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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, julho 06, 2012


Chico Buarque e os documentos da ditadura


 por luisnassif,


Documentos liberados à consulta no Arquivo Nacional revelam como militares monitoravam compositor na ditadura
BRASÍLIA. Um dos alvos prediletos da Censura e nome de relevo na contestação à ditadura, Chico Buarque de Hollanda foi monitorado de perto pelos militares. Documentos dos órgãos de informação das Forças Armadas, só agora liberados para consulta pública, dimensionam o tamanho da perseguição: visitas de agentes nos shows, depoimentos forçados e canções censuradas.
Nos documentos oficiais, Chico aparece como um artista “endeusado”, subversivo e até como um representante da “esquerda festiva”.
Hoje guardados no Arquivo Nacional, os relatórios foram produzidos pelo Serviço Nacional de Informação (SNI) e outros órgãos de inteligência militares. Desde meados de junho, com a Lei de Acesso à Informação, eles estão disponíveis. Há centenas de citações a respeito de Chico Buarque.
No material, consta um depoimento de Chico, de fevereiro de 1978, no Centro de Segurança de Informação da Aeronáutica (Cisa). Ele foi chamado para se explicar sobre uma viagem que havia feito a Cuba naquele período. Disse que no Brasil não há liberdade, pois estava sendo “obrigado a prestar estas declarações em lugar de trabalhar”, que trabalhava cerca de dez horas por dia e que estava perdendo um tempo precioso indo à polícia. E, questionador, acrescentou não saber o que seus interrogadores produziam.
“A partir deste momento, o nominado (Chico Buarque) afirmou, com a voz alterada, que não responderia a mais nenhuma pergunta”, está relatado ao final do documento. Chico escreveu, à mão, no pé de seu depoimento: “Não vou responder mais nada”, e assinou. Escreveu também, do próprio punho, que “no dia 27 de fevereiro de 1978, nas dependências do DPPS, quando estava sendo ouvido, neguei-me a responder às perguntas que me eram formuladas”.
Nos relatórios do SNI, Chico é chamado de “militante” que está no “comando intelectual” de alguns shows daquele período e que toca e canta “Apesar de você”.
*Nina

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