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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, maio 31, 2010

sanções para ISRAEL já, porque os EUA se calam?






A crise diplomática mudou de lugar

segunda-feira, 31 maio, 2010 às 10:43


O episódio desta madrugada, embora não tenha merecido nenhuma condenação de parte dos EUA, mudou totalmente a geopolítica da crise no Oriente Médio.

A repercussão da Europa é enorme. A Turquia, onde os protestos são mais intensos, é bom lembrar, é membro – e há muito tempo – da Otan e está longe de ser um país anti-Ocidente.

Acabou qualquer possibilidade de os governos europeus continuarem alinhados automaticamente à política norte-americana de indulgência total ao governo israelense e haverá mais e mais manifestações se houver cidadãos europeus entre os 19 mortos que a TV israelense admite ter havido no ataque.

Posto aí em cima o impressionante vídeo da Globonews, onde depois do desembarque de comandos aerotransportados, com o altíssimo nível de preparo que têm as tropas de assalto israelense – pergunte a qualquer especialista militar se não estão entre as mais preparadas do mundo, se é que não são as mais preparadas – fala-se que foram eles os atacados, com arames, facas e até armas de fogo, pois um dos comandos teria tido seu fuzil “tomado” pelos pacifistas e este teria aberto fogo.

Inacreditável o nível da matéria. O apresentador chega a perguntar “que comboio era esse”…embora tivesse aberto a reportagem dizendo que ele “levava suprimentos para a região” de Gaza.

Só perde para a declaração de William Burton, porta-voz da Casa Branca : “os Estados Unidos lamentam profundamente a perda de vidas e os feridos, e está trabalhando para entender as circunstâncias que cercam a tragédia.”

Novas imagens, mais claras, da Al Jazeera

segunda-feira, 31 maio, 2010 às 2:47

Consegui achar uma reportagem da Al-Jazeera, que tinha um repórter embarcado na flotilha de ajuda humanitária e registrou o ataque. Os comandos desceram no Mavi Marmara, navio de bandeira turca que liderava a flotilha. Segundo a Al-Jazeera, as rádios israelenses falam em 16 mortos e 30 feridos.



Massacre no mar de Gaza

segunda-feira, 31 maio, 2010 às 2:16

Soldados israelenses atacaram há poucas horas a “Frota da Liberdade”, um grupo de seis navios que transporta mais de 750 pessoas com ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, causando dois mortos e 30 feridos, do qual falei ontem aqui. As informações dão conta de que há mortes, entre duas e 14 pessoas, segundo diversas fontes.

Há centenas de ativistas europeus e norteamericanos nas embarcações, inclusive parlamentares e um coronel reformado do Exército dos EUA.

Os meios de imprensa turcos mostraram imagens captadas dentro do navio turco Mavi Marmara, nas quais se viam os soldados israelenses abrindo fogo. Vou ver se as consigo.

Em Istambul, vários centenas de pessoas tentaram atacar o consulado israelense.

Como prometi, aí estão as primeiras imagens do ataque aerotransportado das forças israelenses contre os barcos da “Flotilha da Liberdade”, que levavam ajuda humanitária a Gaza e protestavam contra o bloqueio imposto aos palestinos. Nem consegui ver tudo, pois minha conexão, para variar, está péssima.

Artigo de hoje, de Fidel, para Serra

segunda-feira, 31 maio, 2010 às 0:31

Como trata de um tema que o senhor José Serra resolveu explorar na campanha eleitoral, decidi traduzir (que a língua espanhola me perdoe!) o artigo que o líder cubano Fidel Castro acaba de publicar sobre a história do problema das drogas e sua relação com a dominação colonial.

Fidel remonta ao narcotráfico de ópio do século 19, com o domínio inglês na Ásia.

O artigo original, em espanhol, está publicado no site Cubadebate.

Quem sabe o Serra lê e para de achar que as drogas são um problema “tão novo” que se deve a um pequeno índio que chegou ao governo, pelo voto, há apenas quatro anos…

O império e a droga

Fidel Castro

Quando eu fui preso no México pela Polícia Federal de Segurança, que por puro azar suspeitou de alguns movimentos nossos, mesmo que os fazíamos com o máximo cuidado para evitar o golpe da mão assassina de (Fulgêncio)Batista – como fez Machado (Gerardo, ditador cubano nos anos 20), no México, quando a 10 de janeiro de 1929 os seus agentes assassinaram Julio Antonio Mella, na capital daquele país - eles pensaram que fossemos de um grupo de contrabandistas que operava ilegalmente na fronteira desse país pobre em seu comércio comércio com a potência vizinha poderosa, rica e industrializada.

Não havia praticamente praticamente no México o problema da droga que surgiu mais tarde por unanimidade, com sua enorme carga de danos, não só ao país mas também no resto do continente.

Os países da América Central e América do Sul investiram energias incalculáveis na luta contra a invasão do cultivo de folha de coca destinada à produção de cocaína, uma substância obtida através de produtos químicos agressivos e é tão prejudicial à saúde e à mente humana.

Os governos revolucionários, como a República Bolivariana da Venezuela e da Bolívia fazem um esforço especial para frear o seu avanço, como Cuba fez, a tempo.

Evo Morales já há muito tempo proclamou o direito do povo para consumir chá de coca, uma excelente infusão da milenar cultura tradicional dos índios Aymara e Quechua. Proibi-la seria como dizer a um inglês que não consuma chá, um hábito saudável importados do Reino Unido da Ásia, conquistado e colonizado por ele durante centenas de anos.

“Coca não é cocaína” foi o slogan de Evo.

É curioso que a difusão do ópio, uma substância que é extraída da papoula, bem como a morfina,e que é extremamente prejudicial diretamente consumida, foi resultado da conquista e do colonialismo no exterior em países como o Afeganistão. Foi usado pelos colonizadores britânicos como moeda em outro país de cultura milenar, a China, onde se forçava a aceita-lo como pagamento por produtos mais sofisticados a partir de China e Europa, até então pagos com moedas de prata. Frequentemente é citado como um exemplo da injustiça nas primeiras décadas do século XIX que “um trabalhador chinês que se tornava viciado gastava dois terços do seu salário em ópio e deixava sua família na miséria.”

Em 1839, o ópio já estava disponível para os trabalhadores e camponeses chineses. A Rainha Victoria, do Reino Unido, venceu no mesmo ano da Primeira Guerra do Ópio.

Comerciantes britânicos e norte-americanos com forte apoio da coroa inglesa, viram a possibilidade de grandes negócios e lucros. Por esse tempo muitos das grandes fortunas americanas foram baseadas naquele narcotráfico.
Temos de pedir à grande potência, apoiada por quase mil bases militares e sete frotas comandadas por porta-aviões nucleares e por milhares de aviões de combate – com os quais tiraniza o mundo - que nos explique como é que vai resolver o problema das drogas.

Brizola Neto

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