Kassab ignora idosos e deficientes e ataca camelôs
Cerca
de 100 vendedores ambulantes protestam desde ontem (18), na frente da
prefeitura de São Paulo contra medida unilateral do prefeito Gilberto
Kassab (PSD), que cancelou as permissões de trabalho para todos os
camelôs da cidade. A proibição começa a valer amanhã (20). Os mais
prejudicados são os trabalhadores idosos e portadores de deficiência.
Parte do grupo passou a noite no local. Além de reivindicar direito ao
trabalho, já que todos atuavam respaldados por Termos de Permissão de
Uso (TPUs), os manifestantes. afirmam que a maioria já pagou os impostos
relativos ao uso do solo até dezembro.
“Desde 1998 não são concedidas novas autorizações e agora a
prefeitura tenta nos exterminar, suspendendo o trabalho regulamentado”, afirma o superintendente da União Nacional dos Deficientes Físicos (UNDF), Adir Ribeiro.
Apenas na região da Subprefeitura da Sé, 450 permissionários tiveram as
autorizações suspensas. Segundo a UNDF, 300 deles são deficientes
físicos e cerca de 90% têm mais de 60 anos.
“Hoje estamos aqui para mostrar para a sociedade e para o prefeito
quem são as pessoas que eles estão tirando o direito de trabalhar”, diz o vice-presidente do Sindicato dos Permissionários, Alcides Oliveira.
A Defensoria Pública do Estado de São Paulo conseguiu, no dia 4, uma
liminar suspendendo o efeito do decreto assinado por Kassab - que dava
30 dias para que os camelôs tirassem suas barracas das ruas. Mas a
liminar foi suspensa no dia 11 pelo desembargador Ivan Sartori e o
prazo se encerra hoje (19). Os trabalhadores prometem permanecer
acampados na frente da prefeitura durante todo o dia. Amanhã farão uma
passeata pela região central. Nos próximos dias, uma nova liminar
pedindo a suspensão do decreto será julgada por um colegiado do Tribunal
de Justiça.
“Eu tenho 77 anos, trabalho há 62 na rua. Tenho uma perna mecânica e
nunca precisei pedir esmola. Será que agora, com o governo do Kassab,
eu vou ter que pedir?”, questiona Gabriel Pereira Mota, que vende artigos de vestuário.
A prefeitura alega que as medidas visam melhorar a mobilidade de
pedestres pelas calçadas e a paisagem da cidade. E oferece, como
contrapartida aos camelôs, pontos em três shoppings populares, em
construção, e duas mil vagas para deficientes físicos e pessoas com
idade acima de 60 anos em feiras livres. Mas os trabalhadores não gostam
da ideia. “Como uma pessoa sem as pernas ou cega, como a maioria aqui,
vai conseguir montar e desmontar todos os dias a barraca em uma feira? A
prefeitura só diz que vai fazer esses shoppings, mas ninguém nem sabe
onde eles ficam”, questiona o presidente da União Nacional de
Deficientes Físicos, José Nilo
“Eu já paguei até dezembro as taxas de uso do solo. Como eu fico agora?”,
indaga Milton Matias, de 64 anos, que trabalha nas ruas há 22. Ele
conta que acorda diariamente às 3h para começar sua jornada de trabalho.
“Com esse trabalho eu criei minha filha. que fez faculdade e tudo. e
agora estou investindo no meu neto. Estamos reivindicando o direito de
sobreviver. A única coisa que queremos é nosso direito de trabalhar”, diz.
*Ocarcará
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