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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, março 07, 2011

Galeano: ''Vejo hipócrita o apelo à paz quando provém de países que vêm da guerra''




Direitos nacionais e imperialismo
PátriaGrande - 060311_galeano [Tradução de Diário Liberdade] O escritor uruguaio Eduardo Galeano afirmou nesta sexta-feira, com respeito ao conflito líbio, que considera “hipócrita o apelo à paz quando provém de países que vêm da guerra”. O letrado também afirmou que o que se vive no mundo árabe é “uma bela chama de liberdade” e reiterou que a independência da América Latina é ainda “uma tarefa por fazer”.
Em entrevista exclusiva a teleSUR, o também jornalista indicou que não via convincente o “apelo à paz” que fizeram nos dias recentes os países membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), pois “esses países, que governam o mundo, não são somente partícipes de guerras, senão os maiores e principais produtores de armas”.
Neste mesmo sentido, indicou que o que está ocorrendo na Líbia e no Oriente Médio é “uma linda chama de liberdade” e ratificou que é “uma boa notícia para os que creem que não temos de nos resignar aos desígnios do destino”.
“Eu não a vejo como uma crise (do mundo árabe), vejo-a como uma linda chama de liberdade que se vai contagiando e estendendo, partiu pequenina, diminuta, tinha o tamanho de um vendedor de frutas que foi humilhado e a partir daí, estendeu-se até o que é agora”, assegurou desde Argentina.
Por outro lado, ao ser questionado sobre o contexto atual da América do Sul, o autor do livro As veias abertas da América Latina afirmou que “a independência é ainda uma tarefa por fazer” e agregou que a chave principal para alcançá-la é “aprender a sermos originais”.
Com esta afirmação, o autor rememorou o filósofo e educador venezuelano Simón Rodríguez, a quem citou complementando que “não somos livres porque não somos donos de nós mesmos”, criticando que América Latina “quer ser livre, mas não se arrisca a copiar a originalidade e o talento”.
“Para sermos de verdade independentes, temos de ser capazes de caminhar com nossas pernas, pensar com nossas próprias cabeças e sentir como nossos próprios corações”, sustentou.
Traduzido para Diário Liberdade por Gabriela Blanco

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