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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, junho 20, 2012

Kassab ignora idosos e deficientes e ataca camelôs

image_previewCerca de 100 vendedores ambulantes protestam desde ontem (18), na frente da prefeitura de São Paulo contra medida unilateral do prefeito Gilberto Kassab (PSD), que cancelou as permissões de trabalho para todos os camelôs da cidade. A proibição começa a valer amanhã (20). Os mais prejudicados são os trabalhadores idosos e portadores de deficiência.
Parte do grupo passou a noite no local. Além de reivindicar direito ao trabalho, já que todos atuavam respaldados por Termos de Permissão de Uso (TPUs), os manifestantes. afirmam que a maioria já pagou os impostos relativos ao uso do solo até dezembro. 
“Desde 1998 não são concedidas novas autorizações e agora  a prefeitura tenta nos exterminar, suspendendo o trabalho regulamentado”, afirma o superintendente da União Nacional dos Deficientes Físicos (UNDF), Adir Ribeiro. 
Apenas na região da Subprefeitura da Sé, 450 permissionários tiveram as autorizações suspensas. Segundo a UNDF, 300 deles são deficientes físicos e cerca de 90% têm mais de 60 anos. 
“Hoje estamos aqui para mostrar para a sociedade e para o prefeito quem são as pessoas que eles estão tirando o direito de trabalhar”, diz o vice-presidente do Sindicato dos Permissionários, Alcides Oliveira.
A Defensoria Pública do Estado de São Paulo conseguiu, no dia 4, uma liminar suspendendo o efeito do decreto assinado por Kassab - que dava 30 dias para que os camelôs tirassem  suas barracas das ruas. Mas a liminar foi suspensa no dia 11 pelo  desembargador Ivan Sartori e o prazo se encerra hoje (19). Os trabalhadores prometem permanecer acampados na frente da prefeitura durante todo o dia. Amanhã farão uma passeata pela região central. Nos próximos dias, uma nova liminar pedindo a suspensão do decreto será julgada por um colegiado do Tribunal de Justiça. 
“Eu tenho 77 anos, trabalho há 62 na rua. Tenho uma perna mecânica e nunca precisei pedir esmola. Será que agora, com o governo do Kassab,  eu vou ter que pedir?”, questiona Gabriel Pereira Mota, que vende artigos de vestuário. 
A prefeitura alega que as medidas visam melhorar a mobilidade de pedestres pelas calçadas e a paisagem da cidade. E oferece, como contrapartida aos camelôs, pontos em três shoppings populares, em construção, e duas mil vagas para deficientes físicos e pessoas com idade acima de 60 anos em feiras livres. Mas os trabalhadores não gostam da ideia. “Como uma pessoa sem as pernas ou cega, como a maioria aqui, vai conseguir montar e desmontar todos os dias a barraca em uma feira? A prefeitura só diz que vai fazer esses shoppings, mas ninguém nem sabe onde eles ficam”, questiona o presidente da União Nacional de Deficientes Físicos, José Nilo
“Eu já paguei até dezembro as taxas de uso do solo. Como eu fico agora?”, indaga Milton Matias, de 64 anos, que trabalha nas ruas há 22. Ele conta que acorda diariamente às 3h para começar sua jornada de trabalho. “Com esse trabalho eu criei minha filha. que fez faculdade e tudo. e agora estou investindo no meu neto. Estamos reivindicando o direito de sobreviver. A única coisa que queremos é nosso direito de trabalhar”, diz. 
*Ocarcará

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