacionais e por contratos de comercialização firmes entre países.

Isso já aconteceu com a hidrelétrica de Salto Grande entre a Argentina e o Uruguai, que começou a operar em 1979; a de Itaipu, entre Brasil e Paraguai, concluída em 1982; e a de Yacyretá entre a Argentina e o Paraguai, que começou a operar em 1994.

Calcula-se que em 2010, a comercialização de energia entre os países da América do Sul chegue a significativos 7% da energia gerada.

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