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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, março 12, 2011

Com aval dos EUA, ditadura saudita reprime e esvazia protestos


Dois pesos e duas medidas

Vermelho

Chávez está coberto de razão quando afirma que os Estados Unidos usa um peso e duas medidas nos conflitos em curso no Oriente Médio. Isto fica evidente no silêncio cúmplice diante dos últimos acontecimentos na Arábia Saudita, dominada por uma ditadura entreguista e submissa aos interesses do império. Também não se vê na mídia capitalista reportagens editorializadas sobre o tema, como ocorre em relação à Líbia.

A monarquia saudita lançou às ruas das principais cidades da Arábia nesta sexta-feira (11) um gigantesco esquema policial de repressão para evitar o "Dia de Fúria", protesto programado por manifestantes antimonarquistas para pressionar por reformas no poder ditatorial que governa o país há 85 anos.

Em algumas localidades, a polícia chegou a disparar contra o povo. As manifestações estavam previstas para o meio-dia, depois das orações desta sexta-feira, dia considerado pelos islâmicos como "santo". Porém, enquanto as mesquitas se esvaziavam, as forças de repressão instauravam postos de controle em pontos-chave de várias cidades.

No estratégico centro comercial Olaya, na capital Riad, onde manifestantes foram convocados a se reunir, centenas de membros de segurança cercaram uma mesquita e examinavam os documentos dos motoristas.

Os manifestantes exigem a eleição de um novo Parlamento e de um novo governante na ditadura monárquica. Outros ativistas convocaram protestos nacionais para 20 de março.

O ministério da Informação levou jornalistas para um tour por Riad, que revelou apenas uma forte presença das forças de repressão, sem sinais de manifestações. A cidade portuária de Jidá, no Mar Vermelho, a segunda maior cidade saudita, também estava superpovoada de policiais.

Tiros em manifestantes

Nas cidades menores, onde a força policial não era tão grande a ponto de dissipar as tentativas de reunião, houve disparos por parte de policiais contra alguns manifestantes.

Em Catifa, na província oriental, três manifestantes xiitas foram atingidos por disparos da polícia, que dispersava um protesto na noite de quinta-feira. Os disparos foram feitos quando cerca de 800 manifestantes, todos xiitas e incluindo mulheres, tomaram as ruas de Catifa exigindo a libertação de nove prisioneiros políticos xiitas.

Um pequeno protesto pedindo reformas e a libertação de prisioneiros xiitas também foi realizado no local.

A Arábia Saudita, com cerca de um quarto das reservas de petróleo do mundo, é o satélite americano de maior significado para o imperialismo, pois dali são monitoradas todas as operações bélicas no Oriente Médio.

Diante da forte repressão, o reino tem se livrado de qualquer rebelião política. Para Fuad al-Farhan, um ativista que atua na área dos direitos humanos, o povo saudita quer mudanças, mas "não está pronto para se revoltar".

"Isto explica porque as convocações de protestos fracassaram miseravelmente", tenta explicar. Os manifestantes pedem reformas amplas, como a adoção de um governo representativo, um judiciário independente, a abolição da polícia secreta, a libertação de todos os prisioneiros políticos e garantia de liberdade de expressão.

Na área econômica, pedem um salário mínimo de 10 mil rials (US$ 2.667) e trabalho em um país onde a taxa de desemprego é de 10,5% e chega a cerca de 30% na população com idades entre 20 e 29 anos. A origem da inquietação deve-se em grande medida à distribuição desigual da riqueza derivada do petróleo, enquanto cerca de 40% da população vivem em relativa pobreza.

De acordo com fontes internacionais, os membros da família real saudita se apropriaram de milhões de dólares da riqueza nacional do país, incluindo as receitas do petróleo, para seu uso pessoal.

Segundo um relatório da Reuters, os membros da realeza saudita se apoderaram de cerca de US$ 2 bilhões, assim como outros intimamente associados ao rei saudita Abdullah bin Abdel Aziz, que gastam US$ 10 bilhões da receita do país anualmente para despesas pessoais.

A conduta do império, que se diz orientada pela defesa da democracia e dos direitos humanos, é de uma hipocrisia chocante. Valores humanos universais servem como cortina de fumaça para encobrir os reais objetivos da maior potência capitalista do mundo e seus aliados imperialistas. O único valor que conta, neste caso, tem um nome: petróleo. 



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